Na velha Desterro, de Santa Catarina, ao tempo da monarquia, e que é, hoje, a formosa e moça Florianópolis, na República, nasceu, no ano de 1834, Luiz Delfino dos Santos. Era menino, quando Alvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire, escreve um escritor baiano, andavam descuidado, em latitudes diferentes, na mesma quadra, risonha e alegre, da primeira infância. E, aos 17 anos e idade, ingressou, Luiz Delfino, na Faculdade de Medicina, no Rio de Janeiro, conquistando, em 1857, a carta de doutor. Coube-lhe a honra de dizer, aos mestres, e aos companheiros, no dia da colação de grau, palavras de reconhecimento, de fé, de alegria, e de saudade.
Diplomado, começou a vida áspera da clínica. Não morreu, felizmente no médico ilustrado, o famoso poeta brasileiro, para quem o coração de ritmo excelente, aritmico, era, sempre, “um pássaro que salta, que não repousa, que não dorme noite e dia”. Foi, na verdade, Luiz Delfino, um sonetista primoroso. Tinha, informa Heitor Moniz, no dizer de José Veríssimo, o “requinte da expressão”, e “vôos épicos”, no alto julgamento do mestre Coelho Neto.
Alheios às agitações políticas que procedera a apopéia da República, surgiu, Luiz delgado, empunhando o termômentro e a lira, ao lado de Antônio Justiniano Esteves Junior e de Raulino Hora, na cadeira de senador, por Santa Catarina, na Constituição de 1890. Assinou, narra um biógrafo, a Carta Magna em 24 de fevereiro de 91. E quando se extinguiu, ao fim de três anos, o mandato do povo, Luiz Delfino, indiferentes às lutas partidárias, regressou, de alma feliz e de coração em festa, ao consultório, e ao Parnaso, onde corre, e canta rumorejante, a eterna fonte de Castália.
Não quis pertencer, afirmam historiadores, o mavioso poeta do “Algas e Musgos”, o cantor do “Angustia do Infinito” e do “Atlante Esmagado”, à companhia amável dos 40 da Casa de Machado de Assis. Tinha horror à imortalidade, na terra. Contentava-se com a imortalidade verdadeira, no além-túmulo. Assistiu, tranquilo, na torre de marfim de seu lirismo, que enternece, à evolução natural das escolas literárias, e viveu encantado, com o andar do tempo, romântico e parnasiano, os encantos da vida, e as belezas do mundo.
E morreu velhinho, e sereno, aos 76 anos de idade, no dia 31 de janeiro de 1910. Adormeceu, nesse dia, no maravilhoso sono de todas as renuncias coberto de rosas vermelhas, o fulgurante cantor do “Rosas Negras”.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.