Parafraseando o salmista, bem podemos dizer nós, do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo Antão: este é o dia que o Senhor escolheu; exultemos e alegramo-nos.
Fundado a 19 de novembro de 1950, tinha naturalmente, o nosso Instituto, de partir, de imediato, para o trabalho de sua organização interna, da obtenção de sede e das instalações.
Graças à compreensão e boa vontade de dois prefeitos, o saudoso Cel. José Joaquim da Silva e Manoel de Holanda Cavalcanti, conseguimos, em 1951, obter o prédio de maior tradição local, o casarão construído, em 1951, pelo então promotor público, dr. Joaquim Jorge Santos, na popularmente chamada Rua do Meio, espinha dorsal da cidade, e que ficou sendo chamada de “A Casa do Imperador” porque, alugada pela Câmara de Vereadores. Serviu de Paço onde, de 18 a 20 de dezembro de 1859, se hospedaram SS. MM. Dom Pedro II e D Teresa Cristina, quando de sua visita à então Cidade da Vitória.
Seguiram-se várias campanhas: a do livro, para a biblioteca; a do mobiliário, obtido por doações, compra e permuta; do arquivo, das galerias de retratos e fotografias; dos museus; enfim, campanhas múltiplas, empreendidas com paciência e perseverança no afã de conseguir o mínimo de condições para a objetivação do programa traçado em nossos Estatutos.
Em, 1952, por decreto estadual, foi o nosso Instituto decretado de utilidade pública.
Veio a comemoração do tri-centenário da Restauração Pernambucana e, em 1954, entre os seus promotores, na Comissão Oficial, criada pelo governo do Estado, estava o modesto Instituto da Vitória de Santa Antão. Representando-o, estivemos em todas as sessões preparatórias e tivemos a satisfação de obter meios para melhorar sensivelmente a sede, mudando-lhe o teto e o piso, para realizar comemorações nesta cidade, de 10 a 24 de janeiro e publicar o primeiro número da nossa Revista.
Começávamos a produzir algo permanente.
E foi continuando, ano afora, esse trabalho persistente, quase anônimo, com os minguados recursos locais.
Dentro de 10 anos, enfrentamos um problema angustiante: a falta de espaço. A nossa casa estava repleta e nós, em fase de pleno desenvolvimento, com o aumento de acervo, teríamos de ampliar e melhorar as modestas instalações.
Compreendemos que, instituto interiorano, deveríamos primar pelo interesse por tudo aquilo que nos cerca: pelo regional, pelo que é nosso, e resolvemos organizar um Museu, em que ficasse documentada a atividade do homem nordestino no campo, em casa e nas suas múltiplas manifestações externas.
Entretanto, faltava-nos, preliminarmente, o prédio. Partimos, então, em 1964, para outra campanha: a da construção de três salas para o Museu do Homem. Era prefeito do município o atual deputado Dr. Ivo Queiroz. Deu-nos, ele, com a Câmara de Vereadores, pleno apoio e, também com ajuda particulares, pudemos inaugurar novas instalações, nelas documentamos a vida rural, a vida doméstica do rurícola e o folclore do Nordeste.
Mas, apesar de deverem ser os Museus entidades dinâmicas, como centro de interesse para o estudo de várias disciplinas, compreendemos que o Instituto e Geográfico não deve ser apenas museu mas, sobretudo, escola, oficia, devendo, assim, para a expansão de suas atividades culturais como centro de formação e de incentivo ao civismo, dispor dos meios mais práticos e eficientes de comunicação.
A nossa sala de reuniões comporta, no máximo, oitenta pessoas, espaço, portanto, insuficiente para eventos de maior porte.
Ainda dispúnhamos de terreno e resolvemos nele construir o nosso auditório, não apenas nosso, mas da cidade, destinando-o a todas as promoções culturais, razão por que, aproveitando o termo criado, em 1905, pelo renomado helenista o Barão Ramis Galvão para denominar o prédio construído, em 1904, para abrigar a Academia Brasileira de Letras, O Instituto Histórico Brasileiro, a Academia Nacional de Medicina e a Ordem dos Advogados do Brasil, lhe demos o nome de Silogeu.
A essa altura, já o nosso Instituto começava a ser contemplado com algum recursos pelos poderes públicos do Estado e da União.
Estabelecemos nova Corrente de solidariedade. Envidamos esforços inauditos. Pedimos auxilio dentro e fora do estado, cotizando até os próprios senadores da República, os deputados federais e estaduais, através dos representantes do nosso município. Festivais, projeções de filmes nas escolas, promoções diversas foram empreendidas no sentido de angariar recursos para construir esta casa, mobiliá-la e aparelha-la para ser Casa de Cultura, idealizada nos próprios estatutos do Conselho Federal de Cultura para cada cidade brasileira.
E hoje, agora, nos são permitidos pela munificência de Deus e dos homens de boa vontade, este dia, esta hora, pelo senhor escolhido para o nosso gáudio, como seres inteligentes, como homens de ideal superior, animados todos dos mais sadios propósitos para com a pátria querida.
O nosso Instituto Histórico, ao inaugurar o Silogeu, chega não digo ao termo, que não pode existir, mas ao ápice de sua missão, como entidade cultural e, consequentemente, de sua responsabilidade, dos seus encargos, para manter esta casa aberta e em função de sua finalidade.
Evidente que não o podemos fazer sem o estímulo, a compreensão, a ajuda efetiva dos poderes públicos, através dos diversos órgãos de assistência, promoção e difusão cultural de que dispõem.
Minhas senhoras e meus senhores!
Disse-vos, resumidamente, tudo sobre o que somos e pretendemos ser.
Não devo encerrar esta apresentação, porém, sem uma palavra de louvor e de reconhecimento, de entusiasmo e de fé.
Louvor e reconhecimento a quantos, durante esses vinte anos já vividos, nos ajudaram e ajudam na tarefa ingente e comum do soerguimento de nossa terra através do culto ao passado, buscando nele as lições da experiência dos nossos avós, para imitar-lhes as nobres ações e evitar os possíveis erros cometidos.
Louvor e agradecimento ao nosso fundador, o dr. Djalma Gonçalves Raposo, que trouxe de sua gloriosa cidade de Goiana, a primeira que fundou um Instituto Histórico no interior, a chama olímpica do ideal que nos anima e nos congrega; ao dr. Olímpio Costa Júnior, benemérito das letras e da história pernambucanas, como incentivador e colaborador prestante de todas as horas; aos nossos amigos do Recife, sócios correspondentes, especialmente aos prezados e ilustres companheiros do glorioso Instituto Arqueológico Pernambucano, guardião de nossas tradições; aos senhores senadores João Cleofas de Oliveira e Paulo Pessoa Guerra, aos deputados Aurino Valois, Aderbal Jurema e Ivo Queiroz, aos professores Barreto Guimarães e Roberto Magalhães Melo, ao Sr. José Joaquim da Silva Filho, benemérito deste Instituto, pela colaboração permanente que nos deu, quando prefeito; à nossa sempre amiga e generosa Câmara de Vereadores; ao senhor José Augusto Ferrer de Moraes, pela contribuição especial no primeiro ano da sua administração, ao magistério público e particular, aos educandários, a Jaime de Vasconcelos Beltrão, José Mariano de Barros Filho, à família Lima Borges, ao dr. Aloísio Xavier, a Mário Bezerra e José Luciano Britto, a todos , enfim, quantos nos ajudaram, direta ou indiretamente, na construção do Silogeu.
E quando se louva e agradece aos vivos, que comungam, presentes, nesta hora, do nosso contentamento, não podemos deixar, também, a memória dos companheiros queridos que se foram,muitos deles sinceramente empenhados em contemplar esta obra e viver este momento.
Ao Monsenhor Américo Pita, sócio fundador e benemérito; a José Joaquim da Silva, José Bonifácio de Holanda Cavalcanti, Mário de Farias Castro, Guedes Alcoforado Filho, José Miranda, Tenente Severino Ferreira de Melo, José Xavier Júnior, Hermenegildo do Amaral Costa, Eugênio Cunha, João Ricardo Tavares, Antônio Maurício Ferreira, companheiros bravos de todas as horas, o preito de nossa imorredoura saudade.
A Nestor de Holanda Neto, o conterrâneo eternamente enamorado da nossa e muito sua Vitória de Santo Antão, honra e glória das letras pátrias, amigo fiel e prestante, o testemunho do nosso louvor reconhecido.
Mas, senhores e senhoras, não podemos nem devemos nos alongar nessa peregrinação sentimental.
O Instituto Histórico e Geográfico agradece a distinção e a honra que lhe conferiram o Exmo. Sr. Governador do Estado e as demais autoridades com suas presenças nesta solenidade e, saudando-os em nome da Vitória de Santo Antão, legenda de civismo e cristianismo, reafirma os seus elevados propósitos de perseverança no trabalho pela construção da pátria com que sonhamos, formando e educando as novas gerações no espírito em que informou a nossa civilização, prosseguindo com a mesma fé e o mesmo entusiasmo dos primeiros dias, confiante na proteção divina e na visão esclarecida, patriótica e objetiva dos homens de boa vontade, especialmente de todos vós, que tendes nas mãos o destino e a segurança do Brasil.
Professor José Aragão – 01 de setembro de 1971 – discurso na solenidade de inauguração do Teatro Silogeu do Instituto Histórico da Vitória de Santo Antão.