Nasceu, a 30 de janeiro de 1867, o pernambucano Solidônio Ático Leite, na antiga vila sertaneja de Flôres. Deixando a terra natal, de clima quente, banhada pelo rio Pajeú, cujas águas descem da lagôa do Freire, no município de São José do Egito, fez, o jovem filho do sertão, no Ginásio Pernambucano, o curso de preparatórios, ingressando na Faculdade de Direito d Recife. E nessa famosa Escola, em 1982, aos 25 anos de idade, colou grau de bacharel, ao lado de Estácio Coimbra e Sérgio Loreto, ex-governadores de Pernambuco, de Pinto de Abreu, professor de português e poeta, de Geminiano de Franca, paraibano, que exerceu a chefia de polícia do Distrito Federal, no governo Epitácio, do brilhante jornalista Gibson e de Irineu Machado, que, na 1ª república, se tornou famoso, no parlamento, e na política.
Inclinado às letras literárias, e jornalista, publicou, no Recife, a esse tempo, o Tempos Acadêmicos, livro de recordações. Não seguiu, Solidônio, na vida pública, as estradas da magistratura. Dirigiu seus passos pelos caminhos da advocacia. Advogou, no Recife, e depois, informa um biógrafo, em São João Nepomuceno e em Juiz de Fora, em Minas, estabelecendo-se, mais tarde, no Rio de Janeiro, onde alcançou aplausos e vitórias, que lhe deram projeção destacada, no mundo forense, nos meios intelectuais, e nas letras jurídicas. Pertenceu, indicado pelo Instituto dos Advogados, narra Clóvis Monteiro, à comissão que, em 1901, emitiu parecer sobre o projeto do Código Civil.
As agitadas e renhidas questões, na advocacia, não lhe roubaram todo tempo. Deram-lhe horas amáveis de alegria, em que ele se entregou, com espirito beneditino, ao estudo profundo da língua portuguesa. O Clássicos Esquecidos, o Clássicos Portugueses e o A Língua portuguesa no Brasil são livros preciosos, que iluminam o nome de Solidônio Leite, na galeria dos mestres do vernáculo.
Rápida foi sua passagem pelas esferas políticas. Pernambuco o elegeu deputado federal, no governo de Sérgio Loreto. Entregou-lhe, a bancada, nessa época, o bastão de líder. Deixando a cadeira espinhosa do parlamento, regressou às arenas do fôro, onde luziram e reluziram, perto de quarenta anos, as armas de suas batalhas.
E retomando a pena, escreveu, Solidônio, Uma Figura do Império, em 1925, exaltando a figura admirável do monsenhor Joaquim Pinto de Campos, nascido na mesma terra de Flôres, político baronista, em 1843, e orador de fama no parlamento e no púlpito. E morreu, esse eminente pernambucano, aos 63 anos de idade, no Rio de Janeiro. A cidade de Flôres deve dar, a uma rua, ou uma praça, o nome de Solidônio Leite. A terra onde ele nasceu, ensinará, desse modo, às gerações de hoje, e da amanhã, o amor e o respeito à memória dos antepassados.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.