Momento Cultural: A ILUSÃO – por José Miranda.

Para vivermos nós contentes pela vida
sem essa mágoa que tortura tanto a gente
da culpa de Eva no Édem, um dia nascia.
O Senhor deu-nos a ilusão constantemente.

Quanto seria: a alma por tudo entristecida
e o coração ensimesmado e até doente
se a ilusão fosse deste pélago banida
se não houvesse, não o sonho doce e ingente!

De assalto sem se esperar conta do destino
a ilusão toma para nos dar prazer na dor
para nos fazer o espiamento pequenino.

Da nau de crença a vela enfuna com vigor
e fortifica quando sofre, o coração:
toda beleza está da vida na ilusão.

José Tiago de Miranda, vitoriense, nascido a 9 de junho de 1891 e faleceu a 29 de maio de 1960. Foi professor primário na Vitória, em Moreno e em Limoeiro, exercendo, em todas as cidades, o jornalismo. Foi proprietário e diretor de O LIDADOR a partir de 1932 até sua morte. Cronista, poeta e jornalista de alto valor. Seus filhos (Ceres, Péricles e Lígia) reúnem em volume muitas de suas crônicas e poesias, em livro “Antologia em Prosa e Verso”, comemorando o centenário de seu nascimento, aos 9 de junho de 1991. Do casamento, com D. Herundina Cavalcanti de Miranda, houve ainda um filho, Homero, falecido logo após a morte do Prof. Miranda.

Momento Cultural: Trindade Santa – por Corina de Holanda.

Já havia a Santíssima Trindade:
O Pai, O Filho, O Espírito Divino,
Formando desde toda a Eternidade
O triângulo augusto de um destino.

Na terra, a sofredora Humanidade,
Aguardava um milagre genuíno:
De uma virgem, viria o Deus Menino
Sem poluir o sol da virgindade.

No desconforto de uma estrebaria,
Um modesto casal – José – Maria
Espera a Hora que as demais suplanta.

Eis que surge uma estrela, anunciando
O nascimento de Jesus, formando
Com eles, na terra, uma Trindade Santa.

1969

(Entre o céu e a Terra – 1972 – Corina de Holanda – pág. 34).

Momento Cultural: A Alvorada – POR GUSTAVO FERRER CARNEIRO.

O sol se descortinava na praia
Brilhando em meus olhos
Caminho só
Ar imóvel, quente
Vento assobiando ardente
Com o som da minha respiração
Um monte de pensamentos
Um toque agudo sibilante
Suspirando com prazer
O nascer de um novo dia
Uma alvorada arredia
De momentos de introspecção

Um aroma gostoso de terra molhada
Ou maresia,
Um delicada lua ornamentando o amanhecer
Em uma fantasmagórica poesia,
Plenitude
O vento zunindo
Um sentimento de dignidade
Uma visão do encanto
Insondável graça no rosto
No perplexo momento
Da percepção da vida.

O que ele diz
estará dentro do seu peito
Todo tempo
Para sempre…

Seja longe, seja perto
Não sabemos o exato, o correto
Para tudo tem um tempo

Mas quando será esse tempo certo?

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 14).

Momento Cultural: APRENDIZ DE MIM – por Valdinete Moura.

Este é meu mundo encantado
no qual você também pode entrar.

Então meu mundo passa a ser nosso.

E, levados pela imaginação poderemos ir
a qualquer lugar
dentro ou fora de nós.
Não conhecemos limites.

Porque Eu sou Eu e
Você seja lá quem for é a
Pessoa mais importante do Mundo
porque é com você que estou agora.

Valdinete Moura – poetisa e escritora. 

Momento Cultural: Minhas Lágrimas – por Stephem Beltrão.

Minhas lágrimas
São lágrimas de viúva
Lágrimas de brasileiro.

Minhas lágrimas são escondidas
Vagarosas, preguiçosas
Tímidas, contidas, caprichosas
São lágrimas de pobre.

Minhas lágrimas
São como as águas da chuva
Que só são notadas
Quando invadem as ruas
São lágrimas verdadeiras
Lágrimas fora de hora
Fora da lei
Lágrimas fora de moda.

Stephem Beltrão

Memórias de um Pierrô – por João do Livramento.

Naquele ano meu carnaval

Que maravilha foi tão especial!

Em minha dama

Quanta beleza

Tua nobreza

Em minha mesa

Eu degustei

Teu banquete imperial

Teus sabores

Sem ardores

Tão natural

Naquele ano meu carnaval

Que maravilha teu corpo escultural!

No carnaval

Você tinha a realeza

Mas preferiu

Abraçar minha pobreza

Minha folia Te encantou

E você beijou eu pierrô

Se foi magia minha folia

Tua beleza me contagia

Naquele ano meu carnaval

Que maravilha foi sem igual!

Se esse ano quiser brincar

Tu sabes onde me encontrar!

E mais esse ano meu carnaval

Que maravilha vai ser sensacional!

 

João do Livramento.

Momento Cultural: PARABÉNS AOS PEDREIROS – por Severina Moura.

Aos pedreiros construtores do progresso
Que debaixo de sol e chuvas vão
Ao trabalho da obra do universo
Para ganhar cada dia o seu pão
Pão dos filhos, da esposa, da família
Que alegres o recebem em união.

Suas mãos calejadas pela pá
Construindo ângulos e paralelas
Dos esquadros as perpendiculares
Retas, curvas e inclinadas.
Dos transferidores sem mazelas.
Calculando volumes matemáticos
Das portas, áreas e janelas.

Esses homens que nem sabem quanto valem
Seus serviços, se bem feitos valem ouro
Se uma aresta não for bem construída
É um desastre, no final um desadoro
E o dono da obra sai perdendo,
Dinheiro, sossego e decoro.

Parabéns a vocês, caros pedreiros,
Que para o dono fazem essa construção
Se orgulhem de tudo o que fazem
Com dosagem certa, e com paixão
Quem ama o que faz, não se arrepende
Porque Deus lhe dá sempre proteção.

Profª Severina Andrade de Moura, nasceu em Vitória de Santo Antão. Foram seus pais: José Elias dos Santos e Doralice Andrade dos Santos. Viúva de Severino Gonçalves de Moura, com quem se casou em 1962. Fez o curso Pedagógico no Colégio N. S. da Graça. Lecionou em Glória do Goitá e Carpina. Concluiu Licenciatura Plena em Letras em Caruaru (1976). Pós-graduação em Língua Portuguesa na Univ. Católica (1982). Ensinou em várias escolas estaduais e municipais na Vitória e ensina atualmente na Escola Agrotécnica e na Faculdade de Formação da Vitória de Santo Antão. Poetisa por vocação. Colabora na imprensa local.

Introjeção de norma e castigo – por Sosígenes Bittencourt.

Antigamente, a juíza da infância e da adolescência era a mãe. Isso foi no tempo da palmatória. Escreveu, não leu, o pau comeu. Embora ninguém questionasse o valor da chinelada na educação doméstica, não me lembro de criança castigada com injeção letal.

A criança precisa entender que está sendo castigada porque descumpriu normas que precisam ser introjetadas, regras que precisam ser aprendidas, não por irritação, autoritarismo ou abuso da força paterna. Ninguém bate em criança por amor à criança, bate com raiva da criança. Ninguém mata um estuprador por amor ao estuprado, mas por ódio do estuprador.

Introjetamos normas com medo do castigo, mas isso não credita a todo castigo a melhor forma de promover a introjeção da norma.

A criança precisa entender o motivo pelo qual está sendo castigada, não pode concluir que está sendo castigada pelo ódio dos pais, pelo capricho dos pais, pela força maior dos pais. Isto seria como treiná-las para odiar.

Sosígenes Bittencourt

Momento Cultural: O HOMEM E A NATUREZA – por MELCHISEDEC

A ingratidão é condição própria do ser humano, ele raramente reconhece os benefícios recebidos.

A Natureza supre o homem de tudo que é necessário para se manter vivo, entretanto, existem seres humanos que recebem todas as dádivas e são incapazes de agradecer.

A Natureza oferece sem paga, cereais, frutas, vegetais, leite, ovos, açúcar, calor, frio, luz, chuva, sol, água e ar, necessários à vida. Sem ela não haveria luz, calor, frio, chuva, sol e brisa.

Infelizmente o ser humano esquece que a vida é um ato de doação e recepção. O ato de dar implica necessariamente no de receber, porque é dando que se recebe.

O homem envolvido cada vez mais na existência material esqueceu os propósitos da Criação, convertendo-se em ladrão das dádivas da Natureza, por isso, tornou-se transgressor das leis naturais e responsáveis pelos seus atos.

Para se redimir de suas faltas é necessário que procure, na medida do possível, tentar mudar nas criaturas e em si próprio a mentalidade retrógrada, sempre voltada para o mal, procurando o caminho da iluminação, construindo a paz e o bem estar comum, no seio da sociedade.

(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – pág. 77).

Momento Cultural: NOTURNO DA PRAIA DOS MILAGRES – por José Tavares de Miranda.

Esses navios, que passam na noite,
são navios perdidos no além
são navios de piratas, marinheiro,
doudas fragatas que vão e que vêm.

São navios a vela
Bergantins, Brigues, Caravelas,
velozes, breves, fugazes,
perdidos para sempre sem roteiro.

Todos passam na amplidão do mar,
nessa noite escura de pressentimentos,
francamente alumiada por velhos candeeis.

Lá vão os piratas heroicos,
os que mancharam de sangue as águas com seus alfanjes,
os loucos comandantes abandonados, sem remissão,
alucinados no meio das águas,
nessa noite de incrível escuridão,
a procura de marujos naufragados
noutras noites de abandono, sem perdão,
pedindo à Mãe dos Navegantes
o encontro de saudosos irmãos.
Esses navios que passam, marinheiro,
são navios perdidos na além;
são navios de esquecidos guerreiros
que procuram, que buscam alguém.

(em TAMPA DE CANASTRA)

José Tavares de Miranda, vitoriense nascido a 16 de novembro de 1919, filho do Prof. André Tavares de Miranda. Fez os primeiros estudos na Vitória, sob os cuidados do seu genitor, e transferiu-se para o Recife, onde teve grande atuação na imprensa. Mudando-se para São Paulo, ali concluiu o seu curso de Direito (iniciado na Faculdade de Direito do Recife) na Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, em 1939. Escritor, jornalista e poeta. Teve vários livros publicados inclusive de poesias, sendo estes últimos reunidos em um só volume: TAMPA DE CANASTRA. Faleceu em São Paulo (Capital) a 20 de agosto de 1992.

Momento Cultural: Ser Filha de Maria – por Corina de Holanda.

Ser “Filha de Maria” é ser na terra,
Quase aquilo que os anjos são no céu;
Viver do amor que só pureza encerra
Contemplando a Jesus quase sem véu…

Ser d’Ele irmã, viver ao lado seu
Na intimidade que o pavor desterra;
Dizer: Meu bom Jesus, sois todo meu!
Ao pecado eu declaro guerra.

É possuir dos títulos o mais belo.
É ter, num traço azul, puro e singelo,
Fonte perene de eternal poesia…

Ser “Filha de Maria”, é tanta cousa
Sublime, tanta, que dizer não ousa,
Por ser bem pobre a minha fantasia.

(Entre o céu e a Terra – 1972 – Corina de Holanda – pág. 37).

Momento Cultural: FRAQUEZA por ADJANE COSTA DUTRA.

Oh! Senhor, como eu preciso do carinho que está

sumindo como um relâmpago.

Qual é Senhor o fantasma que me persegue e não vejo?

Porém os Teus olhos são a amplidão dos meus dias,

o fortalecimento da minh’alma.

Ao amanhecer estou eu a afagar as minhas dores no soluço

da manhã.

Ao entardecer estou eu aos alpes andinos escalando montanhas

com o canto de uma gaivota perdida…

Ao anoitecer estou eu vestida de branco como fantasma da luz.

Meu sono é o fugir da realidade à procura de um mundo forte e bom.

Minha fraqueza são como as linhas que entrelaçam meu sorriso no

fundo do poço.

Meu ser é como uma sombra que se perde ao amanhecer…

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – 1995 – pág. 28).

MOMENTO CULTURAL: Terceiro Ser – por Henrique de Holanda

Eu, que me quis bem contigo,
Tu, que te quiseste bem comigo…
Tu…
Eu…
Esses dois seres que se foram
vida a dentro,
passo a passo,
ânsia a ânsia,
hora a hora,
onde é que estão?
onde nos encontramos?!
em qual espaço?
em que distância
agora?!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Passaram as folhas,
passaram as réstias,
as sombras passaram…
…e passamos, também!
Mas, como as hastes que se renovaram,
também nos renovamos…
à miragem mais calma,
às mais encantadoras florações.

Somos um sangue só; uma só alma;
fundimos, num, os nossos corações;
estamos UM!…
Um todo em tudo,
neste terceiro ser, que contemplamos!…
Nele nos encontramos, mais que dois,
mais que vivos,
mais que nós…
Nele nos ajustamos.
Nele, as glórias possíveis são sentidas
e é onde embaralhamos,
indivisivelmente,
eternamente,
quase divinamente,
as nossas vidas.

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 2 e 3)

Momento Cultural: SAUDADE APAIXONANTE – por Heitor Luiz Carneiro Acioli

Que tempo bom foi o que passou quando estava sempre ao seu lado você ao meu. Quando éramos unidos até o fim da nossa chama de amor, a qual nem após nossa morte se apagaria. Mas, isso só até aquele 15 de março, quando discutimos e terminamos. Entretanto, minha querida, nunca me esqueci de você nem dos maravilhosos momentos que passamos juntos e é por isso que quanto mais saudade eu sinto mais a quero e para você, este texto escrevi devido a saudade apaixonante.

(Meu Jeito – em Versos e Prosas – Heitor Luiz Carneiro Acioli – pág. 01

Momento Cultural: Gás – por Stepham Beltrão

Você chegou de mansinho

Com a calma de patrulheira

Com afeto e amor conquistou

Meu coração.

Tranquilamente você se achou

Uma verdadeira astronauta

Leu minha mão como se ela

Fosse uma carta náutica.

Agora quando penso em você

Minha boca fica doce

Meu espírito pede paz

Meu corpo pega fogo

Minha alma vira gás.

Stepham Beltrão

Momento Cultural: IMAGENS EFLÚVICAS – por ADJANE COSTA DUTRA.

O vento balouça sã nas imagens espectrais…

E de um ponto magistral, afliguram-se as imagens:

eflúvicas e labirintais.

Projeto-me nas figuras obtusas das linhas espectrais.

Avultam-se na sinonímia: os espectros balouçadamente sãos…

Magistralmente reflexiono-me nas imagens…

Cosmologicamente projeto-me nas imagens espectrais

cosmométricas.

Balouçadamente o vento sopra nas imagens figuradas de um

ponto espectral, do espelho, do tempo.

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – 1995 – pág. 26).