Arquivo da categoria: Fala, Vitória!
ANOITECERES – SOSÍGENES BITTENCOURT.
ANOITECE EM VITÓRIA. Anoiteço em Vitória. Sou figura noturnal, viajante do ocaso, sonhador como o crepúsculo vespertino, morto de saudade como o final. De olhos vendados, conheço o cheiro dos bairros, dos becos, do meio do mato de minha cidade natal. O cheiro de fumaça, de mingau, de chuva. Sou todo olfato e lembrança. Conheço os trejeitos do meu lugar, os cabelos perfumados, os enxerimentos, o flerte e o gozo. Minha cidade é todinha uma mulher. Chamar-se-ia Vitória das Marias, Maria das Vitórias, tal como é.
ANOITECE EM VITÓRIA. Anoiteço em Vitória. Saio para passear, impregnado dos prazeres noturnos, das eras do meu tempo, que me viciam e me saciam. Minha cidade muda todo dia, mas não muda o meu sentimento, o fascínio elaborado pela memória, como quem ama o que odeia e odeia o que ama, num jogo de perde e ganha.
ANOITECE EM VITÓRIA. Sobretudo, anoiteço em Vitória. Enlouqueço em Vitória. Porque ninguém entende o que em nós nem conseguimos explicar. Vitória, meu berço e minha tumba. Minha alma noctívaga vai enredando sua história. O acaso me espreita, a surpresa me seduz, sua bruma, sua luz. Alucinações e desejos, rimas em ‘ina’, adrenalina, serotonina, dopamina. Ah! Vitória, dos meus idos e vindas de menino, minha menina!
SOSÍGENES BITTENCOURT
PITACO ESPORTIVO – por Sosígenes Bittencourt.
Botafogo 5 x O Penarol. Se apagarem as luzes do estádio, o elenco do Botafogo ainda fará troca de passe pelo entrosamento. Portanto, é só enfronhar a camiseta da canarinha no escrete carioca.
Sosígenes Bittencourt
O TEMPLO E O TEMPO – por Sosígenes Bittencourt.
Dá a impressão de que é um dia de Domingo. A igreja está sozinha, imponente, erguida para o alto. Impossível contemplar o templo sem sentir o tempo.
Foi por trás desta Domus Dei que fiz o meu Curso Primário. Lembro-me até do meu corte de cabelo, camisa engomada e gravatinha pendurada no pescoço. A professora dava aula de tudo, até de boas maneiras. Qualquer erro era denunciado à genitora, qualquer desvio da cartilha moral era um pecado. Era proibido pensar nas tentações da carne por trás da Igreja.
Profa. Luzinete Macedo ensinava o verbo amar, com todo amor do fundo da alma. Era o mais regular dos verbos, o verbo dos verbos, o mais conjugado. Profa. Luzinete Macedo era bonita, bem fardada, impecável. Falava explicado, com ênfase, uma lição de ser humano. Saíamos com sua aula na epiderme, na respiração, embalados pelo seu tom, seu gosto. Cheirávamos as páginas do livro, passávamos a mão na pele das páginas.
Impossível contemplar este templo sem pensar no tempo, sem pensar na vida, no vulto iconográfico de Padre Pita. Impossível não pensar no destino, nos meus idos e vindas de menino. Meu corpo era maneiro, meu sangue fino, desengordurado, desintoxicado, a morte estava longe. Minha infância evolou-se por trás deste templo, para além dos coqueiros, na penumbra da Hora do Ângelus.
Ah! minha vida, nossas vidas, nossos templos, na correnteza fugaz do tempo. Lembra-me a palavra desesperada de Horácio, angustiado com a brevidade da vida: Eheu! fugaces labuntur anni! (Ai de nós! Os anos passam ligeiro!)
Transitório abraço!
Sosígenes Bittencourt
HOMENAGEM NA PIZZA GRILL – por Sosígenes Bittencourt.
Dentre mimos e afagos em homenagem ao Dia dos Professores, saborear um peixe grelhado, com montículo de arroz e purê emperiquitado, nada mais do agrado. A invenção do presente respalda-se na amizade entre Val, da Pizza Grill, e o agraciado. Garçonete montando guarda, à disposição, música de época e ar-condicionado.
Palmas e muito obrigado!
Sosígenes Bittencourt
DEPRESSÃO PASSA – por Sosígenes Bittencourt.
ELEIÇÃO DE MAYCO EM SOLIDÃO – por Sosígenes Bittencourt.
Em Solidão, no Sertão Pernambucano, o único e solitário candidato a prefeito foi, obviamente, eleito. Contudo, Mayco da Farmácia não esteve tão solitário, posto que contou com o apoio do então prefeito Djalma da Padaria e de Antônio do Bujão, cheio de gás e oração. Portanto, o escolhido, filho de Afogados da Ingazeira, Mayco da Farmácia, ganhar eleição, livre de toda conturbação e tédio, era um caso sem remédio.
Sosígenes Bittencourt
A MENTE E O CORAÇÃO – por Sosígenes Bittencourt
Se você sentir uma pontada no coração, preste atenção. Ele deve estar desapontado com o que você está pensando.
Pensar é muito rápido, por isso você deve parar para pensar no que está pensando.
O coração não ama, ele é o termômetro do amor. A mente é que ama. Ódio e inveja são lixos mentais, seja gari de suas emoções, higienizando sua mente.
Pense nisso e vá ser feliz. Infeliz do homem que trabalha, durante a semana, para ser feliz no domingo. Felicidade não tem hora marcada. Felicidade é agora.
Sosígenes Bittencourt
PENSANDO NA VIDA – por Sosígenes Bittencourt.
EU TIVE UMA NAMORADA EM CARUARU – por Sosígenes Bittencourt.
Na ARENA JB – por Sosígenes Bittencourt.
O homem é escravo do bom tratamento. Houvesse senzala, teria adormecido por lá.
Não foi o preço da despesa, foi o valor do tratamento, da homenagem improvisada, depois que cochicharam minha chegada.
Até a natureza foi cúmplice do luxo e beleza, inspirando com seu ar refrigerado, pra sugerir mais riqueza.
Belas e educadíssimas meninas, treinadas para despertar o apetite do cliente mais exigente.
Cupim Prensado, com Arroz ao Queijo, Batata Frita, Farofa e Caldo de Camarão, Bhrama Chopp ao alcance da mão.
O maitre, fruto de Pirituba, terminou por me oferecer espumejante coquetel de kiwi, confeccionado na gastronomia da casa.
Conjunto de Forró, executando cardápio musical, tipo pé de serra, xote, xaxado, e eu, chegado a xenhenhém.
Depois de recitar o meu nome, a cantora – canora que nem um passarinho – fugiu do palco e veio pousar a minha mesa, ruflando carinho.
Palmas e muito obrigado!
Sosígenes Bittencourt
DATENA x PLABLO MARÇAL ou BAIXARIA ELEITORAL – por Sosígenes Bittencourt.
ENGAIOLADOS POR DROGAR MACACOS – por Sosígenes Bittencourt.
Macacos me mordam se alguém já viu macaco triste. O homem manga do macaco, o macaco não manga do homem. Uma vez macaco, jamais homem, o homem é que virá lobisomem.
Contam que Charles Darwin não dizia que o homem veio do macaco, mas do mesmo animal que gerou a ambos. Portanto, não é o macaco que tem que pagar pelos distúrbios psicossomáticos dos humanos. Daí, a prisão dos enxeridos, que drogaram os animais, a despeito de acalmá-los, para negociá-los.
Macacos são animais dóceis e contentes, que despertam curiosidade e alegria aos humanos, não são perversos como os desumanos.
Sosígenes Bittencourt
MIMOSA PUDICA – por Sosígenes Bittencourt.
Há mulheres que podem ser comparadas a determinadas flores.
Aliás, toda mulher tem algo de flor, algo de espinho.
Por exemplo, quem não conhece uma mulher ultrassensível ou de sensibilidade muito aflorada? Daquelas que se perfumam, querendo ser uma flor, muito frescas e agradáveis, mas precisam ser mimadas.
Embora brotem em qualquer terreno amorosamente cultivado, ficam amuadas com facilidade. Sendo toda “não me toque”, recolhem-se aos aposentos, afundando-se no travesseiro, seu fiel conselheiro.
Pois bem, por causa de um sonho, nada melhor do que ofertar a mulher tão sensível esta bela Dormideira.
Sosígenes Bittencourt
7 DE SETEMBRO – por Sosígenes Bittencourt.
MINHA PRIMA SEMÍRAMIS – por Sosígenes Bittencourt.
Esta é minha prima Semíramis por volta dos 10 anos de idade. Era o tempo em fase de lapidação, o tempo artesão. A mim, não me parecia uma beleza brasileira; antes, uma escandinava, uma beleza setentrional, nórdica, talvez.
O meu tio Sócrates, familiarmente conhecido como Tuxa, tinha crises, justificadas, de ciúme. Daqui, pareço vislumbrar o seu sorriso de afirmação no limbo do horizonte eterno.
A beleza não é uma invenção humana, a beleza existe.
Sosígenes Bittencourt
BEM-VINDO, SETEMBRO! – por Sosígenes Bittencourt.
Abra as cortinas de Setembro, com esta colher de chá musical, para o tik tok do seu coração, dedilhado por Bia Villa-Chan, este mulheraço pernambucano instrumental, se amostrando na execução de uma lambadinha, para você ficar se lambendo de desejo.
Palmas e muito obrigado!
Sosígenes Bittencourt
SOLICITANDO GALINHA À CABIDELA – por Sosígenes Bittencourt.
Hoje, eu devo facilitar nossas vidas e estreitar nossos laços de amizade.
Quero experimentar a sua Galinha à Cabidela.
Sei que, de tão saborosa, ao término da ingestão, irei responder à indagação: – O senhor está satisfeito, ou ainda quer mais um pouquinho?
E eu, meio tímido e invocado: – É, madame, aceito. Ainda cabe dela – imitando o magistrado e cronista vitoriense, Dr. Aloísio de Melo Xavier.
Mande uma de 13 reais e umas ondas de macarrão com uma ilhota de purê sobrenadando. Quero navegar na gostosura do seu quitute.
Sosígenes Bittencourt
FALECIMENTO DE DONA INÊS BANDEIRA – por Sosígenes Bittencourt.
Professora Inês era amiga, das antigas, de minha geratriz, professora Damariz.
Assim como o seu filho, Dryton Bandeira, é meu amigo desde nossa mocidade.
Eis os motivos de minha manifestação pública de condolências pelo passamento de sua genitora.
A perda da mãe é uma dor insolidarizável, resumiu o escritor Carlos Heitor Cony. Não há multidão que nos console.
A vida é feita de tempo e daquilo que fazemos com o tempo que temos. Ademais, morreremos. Contudo, uma vez vivos no mundo, não tem mais jeito, o jeito que tem é viver.
Agora, Dona Inês, és detentora de um segredo só a ti revelado. Um dia, fostes como nós somos; um dia, seremos como tu és.
Até breve! Requiescat in pace!
Sosígenes Bittencourt
DOS CASAMENTOS HUMANO E DIVINO – por Sosígenes Bittencourt.
O Casamento cartorário é humano, o Casamento de amor recíproco é de Deus. É referente ao homem identificar o divino. Se você não consegue identificar o amor divino, cultive-o, arrimado à instrução do vate mineiro Carlos Drummond de Andrade: Amar se aprende amando. O amor não é um friozinho na barriga, uma flechada de Cupido, é reciprocidade, cotidiano. Outrossim, procure saber por que você não está sendo amado, consernente ao quanto não está amando.
Sosígenes Bittencourt