Cidadão Vitoriense (Antonense) – o meu discurso…..

Por ocasião do recebimento do nosso Título de Cidadão Vitoriense (Antonense), concedido pela Câmara de Vereadores da Vitória, indicado pelo vereador Doutor Saulo Albuquerque, abaixo, segue, na íntegra, nosso discurso. 

Na qualidade de pesquisador, especialmente  pesquisador da história local, faço questão de contextualizar esse momento.

Mas antes, gostaria de agradecer à Câmara de Vereadores pela honraria, em votação unânime do conjunto desta legislatura, e em especial ao vereador e amigo Saulo Albuquerque pela iniciativa da proposta,  hoje, aqui,  materializada em Sessão Solene.

Ao término deste ato cívico, sairei por aquela porta mais forte, para seguir  caminhando na mesma trilha, na mesma direção, só que agora de “papel passado”, devidamente formalizado, tal qual o destemido conterrâneo, Pedro Ribeiro da Silva, quando,  em 1710, marchou  na direção do  litoral para escrever seu nome,  com letras garrafais,   na Guerra dos Mascates.

Esse,  é o sentimento reinante.

Continuar construindo  e edificando o que existe de mais sublime à relação que liga o sujeito ao local que vive, até porque, como está escrito na página principal do meu blog, desde o inicio do seu funcionamento há mais de 13 anos:   “O Centro do Meu Mundo é a Minha Cidade”.

Pois bem, e  o que significa contexto,  esse termo tão importante para a ciência que estuda a história?

Contexto, entre outras definições,  é a inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação.

Neste caso em tela, primeiro,  vamos ao fato:

O fato casual que desencadeou esse momento solene,  neste Poder Legislativo,  não tem muita distância temporal. Ocorreu há pouco mais de meia dúzia de meses,  no Pátio da Matriz, em um  encontro ordinário entre membros do grupo que autointitulou-se  “Missão Cultural”.

“Do nada”, como diz os mais jovens,  surgiu um papo, que nem lembro exatamente como começou, quando,  da parte do amigo Paulo Lima, saltou uma frase em minha direção,  que  terminava com um  misto de  exclamação e interrogação: “quer dizer que você não nasceu em Vitória….?”

Sem pestanejar, o mesmo arrematou:  “daria  um bom título de cidadão vitoriense……”

Em rápidas palavras, na ocasião exposta, expliquei as condições e os motivos pelos quais nós –  meus irmãos e eu – não nascemos em terras antonenses.

Eis que,  tempos depois, numa manhã qualquer,  telefonou-me  o amigo e parlamentar desta “Casa do Povo”, Doutor Saulo Albuquerque,  perguntando se eu estava em meu escritório. Com minha afirmativa, em ato contínuo, com toda educação que exala da sua essência, tornou-me a perguntar   se naquele momento ele   poderia ir ao meu encontro. Sem pestanejar, disse sim!

Logo em seguida, em  uma clássica visita de médico cirurgião – objetiva e rápida -,  sem rodeios e delongas, após os cumprimentos protocolares, foi direto ao ponto: você  aceitaria ser condecorado com um título de cidadão vitoriense?

Por dois motivos primários, não poderia eu, de maneira alguma, negar  essa  honrosa condecoração, mesmo achando, em silêncio,  naquele momento,  que a mesma poderia gerar-me  uma espécie de “cidadania ao quadrado”.

Antes do doutor Saulo concluir sua indagação, com relação à minha permissão,  para seguir com os protocolos  necessários  neste parlamento, lembrei da satisfação do nobre doutor, por ocasião do recebimento do seu título de cidadão antonense, quando reuniu, em ato festivo,  realizado no Clube Abanadores “ O Leão”, além de familiares e amigos, os “gregos e troianos” do mundo político contemporâneo,  da terra desbrava pelo português Diogo de Braga.

Como disse, dois motivos primários não davam-me o direito de negar  tal honraria.

O primeiro,  por se tratar do Doutor Saulo,  uma pessoa com a qual sempre tive a melhor das relações.

O segundo,  por ser algo muito importante para qualquer pessoa, sobretudo para os que conhecem a gênese, os efeitos e os desdobramentos  dessa verdadeira celebração,  no sentido da  inclusão cívica.

Pois bem, e aqui estou nesta tribuna,  vivenciando o tempo presente desse  momento único.

Contudo,  não  posso  deixar de lembrar que a minha mãe, Anita Garilbaldi  Melo de Vasconcelos Barros, que também foi condecorada com um título de Cidadã Vitoriense, no início da década de 90.

O referido título para “Dona” Anita, minha mãe, fora uma indicação do então vereador José Luís Ferrer que, com sua esposa, Lêda,  também participavam  do Lions Clube das Tabocas,  juntamente com meus pais. .

Dona Anita não gostava da exposição da vida em sociedade. Nunca gostou de badalações e não carregava em si a chama acesa da fogueira das vaidades.

Aliás, por coincidência, vale lembrar, presenciei o momento em que o portador da Câmara chegou a nossa residência  para entregar a correspondência,  dando conta da aprovação do já mencionado  título.

Detalhe: diferente de mim, ela não havia sido consultada com antecedência. Tudo resolvido e combinado entre o referido parlamentar e o meu pai, “Seu” Zito Mariano.

Ao abrir a correspondência, ela não gostou do conteúdo. Deu brabo: disse que não iria receber coisa alguma.  Que não havia feito nada para merecer  aquele título.

 Semanas se passaram e, como dizia meu pai, ela  amansou.

Agradeceu a Zé Luís, participou da solenidade, leu um bonito discurso e ainda contou com a presença de todas suas irmãs, que vieram do Recife para prestigiar aquele auspicioso  momento,  inclusive, uma delas, Adir,  muito doente, já em fase terminal.

Essas seriam, portanto, as primeiras considerações que gostaria de compartilhar com todos vocês.

Em ato contínuo, doravante,  por conta deste título, terei que responder  a um sem número de pessoas a seguinte pergunta: e tu num nascesse em Vitória não foi?

Não esqueçamos que para uma boa resposta,  sempre que  possível, precisamos contextualizar os acontecimentos.

Nesse caso, faz-se  necessário buscar nossas  origens familiares para um completo esclarecimento sobre a minha relação com Vitória de Santo Antão.

 Aliás, permitam-me:

Não vou perder essa  oportunidades para uma  rápida introdução à história do nosso torrão.

Por ocasião da sua fundação, em 1626,  chamada de  “Cidade de Braga”,  depois “Povoado de Santo Antão da Mata”, mais adiante,  Freguesia de Santo Antão, Vila de Santo Antão, Cidade da Vitória e, só a partir de 1º de janeiro de 1944, Vitória de Santo Antão, ou seja: só há pouco mais de 80 anos é que ostentamos o nome atual – Vitória de Santo Antão.

Explicando, então,  nossas origens familiares:

Por parte de pai, precisamos ir até à localidade do Caricé, atualmente já  bem urbanizada.  Na segunda metade do século XIX, viveu, lá,  o casal José Mariano da Silva e Francisca Isabel de Barros. Que foram os pais do meu avô paterno, José Mariano de Barros, “Seu” Zezé Mariano. Que foi casado com Laura de Lemos Vasconcelos que teve sua  origem familiar nas terras do Engenho São Francisco.

Zezé e Laura,  pai e mãe, respectivamente do meu pai, José de Vasconcelos Barros ( Zito Mariano).

Papai  nasceu no dia 25 de junho de  1928, exatamente numa das casas que circunda a atual Praça Severino Ferrer de Moraes, localizada no bairro da Matriz.

Na nossa ancestralidade  materna, temos origens plantadas  lá no Engenho Arandú, do meu trisavô, Coronel Manuel Carneiro de Freitas, pai e sogro, respectivamente, dos meus bisavós, Maria José e Antônio, que se uniram em um amor proibido numa noite enluarada do mês de abril de 1880.

Desse matrimonio, inicialmente proibido,  entre Antônio e Maria José, nasceram três filhos. O caçula deles, veio ao mundo exatamente  no dia 23 de março de 1895, em um prédio que servia de comércio e moradia para a  família, na Antiga Rua José Leite, número 02, na localidade que hoje conhecemos como Cabanga.

O meu avô materno,  ganhou projeção  na nossa cidade e fora dela, como Doutor Célio Meira.  Ele foi casado  com  a minha avó materna,  Alzira Valois, filha de tradicional família antonense, que contraíram matrimônio em 20 de janeiro de 1919.

Dessa união, 1 filho e 8 filhas (uma de criação). Dentre as  quais, minha mãe, Anita Garibaldi Melo de Oliveira Valois que nasceu na cidade do Recife, em 03 de junho de 1932.

José de Vasconcelos Barros, Zito Mariano e Anita Garibaldi, começaram a namora num baile  de carnaval, no Clube “ O Leão” e após 5 anos de namoro e 5 de noivado, se casaram num sábado, 21 de maio de 1955, na Igreja Matriz da Boa Vista, na cidade do Recife.

Dessa união matrimonial, nasceram 11 filhos:

Pela ordem: José, Josenita, Célio, Geraldo, José Mariano, Lauro,  Eliane, Luciana, Alzira, Laura e Cristiano, esse que vos fala. Dos 11 filhos, 8 estão vivos.

Precisamos, mais uma vez, contextualizar, essa narrativa. Isto é:

Os  motivos  pelos  quais, nossos pais, com raízes familiares profundas na Vitória de Santo Antão, como vimos anteriormente,  tomaram a difícil decisão de não terem seus filhos nascendo no solo mãe.

Por ocasião do nascimento do primogênito, José, que foi o primeiro e único filho a nascer na residência da família, à época, localizada à Rua Horácio de Barros, no 113, exatamente no dia 25 de março de 1956, num sábado que antecedia à celebração católica do  Domingo de Ramos, um fato trágico marcou e  mudaria, definitivamente, a história  da vida familiar, do casal Zito e Anita.

Ele, o nosso irmão, José, fora sepultado no dia seguinte ao seu nascimento. Dois motivos, supostamente,  teriam motivado sua prematura  morte:

O primeiro, teria sido  uma queda, sofrido por minha mãe,  dias antes do parto.

O segundo, a não assistência adequada da parteira que foi obrigada  a se  dividir  entre dois partos,  simultâneos,  em endereços diferentes: O de  Mamãe e o da professora Inês Bandeira.

Traumatizado e assustado, logo no nascimento do primeiro filho, o casal,  Zito e Anita, juntos, decidiram que o nascimento dos próximos filhos aconteceriam  na cidade do Recife.

Esse trágico acontecimento familiar e os seus desdobramentos, portando, foram  os motivos  pelos  quais, meus irmãos e eu, não nascemos em Vitória:  somos todos recifenses de nascimento.

Eu, o mais novo de todos,  assim como a maioria dos meus irmãos, nasci no coração da Cidade do Recife, numa  maternidade, localizada na Avenida Conde da Boa Vista.

Nascido em 26 de dezembro de 1967, desde os tempos da tenra idade, habitei o universo da Vitória de Santo Antão,  de fisionomia cinzenta, com muitas ruas  centrais ainda de chão batido e pouco iluminada, mesmo no entorno da Igreja Matriz de Santo Antão.  Meu universo inicial foi a Avenida Silva Jardim se prolongando, mais adiante, ao Pátio da Matriz.

Meu mundo consumidor de criança se limitava a dois pontos comerciais: a venda de Luizinho e à Lojinha de “Seu” Pedro. Ambos numa circunscrição territorial num raio de 100 metros  de distância da casa de número 209, da Avenida Silva Jardim.

Com minhas irmãs e um conjunto de vizinhos,  de  idade semelhante, escalamos todos os galhos das árvores dos nossos quintais. Sou de um tempo, muitos aqui lembram bem, das brincadeiras coletivas e  presenciais.

Invariavelmente, após o jantar, o nosso playground se materializava na hoje movimentada e frenética,  Avenida Silva Jardim. Detalhe:   sem sermos incomodados pelo vai e vem dos  carros. Motocicleta, naquela época, bem diferente de hoje, era assemelhado a um bicho de 7 cabeças.

Em compensação, naquele tempo, assistíamos com certa frequência,  as “touradas da Espanha” em plena via pública, quando um “boi brabo”, prevendo sua hora derradeira,  teimava em não seguir obedecendo aos seus algozes, no caminho para o matadouro local.

Tive o privilégio de ocupar  a Praça Dom Luiz de Brito, naquele tempo ainda de chão batido,  como espaço  para a hora do recreio, uma vez que os meus primeiros contatos com  as letras ocorreram  na Escola da Professora Regina – prédio vizinho ao Clube Leão.

Após a Primeira Eucaristia, ocorrida na Matriz de Santo Antão, no dia 09 de novembro de 1976, sob a liderança do sempre respeitado Padre Renato da Cunha Cavalcanti, na qualidade de aluno, também ocupei, por mais de uma vez, o palco do auditório do Colégio Nossa Senhora das Graças para as sempre prestigiadas apresentações festivas, principalmente, do dia das mães.

No Colégio Municipal 3 de Agosto, além de estudante por vários anos, fui atleta campeão de handebol,  quando ainda pertencia à categoria dos que possuíam  menos de uma dúzia de anos.

Subir e descer o nosso tradicional trepa bode e remendar, às escondidas,  os trejeitos do sempre temido Doutor Mário Bezerra eram as grandes transgressões comportamentais daquele recorte temporal.

De posse da primeira bicicleta, de marca Caloi, na cor vermelha e de ano 1979, os horizontes territoriais, locais,  para exploração foram demasiadamente  dilatados.

Não irei, evidentemente, revirar os arquivos de criança que estão guardados nas muitas gavetas da memória, para não me alongar,   mas poderia descrever, com riqueza de detalhes, cada palmo que descobri na minha Vitória de Santo Antão, até dos “pecados” celestiais quando, por traquinagem mesmo, apagava as velas,  fixadas  pelos fiéis católicos,  em devoção,  nas caixas das almas espalhadas,  e ainda entupia, com pedras, os espaços dedicados à oferta em moedas.

Desde sempre, gostei  de participar das atividades coletivas:  quermesses  religiosas, Natal, Ano Novo, Carnaval, São João, jogos estudantis, feira de ciência, futebol nos campos de peladas, rachas de bicicleta e tudo mais que se tinha direito de fazer.

 O que dizer,  então, das aventuras com destino ao Monte das Tabocas, nas solenidades cívicas do dia 3 de agosto?

Dos tempos de jovem,  o desejo  de participação seguiu no mesmo ritmo, imbuído do mesmo sentimento. Os exemplos  de casa, dos meus pais e dos meus irmãos mais velhos apenas endossava o nosso envolvimento  com as atividades sociais e coletivas. Como diz o pensador: “ a palavra convence, mas o exemplo arrasta”.

Ao  ingressar no conjunto da vida dos  adultos, à qual, diferente do mundo encantado e lúdico das  crianças, sonhador e aventureiro da juventude,  ninguém mais poderá  agradar a todo mundo, até porque a vida adulta se configura numa espécie de “estrada de conflitos” em que  devemos evitar os trechos em contramão, sempre  respeitar a sinalização vigente, não permanecer por muito tempo nos  caminhos indesejados, quando necessário manobrar,  no limite da segurança,  o comportamento e mudar  rapidamente   na iminência de uma colisão fatal para continuar viajando no transporte coletivo do mundo da  existência, no sentido do  trajeto sinuoso e misterioso, de forma suave, natural, equilibrada e  definitivamente edificante e profícuo, sempre guiado pelo farol do ineditismo, pois, nessa viagem, nunca haverá de ter um caminho que nos leve ou nos coloque no ponto da partida.

E é nesse mundo, dos adultos, que tomo a decisão de casar com Soraya de Melo Breckenfeld,  em 08 de abril de 2000, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, localizada no bairro de Água Branca para, juntos,  confeccionarmos  o maior de todos os patrimônios: nosso filho Gabriel, hoje,  com pouco mais de  21 anos.

Com o imperioso amadurecimento,  novas definições são necessárias. Definições profissionais, nova configuração  familiar, novos  ciclos de  amizades,  posições políticas em sintonia com  o que verdadeiramente se pensa  e ainda, dialogar com uma sociedade gigante, vulnerável  a  todos os tipos de questionamentos,  aos  quais,  de uma forma ou de outra,  temos  obrigação de prestar contas , principalmente aos inquisidores, cada vez mais implacáveis que se apresentam de forma remota, através dos algoritmos,  muitas vezes manipulado pela  chamada IA – ou seja: Inteligência Artificial do mundo virtual, irreversivelmente, doravante,   mais real e presente no nosso cotidiano.

Mas se aqui estou, nesta casa que representa a pluralidade do pensamento político democrático da nossa cidade, sendo condecorado com um Título  Honroso, é porque imagino que seja merecedor,  possivelmente pela nossa efetiva  contribuição enquanto cidadão, chefe de família, profissional de várias atividades laborais, pelo sentimento altruísta na direção das  várias entidades sem fins lucrativos e pelo legado que continuamos a  construir,  naquilo que chamamos de Educação Patrimonial.

No nosso jornal eletrônico, intitulado Blog do Pilako, por exemplo, desde o início da sua operação até os dias hoje,  já postamos mais de 29 mil matérias com conteúdo genuinamente antonense.  Esse legado não é promessa, ele já existe e já está disponível na internet,   gratuitamente,  a  todas as pessoas.

Inclusive, permitam-me dizer:  é o espaço  virtual mais indicado pelos professores quando se tratada de conteúdo e  conhecimento  da historiografia local.

No nosso projeto “Corrida Com História”, algo sus generis no planeta terra, é algo que, concretamente,  desperta e transforma   nas pessoas  de todas as idades,  à percepção e o   interesse pelos  fatos locais e pela história dos nossos antepassados.

Com alegria, entusiasmo e verdade adaptamos a linguagem, muita vezes  densa  e enfadonha dos livros de história,  para uma  comunicação rápida, alegre, curiosa e objetiva, justamente para despertar o interesse dos que nutrem pela cidade o sublime sentimento de pertencimento.

Indiscutivelmente, o nosso projeto, num só tempo,  esportivo e educativo é  aprovado pela  cidade inteira e  desejado e cobiçado  alhures.

Pensar coletivamente, na prática,  se configura em  colocar-se  entre todos.  É  um estilo de vida que vai  muito além do interesse das conveniências, das  retóricas rebuscadas e midiáticas. Pensar coletivamente é sempre ter, concretamente, o desejo de contribuir.

E é  nesse sentido contributivo, que gostaria, com a permissão dos parlamentares desta Casa,  de deixar, aqui, enquanto estou recebendo esta importante comenda, que retrata um momento ímpar  da minha existência,  uma sugestão que julgo, pela sua magnitude  histórica,  ser um projeto não apenas de um vereador, mas do conjunto deste parlamento, que hoje se utiliza deste prédio histórico que, diga-se de passagem, possivelmente é a única edificação do nosso torrão  que deu guarida aos  três poderes  constituídos, ou seja:   Poder  Executivo, Poder Judiciário e  Poder Legislativo, em tempos  distintos, valendo salientar.

Com relação à sugestão, refiro-me  ao nosso gentílico. Mas o que vem a ser gentílico?

Gentílico é um termo utilizado para designar o nome dado aos habitantes de uma determinada localidade, seja ela uma cidade, estado, país ou região. É uma palavra que deriva do latim “gentilis”, que significa “relativo a uma mesma família ou povo”. O gentílico é uma forma de identificar e diferenciar as pessoas de acordo com sua origem geográfica, sendo um elemento importante para a construção da identidade cultural de um local.

Pois bem, sermos identificados, apenas por vitorienses, não nos define com precisão, cabendo  perguntar: você é  vitoriense de que estado?

Portanto, este Poder Legislativo, verdadeiro e legítimo espaço de representação da nossa gente, instalado no contexto da elevação à categoria de “Vila” – Vila de Santo Antão, em maio de 1812, poderá  nos presentear, se assim achar conveniente,  por ocasião da passagem dos 400 anos de nossa fundação, que acontecerá em 17 de janeiro de 2026, ao acrescentar, de maneira oficial o nosso segundo gentílico, o  Antonense, este,  sim! Uma representação única e indubitável que expressa, verdadeiramente, as nossas origens.

Portanto, ao final dessas  minhas palavras, espero haver conseguido transmitir, de maneira plena, minha satisfação. Minha alegria e também a história dos meus ancestrais que, como já falei, tem raízes profundas fincadas nessa circunscrição territorial que hoje chamamos de Vitória de Santo Antão –  que também ostenta, com orgulho,  o título de  Capital da Zona da Mata.

Com ou sem “cidadania ao quadrado” ,  o fato é que, agora, através do “papel passado”, sou, indiscutivelmente vitoriense, e/ou antonense.

Certamente, Doutor Saulo, se meu pai, Zito Mariano estive ainda no mundo dos vivos, estaria feliz pela sua indicação e pela aprovação deste reconhecimento,  pela Câmara. Mas não poderia deixar de dividir com minhas irmãs e meus irmãos esse reconhecimento, pois assim como eu, todos nasceram na cidade do Recife, mas foram e são atores importantes, cada qual no seu quadrante,  na construção e engrandecimento do nosso lugar.

Uma sociedade não se constrói apenas com sonhos, projetos e palavras. Aos olhos da história, por compreender, construir e usar essa ferramenta da ciência de maneira tão vibrante e responsável,  espero que o meu esforço , no sentido da construção  e edificação coletiva,  seja  útil  a todos:

Aos mais velhos e aos mais jovens, mas sobretudo aos que ainda irão nascer.  Até porque, permitam confidenciar-lhes: sou uma espécie de obra de mum mesmo!

Concluo esta fala,  lembrando as palavras do ativista social  e jornalista  antonsense,  Gomes Silvério,  que trazia,  sempre no  alto da primeira página do seu jornal, “O Liberal Victoriense”,  de 1869,  a seguinte frase:  “QUANDO A LIBERDADE PERIGA, TODO CIDADÃO DEVE SER UM REVOLUCIONÁRIO”.

 

Dom Severino Vieira de Melo – por Pedro Ferrer

A imprensa de Teresina, capital do Piauí, no dia 23 de novembro de 2011 noticiava: “Foi exumado o corpo de Dom Severino Vieira de Melo do altar da Catedral de Nossa Senhora das Dores. O Arcebispo foi o primeiro de Teresina e foi responsável pela reforma na Igreja Matriz. A exumação, que aconteceu na noite da última quinta-feira (17), teve início às 19h e se estendeu durante boa parte da noite. Junto com os restos mortais de Dom Severino, foram encontrados uma cruz e um pergaminho que provavelmente seria sua carta mortuária. No dia seguinte foi celebrada uma missa solene na Igreja Catedral, presidida pelo Administrador Diocesano, Pe. Tony Batista, e logo após os restos mortais de Dom Severino foram transferidos para a nova Capela Mortuária dos Bispos localizada dentro da Catedral”. Dom Severino era um sacerdote amado e admirado pelas suas virtudes.

Esse renomado antonense chegou ao Piauí em fevereiro de 1924 para assumir a diocese de Teresina. Era o terceiro bispo da cidade. Em 1952, a Santa Sé elevou aquela comunidade católica à arquidiocese, tendo dom Severino assumido sua administração. Assim ocorrendo, dom Severino tornou-se o primeiro arcebispo de Teresina. Permaneceu à frente daquela arquidiocese até maio de 1955. Foram 31 anos de fecundo e fervoroso apostolado reconhecido e aplaudido por suas ovelhas.

Sobre ele assim escreveu dom Paulo Libório seu discípulo e sucessor: “Ministro da palavra de Deus, e dispensador da graça pelos sacramentos, o antigo pároco de Caruaru e reitor do seminário de Olinda transforma-se em autêntico bispo catequista e missionário, perlustrando, várias vezes, a diocese em todas as direções, em visitas pastorais que se tornaram célebres pela doutrinação evangélica, pela intensidade do trabalho pastoral e pelos incômodos e sacrifícios a que, generosamente, se expunha o pastor, a fim de proporcionar a toda a sua grei espiritual, o pábulo da doutrina cristã, instruindo os ignorantes e os rudes, pelo exemplo e pela palavra, consolando os aflitos, estimulando os bons e catequizando os maus, corrigindo erros e extirpando abusos, ao mesmo tempo que por sobre todos aspergia as bênçãos do seu grande coração de apóstolo”.

Filho de Manoel do Carmo Vieira de Melo e de Rosa Vieira de Melo, nasceu dom Severino, no dia 5 de junho de 1880, na cidade da Vitória de Santo Antão. Ingressou no seminário de Olinda com a idade de 18 anos. No dia 14 de janeiro de 1903 foi ordenado padre. Até 1906 ocupou o cargo de vice-reitor do seminário de Olinda e Recife, de onde saiu para dirigir sucessivamente as paróquias de Gameleira, Glória do Goitá e Caruaru. Após 17 anos de vida apostólica, nessas paróquias, já experiente e bem amadurecido, foi chamado pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Miguel de Lima Valverde, para dirigir o seminário arquidiocesano. Estava em pleno exercício do cargo quando foi eleito bispo de Teresina. Sua sagração teve

lugar em Olinda, no dia 25 de novembro de 1923. Ele foi o primeiro antonense sagrado príncipe da Igreja Católica.

Como dileto filho da Vitória, fez questão de celebrar sua primeira missa pontifical na matriz de Santo Antão. A cerimônia, bastante concorrida, aconteceu no dia 30 daquele ano.

“O Lidador”, de 19 de janeiro de 1924, assim descreveu, pela verve do jornalista Jorge Campelo, a calorosa recepção dos antonenses ao seu dileto filho: “A nossa Vitória no que diz respeito às suas tradições, tem sempre sabido se manter a altura do grau de expectativa dos seus filhos.

O modo porque foi recebido o seu ilustre filho dom Severino Vieira de Melo, veio atestar vibrantemente esta narrativa. O eminente religioso chegou a esta cidade no dia 28 de dezembro, sendo recebido na gare pelos poderes representativos do município, grande número de famílias e uma compacta massa popular.

Em seguida foi feita uma passeata em demanda da residência do rvdm. vigário padre Américo Vasco, onde sua excia. rvdm. foi saudado pelo dr. Lauro Câmera, promotor público que apresentou boas vindas em nome da cidade. O ilustre patrício agradeceu comovido aquela manifestação dos seus conterrâneos. No dia 29, pelas 19 horas, as associações religiosas existentes na cidade fizeram uma manifestação de apreço a dom Severino Vieira, servindo de interprete a inteligente senhorita Corina de Holanda. Sua excelência agradeceu em breve palavras, mostrando a alegria que sentia no momento e incentivando aquelas associações congregadas a seguirem na mesma senda até agora traçada.

No domingo 30, pelas 11 horas, foi solenemente cantada a primeira missa pontifical de dom Severino Vieira, perante um grande número de fieis e o que Vitória possue de mais representativo. Após, foi efetuado o banquete no salão do “Grêmio Paroquial”.

Dom Severino Vieira de Melo faleceu em Teresina, no dia 27 de maio de 1955. Sua vida foi um legado de virtude e apostolado pela causa evangélica.

Transladação dos restos mortais de dom Severino Vieira de Melo para a capela mortuária dos bispos, localizada no interior da Catedral Nossa Senhora das Dores, em Teresina, no dia 18 de novembro de 2011.

Pedro Ferrer 

Cônego Pedro de Souza Leão – por Pedro Ferrer

Nascido em Ipojuca, no Distrito de Nossa Senhora do Ó, no dia 8 de janeiro de 1917, era filho de Pedro de Souza Leão e de Minervina de Souza Leão. Aos 19 anos sentiu o chamado de Deus e ingressou no Seminário de Olinda. Completada sua formação eclesiástica foi ordenado, no dia de Todos os Santos de 1947, por sua Reverendíssima, o Arcebispo de Olinda-Recife, dom Miguel de Lima Valverde. Sua primeira celebração eucarística teve lugar na sua terra natal, no Distrito de Nossa Senhora do Ó, no dia 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição. Mal raiou o ano novo, no dia 5 de janeiro, foi empossado vigário cooperador da Vitória de Santo Antão e capelão do Colégio Nossa Senhora da Graça.

Em 1949 foi transferido para Glória do Goitá assumindo a direção da Paróquia de Nossa Senhora da Glória, onde exerceu seu apostolado com amor e dedicação até julho de 1959. Nos dez anos à frente da paróquia realizou importantes obras tais como: construção da nova igreja matriz, da escola Paroquial de Menores e do ginásio Dom Miguel de Lima Valverde. A edificação deste educandário foi um marco na educação do município, visto ser o primeiro educandário de primeiro grau. Tão frutífera administração fez o povo da Glória do Goitá elegê-lo prefeito. Exerceu seu mandato, 1958/1962, com dedicação e seriedade, pautado em princípios éticos e morais. Em janeiro de 1962 voltou à Vitória de Santo Antão, assumindo mais uma vez, a capela do Colégio N. S. da Graça. Em agosto, do mesmo ano, foi convocado por Dom Carlos Coelho, Arcebispo de Olinda e Recife, para dirigir a construção do Seminário Regional do Nordeste, localizado em Camaragibe. Sua permanência à frente da construção do Seminário foi curta.

Um homem com sua competência administrativa e sua capacidade de trabalho, não podia ficar ocioso. Em 1965, o governador do estado, dr. Paulo Pessoa Guerra o nomeou diretor do Instituto Profissional de Pacas. Foram sete anos de excelente administração. Os que conheceram de perto e vivenciaram o dia a dia do Instituto de Pacas, são unânimes em afirmarem que foi a melhor de todas as administrações passada naquela casa. O Instituto sofreu uma grande metamorfose: de casa de correção, transformou-se em centro de educação.

Em 1972 foi convidado pelo prefeito José Augusto Ferrer de Morais, para assumir a Secretaria de Administração, vacante, pela renúncia do jornalista João de Albuquerque Álvares.

Após longos anos, longe da vida paroquial, não da vida pastoral, pois continuou exercendo seu apostolado continuamente, o Cônego Pedro Souza Leão, assumiu a paróquia de Cavaleiro, no município do Jaboatão dos Guararapes. Paróquia grande, ocupada por uma população carente de bens materiais e espirituais. O Cônego tinha à sua frente mais um desafio. Foram quase vinte anos de apostolado e de fidelidade ao Cristo e à Igreja. Nos últimos anos de vida, cansado e com a saúde precária, ficou preso a uma cadeira de rodas. Sem perder o ânimo continuou sua missão evangélica até ao final. No dia 20 de maio de 1991 foi acolhido por Jesus Cristo na casa do Pai.

Suas exéquias, presididas por dom José Cardoso, teve lugar na matriz de Cavaleiro, por ele construída. O sepultamento foi em sua terra natal.

Em 2013, seus restos mortais foram transladados para a Matriz de Nossa Senhora da Glória, na cidade de Glória do Goitá.

Pedro Ferrer

Paulo Roberto e Edmo Neves: VITÓRIA GIGANTE!!!

O atual prefeito da Vitória de Santo Antão, Paulo Roberto, ratificou, ontem (06), nas urnas, os números elásticos anunciados pelas pesquisas eleitorais divulgadas,  nas mais variadas plataformas de comunicação.

Fora dos padrões eleitorais locais, com disputas quase sempre bem apertadas, no pleito municipal de 2024, a chapa (Paulo/Edmo) atingiu a gigante marca de 64.589  votos (77,38%). Superando em 50.654 votos o segundo lugar. No conjunto, 16, dos 19 assentos da Câmara foram preenchidos por parlamentares da sua base política. Isso não é pouco.

Indiscutivelmente, Paulo Roberto, obteve, num só tempo,  uma vitória política e eleitoral agigantada! Números que romperam com  marcas de campanhas  históricas na nossa cidade.

Para procurar entender tal fenômeno, no meu modesto entendimento,  faz-se necessário conjugarmos elementos e variáveis nos três tempos: passado, presente e futuro.

Eleito prefeito da Vitória em 2016 com 30.935 votos (40.50%), numa disputa com o próprio Paulo Roberto, o grupo liderado pelo então deputado Aglailson Junior,  na eleição municipal  seguinte,  2020, recebeu da população menos voto de que quando estava fora do comando da prefeitura. Ou seja: 26.532 votos (36.16%). 

Foi o primeiro prefeito da Vitória de Santo Antão  a tentar uma reeleição e não conseguir.

Ou seja: em 4 anos,  a gestão comandada por Aglailson Junior não conseguiu estabelecer com a população uma sinergia positiva. Perdeu para ela mesma, com baixos índices de acertos em quase todas as áreas, sobretudo no quadrante da comunicação.   

O eleitorado antonense, naquela ocasião, ávido por mudança,  até como forma de protesto, em pleno “baixo astral” do momento pandêmico,   “jogou” as fichas no então oposicionista Paulo Roberto que,  com faro político, encaixou um discurso de “prosperidades em 360º”,  bradando, entre outras coisas: “Vitória  Merece Respeito”.

Em ato contínuo, para 2021, primeiro ano de governo, a gestão entregou “tudo” que a população desejava naquele momento, ou seja: vacina no braço e a certeza de que a vida iria melhorar. Lembremos: Paulo foi o prefeito que viabilizou  a vacina da covid. 

No tempo presente – desenvolver da gestão –,  Paulo “catucou” nos quatro cantos da cidade. Mesmo sem cumprir suas principais promessas de campanha (2020), sua gestão foi percebida como positiva  e inovadora pela população.

Com sensibilidade aguçada, embelezou a cidade e avançou na questão da mobilidade urbana. No quesito comunicação, principal ponto negativo da gestão que lhe antecedeu, Paulo multiplicou o investimento na área para dá visibilidade as obras da gestão e os efeitos dos eventos locais, promovidos pela municipalidade,  ganhando, definitivamente,  o debate  e à narrativa de que “cidade não poderia caminhar para trás”.

No campo político, Paulo “espremeu” a máquina o quanto pode para neutralizar as ações dos  discordantes e, ao mesmo tempo, “abrigar” antigos adversários e ampliar o seu “exército”, no sentido de “engrossar” o seu cordão azul,  para  ser reeleito de maneira a não “tomar conhecimento” dos seus dois  oponentes.

Para o tempo futuro, por assim dizer,  Paulo segue com o desafio de equacionar questões inerentes a um governo de continuidade. Não é raro gestores  serem reeleitos (bem) e amargarem  baixos índices de popularidades ao “final dos tempos”. Isso é quase uma regra. Aquilo que os estudiosos da área chamam de “fadiga de material”. 

Motivos não lhes faltarão para absorver futuras antipatias: desligamentos  de pessoal para ajustar o quadro da máquina pública, desaceleração no ritmo das obras, acomodação da equipe e à abertura da “caixa de ferramenta” das maldades, operação  que sempre aparece, num segundo mandato,  por conta das rugas da campanha – traições e acordos não cumpridos.

Ainda para o tempo futuro, a “normalidade administrativa” ainda terá que passar pela turbulência eleitoral de 2026. Mesmo com sua absoluta e elástica vitória nas urnas, alguns dos atores políticos do grupo deverão tomar  destinos  eleitorais próprios, até por uma questão de sobrevivência e valorização do passe político.

Portanto, para encerrar essas linhas, em que conjugamos simples observações no campo  político/administrativo/eleitoral,  reunindo os três tempos  – passado, presente e futuro –,  podemos dizer que a caneta do  prefeito Paulo Roberto está mais cheia que nunca. Resta-nos saber qual vai ser a verdadeira mudança, até porque  “Vitória, Cuidar com Amor é a Diferença”.

Parabéns ao prefeito Paulo Roberto e ao vice-prefeito Edmo Neves,  pela gigante Vitória em 06 de outubro de 2024. 

Cônego Américo Pita – por Pedro Ferrer

Este conheci bem. Batizou-me, ouviu minhas confissões, deu-me a eucaristia pela primeira vez. Só não me casou.  Todas as quintas à tarde, íamos, eu e colegas do Ateneu, ao catecismo na Matriz. Dona Maria Aragão não abria mão dessa prática. Formava as filas na calçada do Ateneu Santo Antão, no beco do Rosário, hoje rua Osman Lins,  e tocava-nos para o templo. Meninos à direita, meninas à esquerda e o reverendo Pita, de batina preta surrada, posicionava-se no centro da nave. Era um ir e voltar contínuo. Um olho na doutrina católica e o outro na garotada.

– Quais são os pecados capitais?

Tinha medo dele. Não era eu, o único a teme-lo. Todos, inclusive os adultos temiam o velho pároco. Padre Pita ganhou fama de brabo e não foi gratuitamente. Assisti, sendo seu coroinha, o ranzinza expulsar garotas da igreja por não se trajarem adequadamente para um ambiente religioso. Certo? Errado? Para a época era certo e todos os aplaudiam por essas atitudes.

Nem tanto ao mar, nem tanto à praia, mas bem que hoje, os sacerdotes poderiam ser mais vigilantes quanto ao modo de vestir dentro dos templos. Comigo se passou um fato interessante que ilustra bem sua brabeza. Tinha eu sete ou oito anos. Conversava prazerosamente durante a missa das 8 horas, quando ele resolveu parar o ofício religioso, desceu, pegou-me pela orelha e pôs-me de joelho ao lado do altar. Os outros garotos, que participavam da algazarra, silenciaram. Morri de vergonha e mais, de medo, temendo que o acontecido chegasse ao conhecimento dos meus pais.

Voltemos ao nosso padre Pita. Nosso, porque, apesar da brabeza, era um vigário estimado e admirado. Dedicado, virtuoso e sobretudo apóstolo. Pelo seu empenho e interesse Vitória de Santo Antão ganhou a casa dos pobres e o colégio Nossa Senhora da Graça. Isso sem falar em outras conquistas tais como: construção da capela de São José na Mangueira e de Nossa Senhora do Loreto em Água Branca. Empenhado na organização da paróquia e no seu trabalho de apostolado não se descuidava dos diversos órgãos da Ação católica: JEC, JOC, Cruzada eucarística, apostolado do Sagrado Coração de Jesus, Pia União das Filhas de Maria, Vicentinos, Irmandade das Almas etc. Para congregar e atrair os jovens criou, com o padre Vasco, o Grêmio Paroquial, que organizava jogos, tertúlias e peças teatrais.

Padre Pita nasceu no dia 18 de fevereiro de 1885, em Coruripe, cidade alagoana. Aos 18 anos ingressou no Seminário de Olinda. Em 1911 foi ordenado presbítero em cerimônia presidida por dom Luís Raimundo da Silva Brito. Sua primeira missa foi celebrada na Matriz de Santo Antão que tinha como vigário seu primo, o padre Américo Vasco.

Seu empenho e seu comprometimento com a fé cristã valeu-lhe a outorga de dois títulos: Cônego Honorário da Sé de Olinda (1935) e Monsenhor (1950).

Sobre padre Pita repetiríamos as palavras escritas pelo mestre José Aragão: ”De sua fé acrisolada, de sua piedade esclarecida, do seu total devotamento ao reino de Deus em nossa terra, que ele amava como sua; de sua cooperação desinteressada a todas as instituições e iniciativas locais, resultaram, para a comunidade, benefícios incomensuráveis, razão porque os defeitos que pudesse ter, como ser humano, portanto contingente, foram superados e fartamente compensados pelas virtudes, por todos reconhecidas e proclamadas” (Revista do Instituto Histórico e Geográfico, volume 6º, página21).

Seguem outros depoimentos: – cansei em ouvir meu pai repetir, “padre Pita é um padre de verdade, homem modelar”;

– “padre Pita, podemos afirmar sem nenhum vislumbre de exagero é um dos verdadeiros ministros de Deus, é o genuíno “Alter Christus” da religião de Jesus, é o verdadeiro tipo de sacerdote católico. Padre Pita, sacerdote virtuoso, soube se impor à admiração do povo de Vitória que lhe cultua uma amizade leal”. (“A Voz Parochial, 31 de março de 1918);

– “aqui em Vitória o padre Pita deixou vestígios imorredoiros e inesquecíveis, como sacerdote virtuoso e abnegado, como amigo particular e também como jornalista primorado nas colunas deste jornal onde tem colaborado desde a fundação do mesmo até hoje”. (A ”Voz Parochial, 18 de fevereiro de 1919)

Após sessenta anos de vida sacerdotal, dedicados à pregação do Evangelho e à defesa da fé, o probo e íntegro padre entregou sua alma ao Senhor, no dia 27 de abril de 1971.  Vitória de Santo Antão cobriu-se de luto.

O Instituto Histórico e Geográfico que tem o Monsenhor Américo Pita como um dos seus cofundador, reverencia sua memória no setor do Museu Sacro, cujas principais peças partiram de seu magnânimo espírito.

– Ano Novo (Padre Américo Pita)

“Ao afloral do ano novo ainda a humanidade esfarrapada, esquálida, desgrenhada arrastando-se pelos escombros da civilização, da arte e da religião solta ainda um gemido dolente repassado de angústias. O mundo ainda é o sudário da guerra, com os corvos da miséria de garras aduncas esvoaçando crocitante por sobre o charco putrefato da humanidade.

A alma da Igreja compungida cantando a pouco o “Gloria in excelsis Deo et in terra pax homnibus”, visava talvez, o trapejar do lábaro branco da paz sobre as ruinas do mundo por entre a fumarada espessa dos semeadores da morte complemento tétrico da barbaria humana.

Cada ano que lá vem trás na sua psicologia a risonha esmeralda esperança como que sendo fonte d mil venturas no desenrolar do futuro. Oh! quimérica esperança que te transformas na rígida realidade da desilusão. Mas ah! que prossegue a marcha dos tempos e o mundo a convulsionar na guerra.

O mesmo tempo imutável partícula da eternidade no seu eterno evoluir vai escrevendo o episódio doloroso deste século de sangue que o próprio Deus com as mãos plenas de justiça esconde as suas faces para não ver a injustiça e a desobediência dos homens, ao seu “pax homnibus”. E a devastação campeia arrastando manietada a deusa sublime dos povos, a liberdade.

A liberdade irmã gêmea da paz foi banida do seu trono enquanto o despotismo tem o cetro da realeza… (“A Voz Paroquial”, 31 de janeiro de 1918).

Obs. Na época a humanidade estava em plena Primeira Guerra Mundial, 1914-1918.

Pedro Ferrer

MÁRIO DE FARIAS CASTRO – por Pedro Ferrer

Estatura mediana baixa. Sempre de paletó, predominantemente cinza. Essa é a imagem que dele guardo quando de casa saia para a igreja da Matriz.

Mário de Farias Castro, o grande cruzado da “Casa dos Pobres”, era filho de Francisco de Farias Castro e de Maria Júlia de Farias Castro. Seu pai, juiz de direito, ao aposentar-se fixou residência em Gravatá, onde, no dia 26 de agosto de 1901, nasceu aquele que seria o grande baluarte da nossa “Casa dos Pobres”. Aos 15 anos, com a morte do pai, mudou-se para o Recife, onde concluiu o curso secundário. Ingressou, em seguida, na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se no dia 18 de dezembro de 1924. No ano seguinte foi nomeado promotor da Comarca de Belém do Cabrobó, sendo logo em seguida transferido para a Comarca do Jaboatão. Em março de 1928, sendo promotor de Bezerros, contraiu núpcias com a senhorita Maria Belkiss de Holanda Cavalcanti, antonense, filha do dr. Nestor de Holanda Cavalcanti. As núpcias foram oficializadas pelo padre José Lamartine Correia de Lyra, vigário de Piedade. No ano de 1929 vamos encontrá-lo como promotor da Comarca dos Barreiros. Em 1930, com a revolução que levou Getúlio Vargas ao poder, foi, por perseguição política, demitido do cargo de promotor, pelo interventor federal em Pernambuco, dr. Carlos de Lima Cavalcanti, demissão decorrente de sua manifesta simpatia pelo partido Integralista, do qual era membro e que tinha como líder o dr. Plínio Salgado, inimigo político de Getúlio Vargas. Era uma época de repressão, na qual a democracia e a liberdade eram amordaçadas

Dr. Mário Castro não baixou a cabeça. Passou a residir em Vitória de Santo Antão e reabriu sua banca de advogado, pautando-se sempre pelos nobres valores do cristianismo: justiça e caridade. Mais tarde, impulsionado pelos seus elevados sentimentos de amor ao próximo lançou, como presidente da União dos Moços Católicos, a ideia, logo acolhida pelo padre Américo Pita e por toda a sociedade antonense, de fundar a Casa dos Pobres que se tornou a razão primeira de sua vida.

Assim sendo dedicou-se de corpo e alma ao elevado ideal. Paralelamente construiu 40 casas, cujos alugueis foram destinados à manutenção do abrigo dos velhos abandonados, ao mesmo tempo em que se dedicava sem trégua às atividades forenses e sociais. Em 1950 participou da fundação do Instituto Histórico e Geográfico do qual foi orador durante vários anos. Dele partiu a iniciativa de doar, ao Instituto, a histórica mesa usada pela Família Imperial, quando de sua passagem pela nossa cidade.

Mário Castro não deixou filhos. Vítima do diabetes, doença com a qual conviveu por mais de trinta anos, faleceu no dia 18 de fevereiro de 1967, na idade de 66 anos. O grande instituidor e mantenedor da “Casa dos Pobres” legou às futuras gerações um extraordinário exemplo de amor ao próximo.

Pedro Humberto Ferrer de Moraes. 

-Fonte bibliográfica:

-Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo antão, volume VIII, página 57, 1982.

-Transmissões orais e conhecimento direto do biografado.

– “A Voz Parochial”, periódico da Matriz de Santo Antão.

Dr. José Rufino Bezerra Cavalcanti – por Pedro Ferrer.

Primeiro vitoriense a ocupar o Palácio do Campo das Princesas. Tomou posse no governo do Estado, exatamente no ano de 1919, o mês era dezembro. Naquele momento sua saúde já estava combalida. Mesmo enfermiço ele enfrentou com denodo os sérios problemas de instabilidade social que assolava Pernambuco. Acentue-se que ele chegou ao posto de governador através do voto direto¹. José Rufino sucedeu ao marechal Manoel Borba (1915/1919), “que deixara o poder onde fora o centro de todos os ódios.” ² Manoel Borba deixou um rastro de rancor e desarmonia na sociedade e na política pernambucanas. Pacificar o estado foi a primeira medida do novo governador que lançou o plano “Paz e Concórdia”. Com muita paciência e diálogo, conseguiu unir as três facções políticas: os rosistas, os dantistas e os borbistas3.

 A um convite de seu Zé
 ninguém resiste ou discorda;
 e, no fim desse banzé,
 a paz foi feita “com corda”4

 Algo curioso e estranho aconteceu nas eleições de 1919, quando os pernambucanos foram convocados para escolher o novo governador. Uma série de aborrecimentos e vexames atingiram a população vitoriense. Esse fato merece ser tratado com um pouco mais de detalhes. Próximo à eleição, o prefeito da Vitória, na época, coronel Antônio de Melo Verçosa, que era seu velho amigo, resolveu inabilmente apoiar um dos candidatos da oposição, o Barão de Suassuna. Dr. José Rufino venceu a eleição em todos os municípios pernambucanos, perdendo apenas em sua terra natal e em Escada.  Essa imprudência ou talvez inexperiência, do coronel Antônio de Melo Verçosa, bateu forte nos sentimentos do dr. José Rufino, deixando-o triste e revoltado. O nefasto resultado das urnas na Vitória provocou-lhe a ira e o deixou transtornado a ponto de abandonar sua terra natal ao destempero de seus seguidores. O coronel Antônio de Melo Verçosa ficou sem apoio e sem condição de administrar o município. Eram dois galos de boa rinha que não cediam. O inditoso ano de 1920 decorreu em um clima de insegurança e desordem, na República das Tabocas. Tumultos, agressões, perseguições faziam o dia a dia dos vitorienses. Como sempre acontece nesses casos, prevaleceu a lei do mais forte. Pressionado e sem condições de bem administrar a cidade, Melo Verçosa, aconselhado por amigos e correligionários, renunciou.

Se o prefeito foi inepto ao apoiar o Barão de Suassuna, muito mais o foi, nosso governador, ao dar as costas para seu torrão natal. Falhou em sua missão de líder e condutor político maior do estado prejudicando a população indefesa. Ele que havia proposto a “Paz e a Concórdia” não devia guardar nem alimentar ressentimentos contra Melo Verçosa. Uma questão política que se transformou em capricho pessoal coletivo e que só prejuízos trouxe à República da Cachaça. É lamentável que um político de sua estepe, empresário de grande porte e sucesso, que conseguira congregar as principais correntes políticas do Estado, tenha se prendido a quinquilharias domésticas. Uma nódoa que empana seu magnificente currículo.

Com a renúncia de Melo Verçosa, de seu vice e dos conselheiros, nova eleição foi marcada para o dia 20 de março de 1921. Para concorrer ao pleito, Dr. José Rufino indicou João Cleofas de Oliveira, um jovem engenheiro de 22 anos, que saiu como candidato único. Surgia, pela mão do dr. José Rufino, uma nova liderança na arena política vitoriense. O empresário, João de Albuquerque Álvares, amigo e partidário do dr. João Cleofas, confidenciou-nos que seu amigo lhe havia narrado uma conversa ocorrida entre ele e o governador. Na ocasião o dr. José Rufino afirmara: meu jovem, vá em frente, você tem tudo para ser um grande político.

O rico empresário e poderoso político nasceu no engenho Serra, no dia 16 de agosto de 1865. Seus pais, José Rufino Bezerra Cavalcanti e  Maria Januária de Barros Lima zelaram pelos seus estudos desde a mais tenra idade.  Estudou o primário na Vitória, seguindo logo após para o Recife onde cursou humanidade. Aos 21 anos diplomou-se em direito pela Faculdade de Direito do Recife.

Surgiu para a política em 1890 quando foi nomeado presidente da Primeira Intendência na cidade da Vitória5. Ao tomar posse o jovem doutor José Rufino alertava seus pares “que só tinha por égide o bem público e um vasto programa de economias”. A partir d’aí sua carreira política foi pontilhada de sucessos: deputado estadual e federal em diversas legislaturas, senador, ministro da Indústria e Comércio e ministro da Agricultura no governo do presidente Wenceslau Brás. No pleito de 1919 bateu dois adversários, o Barão de Suassuna e Dantas Barreto, na disputa para o governo do estado de Pernambuco.

Eleito governador, desenvolveu, de acordo com seus biógrafos, uma política de paz no Estado, tentando conciliar e aproximar as classes produtoras e os comerciantes. Outro destaque do seu governo foi o empenho em prol do equilíbrio orçamentário. Em parceria com o prefeito do Recife, inovou, criando um sistema de capacitação de recursos através do qual a população emprestava ao governo e recebia em parcelas, com juros. Com esses recursos eles calçaram ruas, abriram avenidas, reformularam praças, fizeram obras de saneamento etc.

Em maio de 1921 sua precária saúde o obrigou a embarcar para Europa em busca de tratamento. Seu afastamento do governo, sempre, pelo mesmo motivo, ocorreu outras vezes. A imprensa opositora prognosticava constantemente sua renúncia, o que não aconteceu. Sua frágil saúde era motivo constante de preocupação para seus correligionários, visto que os primeiros frutos de sua administração começavam a surgir.

Seu combalido estado de saúde foi se agravando. Afastado do governo, morreu no dia 27 de março de 1922, de ataque cardíaco, com 57 anos de idade, em seu palacete no bairro do Tejipió, sem ter concluído as démarches, já iniciadas, para escolha do seu sucessor. Em vida foi casado com Hercília Pereira de Araújo com quem teve onze filhos, um deles, José Bezerra Filho, também vitoriense, foi prefeito do Cabo e deputado estadual.

Se sua vida política foi um sucesso, a profissional não ficou por menos. Na vida acadêmica obteve dois diplomas: engenheiro agrônomo e advogado. Como engenheiro atuou na Estrada de Ferro Central e na Estrada de Ferro do Sul. Mas como não poderia ser diferente, foi na indústria açucareira, seguindo a tradição familiar, que ele se destacou. De rendeiro do engenho Trapiche no Cabo tornou-se um grande usineiro transformando-o em uma usina, Usina José Rufino, em homenagem ao avô e ao pai. José Bezerra foi o principal acionista da Companhia de Melhoramentos de Pernambuco tendo construído uma estrada de ferro ligando a usina Cucau à cidade de Barreiros6. Seu vasto patrimônio incluía os engenhos Barbalho, Malinote, Malakof, Mataripe, Novo, Pirapama, São João, São Pedro e Santo Inácio.

Notas:
1 – A eleição foi disputada por três candidatos: José Rufino, Henrique Marques de Holanda Cavalcanti, o Barão de Suassuna e o marechal Emídio Dantas Barreto. Em todo o Estado Dantas Barreto obteve apenas 7.000 votos, contra os 25.000 dados a José Rufino.
2- Gayoso, Armando – A verdadeira verdade – Livraria Universal, Recife, 1925, página 17.
Armando Gayoso: ex-oficial de Gabinete do governador José Rufino e ex-vice presidente da Câmara dos Deputados (1919-1922).
3- Havia três grandes líderes políticos no Estado: Rosa e Silva, Dantas Barreto e Manoel Borba.
4- Lemos Filho – Clã do Açúcar (Recife 1911/1934) – Livraria São José, Rio de Janeiro, 1960, página. O autor da quadra faz o trocadilho de “concórdia com corda”.
5- Com o advento da República as Câmaras Municipais de Vereadores foram substituídas pelos Conselhos de Intendência, constituídos por três membros.
6- A Companhia de Melhoramentos de Pernambuco tinha por centro a Usina Cucau, edificada no município de Rio Formoso. Muitas figuras ilustres, tais como os governadores José Rufino e Manoel Borba, dela, faziam parte como acionistas.

Observação: recentemente foi sugerido por um leitor deste blog a mudança do nome da rua dr. José Rufino (Cajá) para Avenida Monte (ou Batalha) das Tabocas. Creio que o nome de dr. José Rufino, pelo que ele representou na política e na história vitorienses, não deveria ser retirado. Poder-se-ia usar os dois nomes: dr. José Rufino permaneceria e iria até a ponte que antecede o templo católico e a feira. A partir da ponte seria avenida Monte ou Batalha das Tabocas. Fica a sugestão. 

Pedro Ferrer

Professora Regina – minha primeira professora!!!

Através dos grupos de WhatsApp tomei conhecimento do falecimento da Professora Regina. Nos últimos anos, sempre estava “esbarrando” com ela pelo Pátio da Matriz, sobretudo,  logo nas primeiras horas da manhã, por ocasião de nossas respectivas atividades físicas – eu correndo, ela caminhando.

Regina foi a minha primeira professora. Encaminhou-me às primeiras letras. Juntamente como minhas irmãs mais novas – as gêmeas Alzira e Laura – estudei lá, na sua “escola”,  no  início da década de 1970.

Já com os meus 56 anos emplacados, ainda guardo muitas lembranças desse tempo. Recreio no Pátio da Matriz, festas de “São João” da escola,  realizadas  no Clube Abanadores “O Leão”, aulas de catecismo e etc. Tudo isso  disponíveis à consultas,  arquivadas nas pastas da minha  memória.

Há quase dez anos, por ocasião do meu ingresso, na qualidade de acadêmico,   na AVLAC – Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência – em ato religioso, realizado na Igreja  Matriz de Santo Antão, fiz questão de agradece-la  e registrar o momento, dizendo, à época, que se conseguia,  com certa desenvoltura, transmitir meus pensamentos através da escrita, deveria  lembrar que quando adentrei, pela primeira vez, na Escola Externato Sagrado Coração de Jesus,  nem sabia juntar o “B” com “A”.,

Portanto, com pesar, registro o falecimento da professora Regina – minha primeira professora!!!

 

A filmagem completa do PIRRITA – homenageado da 3ª edição da Corrida da Vitória!

Dentro do planejamento e do compromisso em sempre homenagear um atleta da nossa cidade, em 2024, à 3ª Edição da Corrida e Caminhada da Vitória, o escolhido foi o  nosso  PIRRITA. De origem humilde, através do amor e à dedicação ao esporte, o mesmo  avançou na vida profissional, após várias atividades, chegando a participar da Olímpiadas, ocorridas no Brasil, especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Abaixo, portanto, segue os quatro vídeos gravados com nosso homenageado. Veja os vídeos…

Cônego Américo Pita – por Pedro Ferrer.

Este conheci bem. Batizou-me, ouviu minhas confissões, deu-me a eucaristia pela primeira vez. Só não me casou.  Todas as quintas à tarde, íamos, eu e colegas do Ateneu, ao catecismo na Matriz. Dona Maria Aragão não abria mão dessa prática. Formava as filas na calçada do Ateneu Santo Antão, no beco do Rosário, hoje rua Osman Lins,  e tocava-nos para o templo. Meninos à direita, meninas à esquerda e o reverendo Pita, de batina preta surrada, posicionava-se no centro da nave. Era um ir e voltar contínuo. Um olho na doutrina católica e o outro na garotada.

– Quais são os pecados capitais?

Tinha medo dele. Não era eu, o único a teme-lo. Todos, inclusive os adultos temiam o velho pároco. Padre Pita ganhou fama de brabo e não foi gratuitamente. Assisti, sendo seu coroinha, o ranzinza expulsar garotas da igreja por não se trajarem adequadamente para um ambiente religioso. Certo? Errado? Para a época era certo e todos os aplaudiam por essas atitudes.

Nem tanto ao mar, nem tanto à praia, mas bem que hoje, os sacerdotes poderiam ser mais vigilantes quanto ao modo de vestir dentro dos templos. Comigo se passou um fato interessante que ilustra bem sua brabeza. Tinha eu sete ou oito anos. Conversava prazerosamente durante a missa das 8 horas, quando ele resolveu parar o ofício religioso, desceu, pegou-me pela orelha e pôs-me de joelho ao lado do altar. Os outros garotos, que participavam da algazarra, silenciaram. Morri de vergonha e mais, de medo, temendo que o acontecido chegasse ao conhecimento dos meus pais.

Voltemos ao nosso padre Pita. Nosso, porque, apesar da brabeza, era um vigário estimado e admirado. Dedicado, virtuoso e sobretudo apóstolo. Pelo seu empenho e interesse Vitória de Santo Antão ganhou a casa dos pobres e o colégio Nossa Senhora da Graça. Isso sem falar em outras conquistas tais como: construção da capela de São José na Mangueira e de Nossa Senhora do Loreto em Água Branca. Empenhado na organização da paróquia e no seu trabalho de apostolado não se descuidava dos diversos órgãos da Ação católica: JEC, JOC, Cruzada eucarística, apostolado do Sagrado Coração de Jesus, Pia União das Filhas de Maria, Vicentinos, Irmandade das Almas etc. Para congregar e atrair os jovens criou, com o padre Vasco, o Grêmio Paroquial, que organizava jogos, tertúlias e peças teatrais.

Padre Pita nasceu no dia 18 de fevereiro de 1885, em Coruripe, cidade alagoana. Aos 18 anos ingressou no Seminário de Olinda. Em 1911 foi ordenado presbítero em cerimônia presidida por dom Luís Raimundo da Silva Brito. Sua primeira missa foi celebrada na Matriz de Santo Antão que tinha como vigário seu primo, o padre Américo Vasco.

Seu empenho e seu comprometimento com a fé cristã valeu-lhe a outorga de dois títulos: Cônego Honorário da Sé de Olinda (1935) e Monsenhor (1950).

Sobre padre Pita repetiríamos as palavras escritas pelo mestre José Aragão: ”De sua fé acrisolada, de sua piedade esclarecida, do seu total devotamento ao reino de Deus em nossa terra, que ele amava como sua; de sua cooperação desinteressada a todas as instituições e iniciativas locais, resultaram, para a comunidade, benefícios incomensuráveis, razão porque os defeitos que pudesse ter, como ser humano, portanto contingente, foram superados e fartamente compensados pelas virtudes, por todos reconhecidas e proclamadas” (Revista do Instituto Histórico e Geográfico, volume 6º, página21).

Seguem outros depoimentos: – cansei em ouvir meu pai repetir, “padre Pita é um padre de verdade, homem modelar”;

– “padre Pita, podemos afirmar sem nenhum vislumbre de exagero é um dos verdadeiros ministros de Deus, é o genuíno “Alter Christus” da religião de Jesus, é o verdadeiro tipo de sacerdote católico. Padre Pita, sacerdote virtuoso, soube se impor à admiração do povo de Vitória que lhe cultua uma amizade leal”. (“A Voz Parochial, 31 de março de 1918);

– “aqui em Vitória o padre Pita deixou vestígios imorredoiros e inesquecíveis, como sacerdote virtuoso e abnegado, como amigo particular e também como jornalista primorado nas colunas deste jornal onde tem colaborado desde a fundação do mesmo até hoje”. (A ”Voz Parochial, 18 de fevereiro de 1919)

Após sessenta anos de vida sacerdotal, dedicados à pregação do Evangelho e à defesa da fé, o probo e íntegro padre entregou sua alma ao Senhor, no dia 27 de abril de 1971.  Vitória de Santo Antão cobriu-se de luto.

O Instituto Histórico e Geográfico que tem o Monsenhor Américo Pita como um dos seus cofundador, reverencia sua memória no setor do Museu Sacro, cujas principais peças partiram de seu magnânimo espírito.

– Ano Novo (Padre Américo Pita)

“Ao afloral do ano novo ainda a humanidade esfarrapada, esquálida, desgrenhada arrastando-se pelos escombros da civilização, da arte e da religião solta ainda um gemido dolente repassado de angústias. O mundo ainda é o sudário da guerra, com os corvos da miséria de garras aduncas esvoaçando crocitante por sobre o charco putrefato da humanidade.

A alma da Igreja compungida cantando a pouco o “Gloria in excelsis Deo et in terra pax homnibus”, visava talvez, o trapejar do lábaro branco da paz sobre as ruinas do mundo por entre a fumarada espessa dos semeadores da morte complemento tétrico da barbaria humana.

Cada ano que lá vem trás na sua psicologia a risonha esmeralda esperança como que sendo fonte d mil venturas no desenrolar do futuro. Oh! quimérica esperança que te transformas na rígida realidade da desilusão. Mas ah! que prossegue a marcha dos tempos e o mundo a convulsionar na guerra.

O mesmo tempo imutável partícula da eternidade no seu eterno evoluir vai escrevendo o episódio doloroso deste século de sangue que o próprio Deus com as mãos plenas de justiça esconde as suas faces para não ver a injustiça e a desobediência dos homens, ao seu “pax homnibus”. E a devastação campeia arrastando manietada a deusa sublime dos povos, a liberdade.

A liberdade irmã gêmea da paz foi banida do seu trono enquanto o despotismo tem o cetro da realeza… (“A Voz Paroquial”, 31 de janeiro de 1918).

Obs. Na época a humanidade estava em plena Primeira Guerra Mundial, 1914-1918.

Pedro Ferrer

Alcoólicos Anônimos da Vitória – um breve relato…

Recebi, ontem (10), da colega Imortal da AVLAC – Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência -, Marie Cavalcantti, um “panfleto” realçando um fato curioso, ocorrido na nossa cidade, envolvendo a história do A.A. antonense. Abaixo, portanto, segue as informações recebidas.

“A primeira mulher a fazer parte do AA em Vitória foi Noêmia Barnabé como participante honorífica. Foi entitulado madrinha do AA. Ela não era alcoolista mas pediu para fazer parte dessa associação para ajudar os dependentes químicos e muito o fez . Sua participação dentro do AA foi bastante frutífera com vários depoimentos . Atuando por mais de 25 anos”

Marie Cavalcantti. 

Cascatinha da Matriz – por Sosígenes Bittencourt.

(A Cascatinha da Matriz e Manoelzinho de Horácio)

Papai me contava e mamãe assevera que quem construiu essa praça, chamada Dom Luis de Brito, foi Horácio de Barros, pai de Manoelzinho Rangel. Depois, diz que Horácio de Barros não foi à inauguração da obra, porque estava acometido de Tifo. Assistiu ao evento, debruçado na janela de sua casa, na Rua Imperial, popularmente conhecida como Rua do Meio.

Era nessa Cascatinha que Manoelzinho de Horácio tomava cachaça com caramelo de menta, contava piada, soltava lorota e empulhava o mundo. Manoelzinho de Horácio partiu para a Eternidade aos 73 anos, já faz algum tempo. Ele contava que o médico que lhe tirou o baço e garantiu-lhe um ano de existência morreu primeiro.

Certa vez, Manoelzinho de Horácio me contou que fez um frio tão grande em Vitória de Santo Antão que o Leão Coroado, na frente da Estação Ferroviária, saiu do monumento e foi se esconder dentro de uma barbearia do outro lado da Praça. Manoelzinho de Horácio era jogador de futebol. Diz que, um dia, ele foi bater um pênalti, quando o adversário Tenente Índio o ameaçou: – Se fizer o gol, me apanha! Manoelzinho não teve dúvida, furou o gol e saiu correndo do estádio José da Costa, solto na buraqueira, pelo Dique afora.

Sosígenes Bittencourt

Santo Antão – por Pedro Ferrer

A Igreja Católica no decorrer de sua história atravessou sérias crises tanto teológicas, como morais. Em algumas saiu chamuscada. Chamuscada mas vitoriosa. Vitoriosa, por não ser dirigida por homens, mas sim pelo Divino Espírito Santo. E esse mesmo Espírito intervia nas crises através de sua divina pedagogia. Sabiamente utilizava os próprios homens. Fazia deles, com traumas algumas vezes, é bem verdade, instrumentos de seu magnífico plano, sem agredir, o que o homem tem de mais sagrado, sua liberdade.

No início do cristianismo, por influências do judaísmo e dos sábios gregos, surgiram muitas dúvidas doutrinárias que geraram as primeiras grandes heresias. Para combatê-las, o Divino Paráclito, lançou mão de seus doutores, os grandes padres da Igreja. Era a época da Patrística. Entre muitos temos: João Crisóstomo, Basílio, Inácio de Antioquia, Atanásio, Clemente de Alexandria,  Gregório de Nissa,  Jerônimo, Ambrosio,  Agostinho.

Na obscura Idade Média, novamente a Igreja entra em crise, dessa feita, mais moral que teológica. Entretanto o Espírito de Deus vela por ela. E através dos próprios homens, como Francisco de Assis e Catarina de Sena, encontrou-se a solução.

O mundo evoluiu.  Eis que entramos na efervescência do Renascimento e da Reforma. Mais uma vez o Espírito Santo pedagogicamente vai buscar  Inácio de Loiola, Teresa de Jesus (Teresa de Ávila), Erasmo de Rotterdam, Tomás Moro etc. Personagens cultas, formadoras de opinião, expoentes da intelectualidade cristã. O Pai, com seu carinho, vai ajudando o homem a crescer e os obriga a encontrarem as soluções. Após o Renascimento vem o período Barroco e a Contra Reforma. Nele vamos encontrar  Vicente de Paulo, Bossuet e João Batista de La Salle.

Nos dois últimos séculos despontam, Frederico Ozanam, Charles Péguy, Leão XIII, João XXIII, Pedro Casadálgia e Helder Câmara. Poderíamos citar muitos outros, todavia os mencionados são aqueles que primaram em levar a Igreja a trilhar seu caminho mais original e mais autêntico, a caridade.

E o que tem Santo Antão a ver com essa maravilhosa epopeia da Igreja? Retornemos aos primeiros séculos. Santo Antão foi contemporâneo de alguns dos Santos Padres.

Os Santos Padres, é importante frisar, nasceram num marco teológico que foi se originando a partir do Novo Testamento e são os detentores do legado da Igreja apostólica. Legado que tinha como principal opção, os pobres e os oprimidos.

Alguns dos Santos Padres da Igreja, como é o caso de Agostinho, que tinha dois anos de nascido quando Santo Antão morreu, receberam forte influência da carismática figura que era Santo Antão. Sua contagiante personalidade irradiou-se por muitos séculos.  Seu exemplo de fé, de desprendimento, de amor aos pobres marcaram, não só Santo Agostinho, o principal doutor da patrística latina, mas uma multidão de monges. Santo Antão com sua vida contemplativa solidificou e expandiu a prática monástica. Vale registrar a considerável marca que nosso PADROEIRO imprimiu na vida de Atanásio, um dos Santos Padres. Atanásio, quando jovem, atraído pela vida ascética, foi viver ao lado de Santo Antão que levava uma vida austera e contemplativa no deserto. Um dia, Alexandre, o Bispo de Alexandria, cidade egípcia que fica às margens do Mediterrâneo, visitando Santo Antão, conheceu Atanásio. Convidou-o para ir assessorá-lo em Alexandria e o ordenou diácono. Nessa época surgiu o arianismo, heresia que negava a divindade de Jesus Cristo. Essa doutrina causou muitos estragos entre os cristãos da época. Silenciosamente, pedagogicamente, “sem querer, querendo”, o Divino Espírito chamou Atanásio, que se tornou o cruzado da divindade de Jesus Cristo. Assumiu a causa, defendeu bravamente a ortodoxa doutrina, atraindo para si muitos inimigos.

Mais tarde, Atanásio, que foi canonizado após sua morte, enlevado pelo exemplo de Santo Antão, resolveu escrever lhe a biografia. Biografia essa, que tornou Santo Antão mais conhecido, difundindo seu exemplo, colaborando para propagar e solidificar a vida monástica.

Professor Pedro Ferrer

 

Célio Meira – “VULTOS E EPISÓDIOS DA TERRA NATAL” – Professor Rodolfo Jovino de Santana.

Célio Meira

Dias atrás, reli o artigo escrito pelo mau avô, Célio Meira, com o título  “VULTOS E EPISÓDIOS DA TERRA NATAL”, publicado na invulgar Revista do nosso Instituto Histórico e Geográfico – 5º edição/ 1973. UM  verdadeiro deleite para os que estuda e pesquisa  a história da cidade.

Li, entre outras coisas, que existiu na Vitória de Santo Antão, por volta do ano de 1900, um professor com o nome de Rodolfo Jovino de Santana. Assim descreveu  meu avô: “negro retinto, alto, espadaúdo, gordo e forte, enérgico, de poucas palavras”. Falava ainda que guio-lhe nas jornadas das primeiras letras,  com vigilância e cuidados paternais.

Disse ainda, meu avô Célio Meira, que no ano de 1909, quando ainda era um adolescente, ao fazer, no Recife, por três dias, o teste de admissão,  dedicou o seu trunfo, primeiramente a Deus e depois ao seu professor Rodolfo. Nas viagens de férias que meu avô fazia à terra natal (Vitória) nunca esquecera de ir beijar a mão do seu inesquecível professor.

Este gesto de reconhecimento, dispensado pelo meu avô, Célio Meira, ao seu guia nas primeiras letras, Rodolfo, era encarado, pelo velho mestre, com muita alegria e satisfação. No seu artigo, escreveu ainda o meu avô: “Vi-o, muitas vezes a  sorrir, nesses encontros  do rapazinho e do velho, e duma feita, observei que, discretamente, enxugava uma lágrima, de alegria”.

Portanto, como já falei, em várias oportunidades,  as Revistas do nosso Instituto Histórico contém  inúmeros artigos que contam um pouco do cotidiano vivido pelos nossos antepassados. Que Deus tenha promovido um auspicioso encontro dessas duas alma – Jovino e Célio -,  na morada eterna.

Antão Bibiano da Silva – por Pedro Ferrer.

Aproveitando a sugestão do internauta Antônio Maciel, vai aí uma das personalidades vitorienses que integrará nosso próximo livro: “Construtores da Vitória de Santo Antão”.

Antão Bibiano da Silva, filho de José  Francisco da Silva e de Josefa Paraguassu, natural da Vitória de Santo Antão, veio ao mundo no dia 8 de março de 1889. Ainda pequeno, já confeccionava bonecos de barros e talhava na madeira. Eram os primeiros sinais dos dotes artísticos do grande escultor vitoriense reconhecido nacionalmente. Bem cedo, por interferência do seu padrinho, o tabelião local, Leobardo Carvalho, mudou-se para o Recife. Seguiu depois para o Rio de Janeiro onde cursou a Escola Nacional de Belas Artes. Mas Bibiano não esquecia Pernambuco. No ano de 1917 voltou ao Recife para se casar com Lygia Francisca da Silva, linda mulher que se tornou sua parceira  e inspiração. Na ocasião fixou residência na rua do Lima, bairro de Santo Amaro, onde nasceu Letícia, sua única filha. Em 1922 participou de um concurso em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, obtendo o quarto lugar, o que lhe valeu um prêmio de cinquenta contos de réis. Com esta importância viajou, acompanhado da mulher e filha, para o Rio de Janeiro onde permaneceu por um ano. Mas suas raízes estavam no Recife para onde regressou, vindo a se estabelecer na rua do Hospício, bairro da Boa Vista. Seu atelier, que era bem decorado com móveis finos e cortinas em veludo vermelho, era um ponto de atração na cidade. No dia 29 de março de 1932, reunido com um grupo de artistas locais, entre os quais Baltazar da Câmara, Murilo La Greca, Heitor Maia Filho e Henrique Elliot, resolveram fundar a escola de Belas Artes de Pernambuco. Bibiano foi escolhido para ser seu diretor. Logo após, por razões  profissionais, foi residir no Rio de Janeiro,  lá permanecendo até 1936. No ano seguinte, 1937, voltou ao Rio de Janeiro. Nessa ocasião a permanência foi bem mais longa. Apesar da boa situação financeira e do prestígio que desfrutava na Capital Federal resolveu, no ano de 1950, retornar ao Recife. Aqui chegando assumiu uma cadeira na Escola de Belas Artes da UFPE. Suas criações encontram-se espalhadas em diversas cidades brasileiras. Na Vitória de Santo Antão temos a oportunidade de ver algumas delas: o Leão Coroado, na praça da Estação; o busto de Antônio Dias Cardoso localizado na praça 3 de Agosto; o busto de Antão Borges na avenida Silva Jardim; o busto de Melo Verçosa, no Alto do Reservatório; o busto de Duque de Caxias, na praça do mesmo nome. Muitos outros trabalhos foram criados por Antão Bibiano Silva, com destaque para as esculturas que decoram o alto da fachada do Tribunal de Justiça, da capital pernambucana; o busto de José Mariano, no Poço da Panela, em Casa Forte-Recife; busto de Getúlio Vargas (Salão Nacional, RJ); busto de Eládio de Barros Carvalho (Náutico); estátua de D. Malan (Petrolina); busto de João Fernandes Vieira (Várzea-Recife); busto do escritor José Condé (Caruaru).

Pedro Ferrer – presidente do IHGVSA

Antão Borges Alves – por Pedro Ferrer.

No dia 5 de novembro de 1866 surgia em nossa cidade o primeiro jornal, “O Vitoriense”. Seu criador, Antão Borges. Filho de Paulo Borges Alves e de Antônia Borges Cunha, nasceu o menino Antão em setembro de 1844. Remarque-se que Antão tinha quinze anos por ocasião da visita da Família Imperial. Essa visita marcou seu espírito.

É lugar comum os biógrafos afirmarem que seus biografados eram alunos dedicados, inteligentes, que tinham pendores pelas artes e a que a veia poética aflorava em todos seus escritos.

Com Antão Borges, não quero cair nesse lugar comum. Antão Borges provou seu amor às letras, quando ainda jovem, já casado, com apenas 22 anos, juntou uns trocados e partiu para Recife para as compras.

O que pretendia comprar aquele jovem?

Compras, nada comum, a um jovem de sua idade e de sua época, que procuraria por uma cartola, uma bengala de marfim, um broche de ouro para gravata, sapatos italianos, lenços de seda…

E que compras tão curiosas foram essas?

Uma impressora e tipos tipográficos. Seu sonho de adolescente tomava forma, imprimir um jornal. Um jornal com oficina própria, independente. A estrada de ferro ainda não existia. Tudo  transportado em lombo de burro.

No dia 5 de novembro de 1866 fazia Antão Borges circular na Vitória “O Vitoriense”. Seu pequeno jornal era um semanário noticioso e comercial, custando a assinatura anual 12 contos de reis. Em 1870 substituiu “O Vitoriense” pelo “Correio de Santo Antão” que permaneceu no prelo até 1875. No ano seguinte voltou a imprimir “O Vitoriense”. Sua edição foi interrompida com a partida de Antão Borges, em 1878, para Glória do Goitá, onde foi exercer o cargo de Tabelião Público. Quando ainda residente na Vitória ocupou uma cadeira na Câmara Municipal pelo Partido Liberal.

Na cidade da Glória do Goitá continuou sua lida jornalística. Tratou de montar sua pequena tipografia e publicou no dia 8 de fevereiro de 1879 “O Goitaense”, primeiro jornal da cidade, periódico imparcial que tinha como um dos seus objetivos alfabetizar a população. Do seu casamento com Antônia Donata teve vários filhos, entre eles o coronel Antão Borges Júnior, coletor fiscal e prefeito da Glória do Goitá nos anos 1920-1924.

Antão Borges, o bravo vitoriense, falecido em agosto de 1918, na cidade da Glória do Goitá, deixou-nos um magnífico legado. Só os iniciados na cultura vitoriense têm a sensibilidade de conhecer o extraordinário trabalho realizado por Antão Borges Alves e os benefícios à cultura vitoriense, atrelados à criação do “O Vitoriense”.

Pedro Ferrer – presidente do IHGVSA.

Dom Severino Vieira de Melo – por Pedro Ferrer.

A imprensa de Teresina, capital do Piauí, no dia 23 de novembro de 2011 noticiava: “Foi exumado o corpo de Dom Severino Vieira de Melo do altar da Catedral de Nossa Senhora das Dores. O Arcebispo foi o primeiro de Teresina e foi responsável pela reforma na Igreja Matriz. A exumação, que aconteceu na noite da última quinta-feira (17), teve início às 19h e se estendeu durante boa parte da noite. Junto com os restos mortais de Dom Severino, foram encontrados uma cruz e um pergaminho que provavelmente seria sua carta mortuária. No dia seguinte foi celebrada uma missa solene na Igreja Catedral, presidida pelo Administrador Diocesano, Pe. Tony Batista, e logo após os restos mortais de Dom Severino foram transferidos para a nova Capela Mortuária dos Bispos localizada dentro da Catedral”. Dom Severino era um sacerdote amado e admirado pelas suas virtudes.

Esse renomado antonense chegou ao Piauí em fevereiro de 1924 para assumir a diocese de Teresina. Era o terceiro bispo da cidade. Em 1952, a Santa Sé elevou aquela comunidade católica à arquidiocese, tendo dom Severino assumido sua administração. Assim ocorrendo, dom Severino tornou-se o primeiro arcebispo de Teresina. Permaneceu à frente daquela arquidiocese até maio de 1955. Foram 31 anos de fecundo e fervoroso apostolado reconhecido e aplaudido por suas ovelhas.

Sobre ele assim escreveu dom Paulo Libório seu discípulo e sucessor: “Ministro da palavra de Deus, e dispensador da graça pelos sacramentos, o antigo pároco de Caruaru e reitor do seminário de Olinda transforma-se em autêntico bispo catequista e missionário, perlustrando, várias vezes, a diocese em todas as direções, em visitas pastorais que se tornaram célebres pela doutrinação evangélica, pela intensidade do trabalho pastoral e pelos incômodos e sacrifícios a que, generosamente, se expunha o pastor, a fim de proporcionar a toda a sua grei espiritual, o pábulo da doutrina cristã, instruindo os ignorantes e os rudes, pelo exemplo e pela palavra, consolando os aflitos, estimulando os bons e catequizando os maus, corrigindo erros e extirpando abusos, ao mesmo tempo que por sobre todos aspergia as bênçãos do seu grande coração de apóstolo”.

Filho de Manoel do Carmo Vieira de Melo e de Rosa Vieira de Melo, nasceu dom Severino, no dia 5 de junho de 1880, na cidade da Vitória de Santo Antão. Ingressou no seminário de Olinda com a idade de 18 anos. No dia 14 de janeiro de 1903 foi ordenado padre. Até 1906 ocupou o cargo de vice-reitor do seminário de Olinda e Recife, de onde saiu para dirigir sucessivamente as paróquias de Gameleira, Glória do Goitá e Caruaru. Após 17 anos de vida apostólica, nessas paróquias, já experiente e bem amadurecido, foi chamado pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Miguel de Lima Valverde, para dirigir o seminário arquidiocesano. Estava em pleno exercício do cargo quando foi eleito bispo de Teresina. Sua sagração teve

lugar em Olinda, no dia 25 de novembro de 1923. Ele foi o primeiro antonense sagrado príncipe da Igreja Católica.

Como dileto filho da Vitória, fez questão de celebrar sua primeira missa pontifical na matriz de Santo Antão. A cerimônia, bastante concorrida, aconteceu no dia 30 daquele ano.

“O Lidador”, de 19 de janeiro de 1924, assim descreveu, pela verve do jornalista Jorge Campelo, a calorosa recepção dos antonenses ao seu dileto filho: “A nossa Vitória no que diz respeito às suas tradições, tem sempre sabido se manter a altura do grau de expectativa dos seus filhos.

O modo porque foi recebido o seu ilustre filho dom Severino Vieira de Melo, veio atestar vibrantemente esta narrativa. O eminente religioso chegou a esta cidade no dia 28 de dezembro, sendo recebido na gare pelos poderes representativos do município, grande número de famílias e uma compacta massa popular.

Em seguida foi feita uma passeata em demanda da residência do rvdm. vigário padre Américo Vasco, onde sua excia. rvdm. foi saudado pelo dr. Lauro Câmera, promotor público que apresentou boas vindas em nome da cidade. O ilustre patrício agradeceu comovido aquela manifestação dos seus conterrâneos. No dia 29, pelas 19 horas, as associações religiosas existentes na cidade fizeram uma manifestação de apreço a dom Severino Vieira, servindo de interprete a inteligente senhorita Corina de Holanda. Sua excelência agradeceu em breve palavras, mostrando a alegria que sentia no momento e incentivando aquelas associações congregadas a seguirem na mesma senda até agora traçada.

No domingo 30, pelas 11 horas, foi solenemente cantada a primeira missa pontifical de dom Severino Vieira, perante um grande número de fieis e o que Vitória possue de mais representativo. Após, foi efetuado o banquete no salão do “Grêmio Paroquial”.

Dom Severino Vieira de Melo faleceu em Teresina, no dia 27 de maio de 1955. Sua vida foi um legado de virtude e apostolado pela causa evangélica.

Transladação dos restos mortais de dom Severino Vieira de Melo para a capela mortuária dos bispos, localizada no interior da Catedral Nossa Senhora das Dores, em Teresina, no dia 18 de novembro de 2011.

Pedro Ferrer – presidente do IHGVSA. 

Antão Bibiano da Silva – por Pedro Ferrer

Aproveitando a sugestão do internauta Antônio Maciel, vai aí uma das personalidades vitorienses que integrará nosso próximo livro: “Construtores da Vitória de Santo Antão”.

Antão Bibiano da Silva, filho de José  Francisco da Silva e de Josefa Paraguassu, natural da Vitória de Santo Antão, veio ao mundo no dia 8 de março de 1889. Ainda pequeno, já confeccionava bonecos de barros e talhava na madeira. Eram os primeiros sinais dos dotes artísticos do grande escultor vitoriense reconhecido nacionalmente. Bem cedo, por interferência do seu padrinho, o tabelião local, Leobardo Carvalho, mudou-se para o Recife. Seguiu depois para o Rio de Janeiro onde cursou a Escola Nacional de Belas Artes. Mas Bibiano não esquecia Pernambuco. No ano de 1917 voltou ao Recife para se casar com Lygia Francisca da Silva, linda mulher que se tornou sua parceira  e inspiração. Na ocasião fixou residência na rua do Lima, bairro de Santo Amaro, onde nasceu Letícia, sua única filha. Em 1922 participou de um concurso em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, obtendo o quarto lugar, o que lhe valeu um prêmio de cinquenta contos de réis. Com esta importância viajou, acompanhado da mulher e filha, para o Rio de Janeiro onde permaneceu por um ano. Mas suas raízes estavam no Recife para onde regressou, vindo a se estabelecer na rua do Hospício, bairro da Boa Vista. Seu atelier, que era bem decorado com móveis finos e cortinas em veludo vermelho, era um ponto de atração na cidade. No dia 29 de março de 1932, reunido com um grupo de artistas locais, entre os quais Baltazar da Câmara, Murilo La Greca, Heitor Maia Filho e Henrique Elliot, resolveram fundar a escola de Belas Artes de Pernambuco. Bibiano foi escolhido para ser seu diretor. Logo após, por razões  profissionais, foi residir no Rio de Janeiro,  lá permanecendo até 1936. No ano seguinte, 1937, voltou ao Rio de Janeiro. Nessa ocasião a permanência foi bem mais longa. Apesar da boa situação financeira e do prestígio que desfrutava na Capital Federal resolveu, no ano de 1950, retornar ao Recife. Aqui chegando assumiu uma cadeira na Escola de Belas Artes da UFPE. Suas criações encontram-se espalhadas em diversas cidades brasileiras. Na Vitória de Santo Antão temos a oportunidade de ver algumas delas: o Leão Coroado, na praça da Estação; o busto de Antônio Dias Cardoso localizado na praça 3 de Agosto; o busto de Antão Borges na avenida Silva Jardim; o busto de Melo Verçosa, no Alto do Reservatório; o busto de Duque de Caxias, na praça do mesmo nome. Muitos outros trabalhos foram criados por Antão Bibiano Silva, com destaque para as esculturas que decoram o alto da fachada do Tribunal de Justiça, da capital pernambucana; o busto de José Mariano, no Poço da Panela, em Casa Forte-Recife; busto de Getúlio Vargas (Salão Nacional, RJ); busto de Eládio de Barros Carvalho (Náutico); estátua de D. Malan (Petrolina); busto de João Fernandes Vieira (Várzea-Recife); busto do escritor José Condé (Caruaru).

Pedro Ferrer – presidente do IHGVSA

 

O Veneno das Mulheres – por Pedro Ferrer

“O Veneno das mulheres”. Com este título, o Lidador, no início da década de trinta, exatamente, no dia 14 de janeiro de 1933, publicava, em sua primeira página, o resultado de  uma pesquisa, vindo da Áustria. Essa pesquisa estabelecia, melhor diria, tentava estabelecer uma base científica, sobre uma escabrosa mentira contra o sexo feminino. Velha mentira que remontava ao tempo de Moisés. O Levítico, um dos livros do Antigo Testamento, trata com detalhes sobre o tema e estabelece até normas de comportamento. A mulher, de acordo com o artigo, secretaria no período menstrual, um hormônio capaz de prejudicar o comportamento e a fisiologia dos que a cercavam. Essa afirmação foi proferida por um cientista austríaco, Schick, que deduziu através de suas pesquisas que as mulheres durante a menstruação secretavam um hormônio, o menotoxina. O dito cujo hormônio tinha efeitos espantosos sobre a fermentação e sobre os seres vivos, vegetais e animais.  Uma mulher, que menstruada estivesse, a bater a massa de um pão  ou de um bolo, não conseguia fazer a massa crescer. O menotoxina inibia a ação do fermento. As flores desvaneciam-se e até mesmo  os animais sofriam modificações em sua fisiologia. Essa teoria, da ação negativa do menotoxina impregnou-se no subconsciente popular e foi incorporado à nossa cultura. Hoje, sabemos  que tudo isto é falso, não passa de crendice e superstição.

Lendo este artigo rememorei o dia em que o destilador do  engenho Cacimbas não me permitiu ingressar na destilaria com algumas amigas. Na ocasião não entendi a razão da proibição. Queixei-me ao meu pai da decisão do destilador. Para mim era um absurdo ele impedir nosso ingresso na destilaria. Meu pai ponderou que uma, entre elas,  poderia estar no período menstrual e a fermentação estaria comprometida.  Infelizmente, esse conceito permanece ainda hoje no meio rural. Um vaqueiro da fazenda,   Teju,  não  fazia tratamento, nem nenhuma outra intervenção no gado, quando sua mulher menstruava. Dormindo ao seu lado, sentia-se contaminado.

Pedro Ferrer – presidente do IHGVSA