MINHA PRIMA SEMÍRAMIS – por Sosígenes Bittencourt.

Esta é minha prima Semíramis por volta dos 10 anos de idade. Era o tempo em fase de lapidação, o tempo artesão. A mim, não me parecia uma beleza brasileira; antes, uma escandinava, uma beleza setentrional, nórdica, talvez.

O meu tio Sócrates, familiarmente conhecido como Tuxa, tinha crises, justificadas, de ciúme. Daqui, pareço vislumbrar o seu sorriso de afirmação no limbo do horizonte eterno.

A beleza não é uma invenção humana, a beleza existe.

Sosígenes Bittencourt

SOLICITANDO GALINHA À CABIDELA – por Sosígenes Bittencourt.

Hoje, eu devo facilitar nossas vidas e estreitar nossos laços de amizade.
Quero experimentar a sua Galinha à Cabidela.
Sei que, de tão saborosa, ao término da ingestão, irei responder à indagação: – O senhor está satisfeito, ou ainda quer mais um pouquinho?
E eu, meio tímido e invocado: – É, madame, aceito. Ainda cabe dela – imitando o magistrado e cronista vitoriense, Dr. Aloísio de Melo Xavier.
Mande uma de 13 reais e umas ondas de macarrão com uma ilhota de purê sobrenadando. Quero navegar na gostosura do seu quitute.

Sosígenes Bittencourt

FALECIMENTO DE DONA INÊS BANDEIRA – por Sosígenes Bittencourt.


Professora Inês era amiga, das antigas, de minha geratriz, professora Damariz.

Assim como o seu filho, Dryton Bandeira, é meu amigo desde nossa mocidade.
Eis os motivos de minha manifestação pública de condolências pelo passamento de sua genitora.

A perda da mãe é uma dor insolidarizável, resumiu o escritor Carlos Heitor Cony. Não há multidão que nos console.

A vida é feita de tempo e daquilo que fazemos com o tempo que temos. Ademais, morreremos. Contudo, uma vez vivos no mundo, não tem mais jeito, o jeito que tem é viver.

Agora, Dona Inês, és detentora de um segredo só a ti revelado. Um dia, fostes como nós somos; um dia, seremos como tu és.
Até breve! Requiescat in pace!

Sosígenes Bittencourt

DOS CASAMENTOS HUMANO E DIVINO – por Sosígenes Bittencourt.

O Casamento cartorário é humano, o Casamento de amor recíproco é de Deus. É referente ao homem identificar o divino. Se você não consegue identificar o amor divino, cultive-o, arrimado à instrução do vate mineiro Carlos Drummond de Andrade: Amar se aprende amando. O amor não é um friozinho na barriga, uma flechada de Cupido, é reciprocidade, cotidiano. Outrossim, procure saber por que você não está sendo amado, consernente ao quanto não está amando.

Sosígenes Bittencourt

BEL. MÁRIO BEZERRA DA SILVA – por Sosígenes Bittencourt.

Isso foi no tempo de Coca-Cola à base de noz de cola, acondicionada em garrafa de vidro. Hoje, toma-se xarope gaseificado em ampola de alumínio. Mário Bezerra da Silva me deu uma aula, no primeiro andar, sobre Análise Sintática, que nunca mais esqueci a diferença entre Sujeito e Predicado. Não imito direitinho, com o livro de Português, de José Brasileiro Vilanova, nas mãos, em respeito à alma do insigne diretor.
Vi, muitas vezes, o povo sair da calçada para o bel. Mário Bezerra desfilar de queixo erguido, meio de bandinha, com os sapatos rigorosamente engraxados. O paletó conhecia o caminho, da Rua Horácio de Barros à Praça 3 de Agosto.
Mário era perfeccionista, gostava dos pontos nos “ii”, por isso, chegado a uns histerismos quando desobedeciam suas ordens. Contam que Mário só tinha um pulmão, mas quando dava um grito, as colunas do colégio estremeciam.
Não obstante, foi o sujeito que botou moral em colégio, no município. Depois dele, já soube de aluno que urinou, do primeiro andar para o pátio, que nem um Dionísio desvairado, e menino que deu rasteira e puxavante de cabelo em professora de Moral e Cívica.
Sosígenes Bittencourt

Cascatinha da Matriz – por Sosígenes Bittencourt.

(A Cascatinha da Matriz e Manoelzinho de Horácio)

Papai me contava e mamãe assevera que quem construiu essa praça, chamada Dom Luís de Brito, foi Horácio de Barros, pai de Manoelzinho Rangel. Depois, diz que Horácio de Barros não foi à inauguração da obra, porque estava acometido de Tifo. Assistiu ao evento, debruçado na janela de sua casa, na Rua Imperial, popularmente conhecida como Rua do Meio.

Era nessa Cascatinha que Manoelzinho de Horácio tomava cachaça com caramelo de menta, contava piada, soltava lorota e empulhava o mundo. Manoelzinho de Horácio partiu para a Eternidade aos 73 anos, já faz algum tempo. Ele contava que o médico que lhe tirou o baço e garantiu-lhe um ano de existência morreu primeiro.

Certa vez, Manoelzinho de Horácio me contou que fez um frio tão grande em Vitória de Santo Antão que o Leão Coroado, na frente da Estação Ferroviária, saiu do monumento e foi se esconder dentro de uma barbearia do outro lado da Praça. Manoelzinho de Horácio era jogador de futebol. Diz que, um dia, ele foi bater um pênalti, quando o adversário Tenente Índio o ameaçou: – Se fizer o gol, me apanha! Manoelzinho não teve dúvida, furou o gol e saiu correndo do estádio José da Costa, solto na buraqueira, pelo Dique afora.

Sosígenes Bittencourt

PARA O DIA DO ESCRITOR – por Sosigenes Bittencourt.

 


Escrever é um ato que se pratica sozinho, porém, jamais solitário.
Todo ato intelectual é povoado daquilo que povoa a vida, do mito mistério que povoa o mundo.
O escritor vive escrevendo.
O escritor morre escrevendo.
Até quando dorme, sonha escrevendo.
Um olho aberto e outro fechado,
uma folha de papel e uma caneta ao lado.
Assim, anda vivendo,
Assim, vive andando,
meio acordado, meio sonhando.

Sosigenes Bittencourt

ANIVERSÁRIO DO BLOG DO PILAKO, IDEIAS E COMES E BEBES – Sosígenes Bittencourt.

Há 11 anos
09/07/2013
Vitória de Santo Antão, PE

Trocar ideias é o melhor quitute para uma boa bebida. Tudo estava saboroso, mas nada mais prazeroso do que permutar conhecimentos. Ensinar, para mim, é uma forma e conviver. Estudar, para mim, é uma forma de conviver. Minha escola é o mundo. O saber não é nada, o saber não é tudo, imenso é o não-saber, misterioso é o desconhecido.

Sosígenes Bittencourt

 

ROBERVAL – O NERO DAS TABOCAS – por Sosígenes Bittencourt.

Eu, agora, acredito em reencarnação. Nero trocou Roma por Vitória de Santo Antão. O Nero, imperador romano, era doido varrido, mas não precisou ser castigado pelos humanos, ele próprio enfiou uma faca no pescoço e se matou. Já Roberval, não parece tão anormal; já transitou, a bordo de Camburão, rogando desculpas pela incineração, alegando amnésia transitória e garantindo que vai dar tudo certo. Como está tudo errado e ninguém acredita no incendiário, é mais fácil uma vítima querer incendiá-lo. Resta saber o que dirá o réu nos autos sobre o incêndio dos autos.

Sosígenes Bittencourt

BRASIL 1 x 1 COLÔMBIA – por Sosigenes Bittencourt.

Nada como um joguinho da Seleção Brasileira às vésperas de dormir, para animar pesadelo. Para começar, Vini Júnior deve estar com inveja de Neymar, que esquece de jogar, para aparecer.
No conjunto, a Seleção não é um time de futebol, é um bando de barata tonta em debandada. Parece time de várzea, escalado no dadinho. É futebol “desassociation”.
Agora, ser vaiado pela torcida colombiana é de irritar um monge budista, uma carmelita descalça.
Melhor mudar de paixão, para melhorar DA bola, termos mais juízo.
Embolado abraço!
Sosigenes Bittencourt

O PENSADOR – por Sosígenes Bittencourt.

De Vinicius de Moraes: Tenho os olhos cansados de olhar para o além.
De Luiz Caldas: Toda menina que enjoa da boneca é sinal que o amor já chegou no coração.
De Guillaume Guizot: Quando a Política penetra no recinto dos Tribunais, a Justiça retira-se por outra porta.
De Inácio de Loyola: Ora, como se tudo dependesse de Deus, e trabalha, como se tudo dependesse de ti.
De Pitigrilli: Nasce-se incendiário e acaba-se bombeiro.
Reflexivo abraço!

Sosígenes Bittencourt

 

SÃO JOÃO NO TEMPO DE EU MENINO – por Sosígenes Bittencourt.

Lembro-me do São João das ruas sem calçamento. O mundo parecia um terreiro só. As mulheres cruzavam as pernas, enfiavam as saias entre as coxas, para ralar o milho e o coco, enquanto os homens plantavam o machado nos toros de madeira para fazer as fogueiras. À tardinha, a panela virava uma lagoa de caldo amarelo onde fervia o maná das comezainas juninas. A meninada ensaiava o jeito de ser homem e mulher. De chapéu de palha, bigode a carvão e camisa quadriculada, era quando podíamos chegar mais perto das meninas sem levar carão nem experimentar a sensação de pecado. O coração se alegrava quando sonhávamos com a liberdade de adultos que teríamos um dia. Batia uma gostosíssima impressão de que estávamos bem próximos de fazer o que não podíamos fazer. Os ensaios de quadrilha relembravam a tristeza do último dia. Pois um ano durava uma eternidade, as horas eram calmas, podíamos acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Pamonha, canjica e pé de moleque eram tarefas de dona de casa prendada, de quem o marido se gabava. Tudo era simples e barato, ninguém enricava com a festa. A novidade era a radiola portátil, e os conjuntos eram pobres de tecnologia, mas os instrumentos ricos de som e harmonia, manuseados com habilidade e gosto, na execução do repertório da festa do milho. Quando São Pedro se ia, ficava um aroma de saudade na fumaça das derradeiras fogueiras e no espocar dos últimos fogos.

Sosígenes Bittencourt

BRASIL 3, JAPÃO 0, E O PITACO DE MAINHA – por Sosígenes Bittencourt.

(Há 11 anos – 16 de junho de 2013)

Quando terminou o jogo entre Brasil e Japão, minha genitora, que era enjicada com futebol, saiu-se com essa: – O Brasil joga amanhã com quem?
Aí, papai: – Com ninguém, menina, nenhum time joga dois dias em seguida.
Aí, mainha: – Então, amanhã, eu não vou para o fogão. Está tudo errado. Esses caras trabalham um dia na semana para ganhar uma fortuna, e eu trabalho todo dia sem remuneração?
Fotografia: Simônides Bittencourt, profa. Damariz e titia Ricardina

Sosígenes Bittencourt

CAFÉ FILOSÓFICO – por Sosígenes Bittencourt.

A poesia está na natureza, o poeta é que fuxica a beleza.
A poesia é o que o poema conta. Certa vez, andando pela varanda, eu vi duas meninas bonitinhas passando. Não eram meras meninas, era a poesia passando, o que me fez fuxicar, varandando.

VARANDANDO
Da varanda, vejo duas meninas bonitinhas passando. De tão bonitinhas, nem parecem passar, fica sempre alguma coisa bonitinha no ar.

Sosígenes Bittencourt

RESENHA ESPORTIVA – por Sosígenes Bittencourt.


O Sport não é um time de futebol, é um bando de jogadores. O elenco é bom, caro, mas não produz o esperado. Não tem esquema tático definido, cada um corre para um lado, tresloucadamente. Talvez, seja Mariano Soso que esteja com o prazo de validade vencido, caso sem remédio. Se não arrumar o plantel, não irá escapar insosso.

Sosígenes Bittencourt