Foto ilustrativa – autor desconhecido.
Durante muito tempo observei o carnaval de Vitória sem se dar conta de tantos tipos e de personagens exóticos que participavam sem serem notados no meio da multidão. O homem da leiteira na cabeça (que partiu fora do combinado), o maluco catrevagem, que dizem não ter de maluco nada! Um senhor que dançava ao lado dos carros de propaganda, e o Raimundo do chicão, bloco que sai na sexta feira da paixão, que andava com uma placa durante o carnaval com os dizeres “Tô de cara” junto de seu filho de 4 a 5 anos com uma plaquinha dizendo “eu também”. Mizura vestido de borboleta, Geraldo Lima dentro de um pano se saco, Gêgo com um chuveiro ambulante. Tonho tripa com seu ônibus Emoções carregado de meninas de todas as zonas e aí se vai.
Mas, nesse momento queria falar de uma pessoa que tenho uma admiração diferenciada que é o senhor, meu avô, Zeca Peixe conhecido também como Pai Zeca. Este tinha uma oficina de solda para alambiques de cobre, trabalhava, se não me falha memória, para o engenho Pitú. Além de ser um consumidor assíduo da mesma. Soldadores desse tipo de coisa são pouquíssimos hoje em dia, e os cuidados coma visão eram pouco levados em conta e na velhice tornou-se quase cego. Mas o que me fez lembrar esse cara foi um boi de carnaval que ele comandava junto com outros amigos, o conhecido, na época “Boi Carrasco” o boi de Zeca Peixe. Certa vez o boi ficou se não me engano, um ano sem sair e no ano seguinte foi organizada uma saída para retornar as atividades do bloco. Pois bem. O tal Boi tinha ficado guardado na oficina de pai Zeca e uma casa de marimbondos se instalou dentro do boi. Sem que ninguém visse foram preparadas as fantasias para o desfile, tinha calua, morcego, ema, cavalo marinho, índios, caipora, que se escondia atrás da porta daquelas das casas de pessoas que a troça parava na frente para pedir ajuda em dinheiro ou em comida, tudo que um boi de carnaval devia possuir esse boi apresentava. Mas no dia da apresentação todos notaram que o boi era o mais animado do bloco. Saltava, pulava, gemia, corria de um lado para outro, até que a pessoa que estava debaixo da fantasia do boi soltou aquela coisa no chão e saiu gritando: marimbondo, marimbondo ai ai ai…. Que pena todos pensavam que era uma apresentação mais entusiasmada do boi, mas…
Outra vez, e essa é muito boa, deu uma peste de grilos na cidade de Vitória. As ruas e calçadas estavam tomadas de “multidões” de grilos, não existe um coletivo para esses insetos já que não andam em grandes grupos. Então a ideia genial de Pai Zeca foi convidar os amigos para uma cachaçada com um tira gosto especial. Catou pelas ruas uma boa panelada de grilos gordos e saudáveis e fez um cozido daqueles que se faz com camarão, bem temperado e de bom gosto. Bom, moral da história deu uma infecção urinária em quase todos inclusive no Zeca, o mentor da ideia que mijava abundantemente dias a fio. Ficou todo mundo grilado com aquilo por um bom tempo. Doutra vez havia uma pia onde os trabalhadores da oficina no final do dia faziam sua higiene manual, e sempre tinha no local uma barra de sabão daquelas bem grandes e do tipo de sabão malhado, feito cavalo de índio. Todos os dias Pai Zeca notava que a barra de sabão era gasta totalmente, o que era impossível já que o número de empregados não era grande. Depois de muito desconfiar ele colocou duas barras de sabão e no outro dia havia apenas meia barra e ainda roída por dentinhos de um rato que era freguês do delicioso sabão Zeca Peixe. Até que um dia meu avô colocou um pedaço bem pequeno e uma ratoeira bem grande e pegou o murino gordo feito uma porca. Moral da história: outra cachaçada com tira gosto especial, e essa sem consequências mais radicais. Outra vez foi uma jiboia que também se candidatou à tira gosto e foi a boia daquele dia.
O velho Zeca Peixe é lembrado no livro do Professor Aragão, que conta a história do boi Carrasco contando que saiam cantando loas e divertindo o carnaval tradicional da Vitória. Embora, sobre o Clube Taboquinhas, ele fala de lindos fados portugueses sendo cantados nas ruas da cidade. Isso é mentira, mas é da boa, pois é pelo bem da arte. Sem saudosismo, na próxima vez vou falar de outras personagens de Vitória que têm histórias curiosas e engraçadas pra se contar. Se é mito ou mentira não sei não…
Franklin Ferreira
Professor de Química