Discurso do Mestre Aragão na solenidade de inauguração do teatro Silogeu – há exatos 50 anos.

Parafraseando o salmista, bem podemos dizer nós, do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo Antão: este é o dia que o Senhor escolheu; exultemos e alegramo-nos.

Fundado a 19 de novembro de 1950, tinha naturalmente, o nosso Instituto, de partir, de imediato, para o trabalho de sua organização interna, da obtenção de sede e das instalações.

Graças à compreensão e boa vontade de dois prefeitos, o saudoso Cel. José Joaquim da Silva e Manoel de Holanda Cavalcanti, conseguimos, em 1951, obter o prédio de maior tradição local, o casarão construído, em 1951, pelo então promotor público, dr. Joaquim Jorge Santos, na popularmente chamada Rua do Meio, espinha dorsal da cidade, e que ficou sendo chamada de “A Casa do Imperador” porque, alugada pela Câmara de Vereadores. Serviu de Paço onde, de 18 a 20 de dezembro de 1859, se hospedaram SS. MM. Dom Pedro II e D Teresa Cristina, quando de sua visita à então Cidade da Vitória.

Seguiram-se várias campanhas: a do livro, para a biblioteca; a do mobiliário, obtido por doações, compra e permuta; do arquivo, das galerias de retratos e fotografias; dos museus; enfim, campanhas múltiplas, empreendidas com paciência e perseverança  no afã de conseguir o mínimo de condições para a objetivação do programa traçado em nossos Estatutos.

Em, 1952, por decreto estadual, foi o nosso Instituto decretado de utilidade pública.

Veio a comemoração do tri-centenário  da Restauração Pernambucana e, em 1954, entre os seus promotores, na Comissão Oficial, criada pelo governo do Estado, estava o modesto Instituto da Vitória de Santa Antão. Representando-o, estivemos em todas as sessões preparatórias e tivemos a satisfação de obter meios para melhorar sensivelmente a sede, mudando-lhe o teto e o piso, para realizar comemorações nesta cidade, de 10 a 24 de janeiro e publicar o primeiro número da nossa Revista.

Começávamos a produzir algo permanente.

E foi continuando, ano afora, esse trabalho persistente, quase anônimo, com os minguados recursos locais.

Dentro de 10 anos, enfrentamos um problema angustiante: a falta de espaço. A nossa casa estava repleta e nós, em fase de pleno desenvolvimento, com o aumento de acervo, teríamos de ampliar e melhorar as modestas instalações.

Compreendemos que, instituto interiorano, deveríamos primar pelo interesse por tudo aquilo que nos cerca: pelo regional, pelo  que  é nosso, e resolvemos organizar um Museu, em que ficasse documentada a atividade do homem nordestino no campo, em casa e nas suas múltiplas manifestações externas.

Entretanto, faltava-nos, preliminarmente, o prédio. Partimos, então, em 1964, para outra campanha: a da construção de três salas para o Museu do Homem. Era prefeito do município o atual deputado Dr. Ivo Queiroz. Deu-nos, ele, com a Câmara de Vereadores, pleno apoio e, também com ajuda particulares, pudemos inaugurar novas instalações, nelas documentamos a vida rural, a vida doméstica do rurícola e o folclore do Nordeste.

Mas, apesar de deverem ser os Museus entidades dinâmicas, como centro de interesse para o estudo de várias disciplinas, compreendemos que o Instituto e Geográfico não deve ser apenas museu mas, sobretudo, escola, oficia, devendo, assim,  para a expansão de suas atividades culturais como centro de formação e de incentivo ao civismo, dispor dos meios mais práticos e eficientes de comunicação.

A nossa sala de reuniões comporta, no máximo, oitenta pessoas, espaço, portanto, insuficiente para eventos de maior porte.

Ainda dispúnhamos  de terreno e resolvemos nele construir o nosso auditório, não apenas nosso, mas da cidade, destinando-o a todas as promoções culturais, razão por que, aproveitando  o termo criado, em 1905, pelo renomado helenista o Barão Ramis Galvão para denominar o prédio construído, em 1904, para abrigar a Academia Brasileira de Letras, O Instituto Histórico Brasileiro, a Academia Nacional de Medicina  e a Ordem dos Advogados do Brasil, lhe demos o nome de Silogeu.

A essa altura, já o nosso Instituto começava a ser contemplado com algum recursos pelos poderes públicos do Estado e da União.

Estabelecemos nova Corrente de solidariedade. Envidamos esforços inauditos. Pedimos auxilio dentro e fora do estado, cotizando até os próprios senadores da República, os deputados federais e estaduais, através dos representantes do nosso município. Festivais, projeções de filmes nas escolas, promoções diversas foram empreendidas no sentido de angariar recursos para construir esta casa, mobiliá-la  e aparelha-la para ser Casa de Cultura, idealizada nos próprios estatutos do Conselho Federal de Cultura para cada cidade brasileira.

E hoje, agora, nos são permitidos pela munificência de Deus e dos homens de boa vontade, este dia, esta hora, pelo senhor escolhido para o nosso gáudio, como seres inteligentes, como homens de ideal superior, animados todos dos mais sadios propósitos para com a pátria querida.

O nosso Instituto Histórico, ao inaugurar o Silogeu, chega não digo ao termo, que não pode existir, mas ao ápice de sua missão, como entidade cultural e, consequentemente, de sua responsabilidade, dos seus encargos, para manter esta casa aberta e em função de sua finalidade.

Evidente que não o podemos fazer sem o estímulo, a compreensão, a ajuda efetiva dos poderes públicos, através dos diversos órgãos de assistência, promoção e difusão cultural de que dispõem.

Minhas senhoras e meus senhores!

Disse-vos, resumidamente, tudo sobre o que somos e pretendemos ser.

Não devo encerrar esta apresentação, porém, sem uma palavra de louvor e de reconhecimento, de entusiasmo e de fé.

Louvor e reconhecimento a quantos, durante esses vinte anos já vividos, nos ajudaram e ajudam na tarefa ingente e comum do soerguimento de nossa terra através do culto ao passado, buscando nele as lições da experiência dos nossos avós, para imitar-lhes as nobres ações  e evitar os possíveis erros cometidos.

Louvor e agradecimento ao nosso fundador, o dr. Djalma Gonçalves Raposo, que trouxe de sua gloriosa cidade de Goiana, a primeira que fundou um Instituto Histórico no interior, a chama olímpica do ideal que nos anima e nos congrega; ao dr. Olímpio Costa Júnior, benemérito das letras e da história pernambucanas, como incentivador e colaborador prestante de todas as horas; aos nossos amigos do Recife, sócios correspondentes, especialmente aos prezados e ilustres companheiros do glorioso Instituto Arqueológico Pernambucano, guardião de nossas tradições; aos senhores senadores João Cleofas de Oliveira e Paulo Pessoa Guerra, aos deputados Aurino Valois, Aderbal Jurema e Ivo Queiroz, aos professores Barreto Guimarães e Roberto Magalhães Melo, ao Sr. José Joaquim da Silva Filho, benemérito deste Instituto, pela colaboração permanente que nos deu, quando prefeito; à nossa sempre amiga e generosa Câmara de Vereadores; ao senhor José Augusto Ferrer  de Moraes, pela contribuição especial no primeiro ano da sua administração, ao magistério público e particular, aos educandários, a Jaime de Vasconcelos Beltrão, José Mariano de Barros Filho, à família Lima Borges, ao dr. Aloísio Xavier, a Mário Bezerra e José Luciano Britto, a todos , enfim, quantos nos ajudaram, direta ou indiretamente, na construção do Silogeu.

E quando se louva e agradece aos vivos, que comungam, presentes, nesta hora, do nosso contentamento, não podemos deixar, também, a memória dos companheiros queridos que se foram,muitos deles sinceramente empenhados em contemplar esta obra e viver este momento.

Ao Monsenhor Américo Pita, sócio fundador e benemérito; a José Joaquim da Silva, José Bonifácio de Holanda Cavalcanti, Mário de Farias Castro, Guedes Alcoforado Filho, José Miranda, Tenente Severino Ferreira de Melo, José Xavier Júnior, Hermenegildo do Amaral Costa, Eugênio Cunha, João Ricardo Tavares, Antônio Maurício Ferreira, companheiros bravos de todas as horas, o preito de nossa imorredoura saudade.

A Nestor de Holanda Neto, o conterrâneo eternamente enamorado da nossa e muito sua Vitória de Santo Antão, honra e glória das letras pátrias, amigo fiel e prestante, o testemunho do nosso louvor reconhecido.

Mas, senhores e senhoras, não podemos nem devemos nos alongar nessa peregrinação sentimental.

O Instituto Histórico e Geográfico agradece a distinção e a honra que lhe conferiram o Exmo. Sr. Governador do Estado e as demais autoridades com suas presenças nesta solenidade e, saudando-os em nome da Vitória de Santo Antão, legenda de civismo e cristianismo, reafirma os seus elevados propósitos de perseverança no trabalho pela construção da pátria com que sonhamos, formando e educando as novas gerações no espírito em que informou a nossa civilização, prosseguindo com a mesma fé e o mesmo entusiasmo dos primeiros dias, confiante na proteção divina e na visão esclarecida, patriótica e objetiva dos homens de boa vontade, especialmente de todos vós, que tendes nas mãos o destino e a segurança do Brasil.

Professor José Aragão  – 01 de setembro de 1971 – discurso na solenidade de inauguração do Teatro Silogeu do Instituto Histórico da Vitória de Santo Antão. 

 

140 anos da Matriz de Santo Antão – por Jean Michell

Hoje é dia de celebração para o povo Antonense, é dia de celebrar um grande presente dado por nossos antepassados, hoje, 29 de junho de 2021, se completam 140 anos da inauguração do maior cartão postal do município da Vitória, a suntuosa Igreja Matriz de Santo Antão. Antes de falar sobre o nosso atual templo, vale ressaltar que essa é a terceira igreja elevada em honra a Santo Antão.

Em 1626 “uma modesta Ermida de taipa, construída por Diogo de Braga” serve como local para o Santo Sacrifício, vindo a ser incendiada pelos holandeses quando da invasão em 1645. Logo em seguida, a devota população desta porção se une para erguer um novo templo, maior que o anterior, que veio a servir como Matriz a partir da criação canônica desta paróquia.

Em 1874 a velha Matriz foi demolida e foram lançados os alicerces para a construção de um novo templo. A nossa majestosa Matriz de Santo Antão foi idealizada pelo arquiteto italiano, Frei Francisco Maria de Vicenza, da Ordem dos Capuchinhos, que havia vindo ao Brasil com a finalidade de construir a Basílica de Nossa Senhora da Penha, no Recife. O responsável pela construção da nova Ermida também foi um capuchinho italiano , o Frei Cassiano de Comachio, sendo a pedra fundamental da nova igreja, lançada no dia 27 de setembro de 1874. Enquanto a Matriz de Santo Antão estava em construção, passa a ser Matriz provisória a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos, mas, devido a hecatombe ocorrida dentro do referido templo em 27 de junho de 1880, a matriz provisória passa a ser a Igreja de Nossa Senhora do Livramento dos homens pardos, até o dia 29 de junho de 1881.

O dia para se inaugurar tão suntuoso templo foi escolhido com muito cuidado e atenção. No dia em que se celebra o príncipe dos apóstolos, o primeiro Papa da Santa Igreja, era entregue a população um digno local de oração e devoção. Ao raiar do dia, as bandas de música entoavam alvoradas festivas pelas ruas da cidade, anunciando o tão solene e esperado dia, as 10h o mui digno pároco, Cônego Marcolino Pacheco do Amaral se dirige a porta principal do Igreja, dignamente paramentado, a multidão de fiéis tomava todo o pátio da Matriz. Com grande solenidade, proferiu a benção ao novo templo. Enquanto a população erguia brados de gratidão e vivas, girândolas subiam aos ares, os sinos repicavam e bandas marciais executavam lindas peças musicais. Logo em seguida, o reverendo pároco ingressa na recém abençoada igreja para celebrar o Santo Sacrifício, respeitando a liturgia da Santa igreja é cantada a missa dos Santos Apóstolos.

Na tarde daquele mesmo dia, ocorreu o solene translado das imagens da Matriz provisória para a nova Igreja Matriz. O belo e longo cortejo saiu da Igreja do livramento precedido pelas pias irmandades existentes no nosso município, trazendo a frente suas cruzes processionais e tochas, além das bandeiras e estandartes que as identificavam. Eram elas: Irmandade das almas, Irmandade do Santíssimo Sacramento, Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dia homens Pretos, irmandade de Nossa Senhora do Livramento dos homens pardos, irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, Irmandade do Bom Jesus dos Passos, entre outros movimentos e associações que também marcaram presença. Logo em seguida, eram trazidas as imagens do nosso Glorioso Padroeiro, Santo Antão, de Nossa Senhora das Vitórias, e a imagem do príncipe dos Mártires, aquele que nos proteje da peste, fome e guerra, São Sebastião. A multidão afluía de todos os cantos da cidade para participar de tão grandiosa comemoração, girândolas e mais girândolas subiam aos céus, 2 bandas marciais acompanhavam o solene cortejo que se dirigia para a nossa atual Matriz, ao chegar ao novo templo, era nítido no rosto de cada Antonense a alegria, o júbilo, a satisfação por um feito majestoso, brados e vivas expressavam tamanha alegria pelo momento que ficaria marcado pelos séculos seguintes na história da cidade.

Para concluir as celebrações, o Cônego Marcolino se dirige ao Púlpito e profere um belo discurso direcionado ao grande ato ocorrido naquele dia, após suas palavras, o Santíssimo sacramento foi solenemente exposto e foi recitado o solene Te Deum em ação de graças pelo grande feito, foi dada a benção com o Santíssimo Sacramento, concluindo assim os solenes atos pela inauguração do templo. A Matriz de santo Antão está intimamente ligada com a história da nossa cidade.

Grandes sacerdotes já passaram por ela, Cito aqui alguns: Cônego Marcolino Pacheco do Amaral, Cônego Bernardo de Carvalho Andrade, Monsenhor Américo Vasco, Padre Pedro de Souza Leão, Monsenhor Américo Pita e Monsenhor Renato, sendo o 20° Pároco e tendo passado mais de meio século a frente desta paróquia. São 800m quadrados de suntuosidade, em estilo neoclássico, sendo composta pelo Altar amor é mais 6 belos altares laterais, a Matriz de Santo Antão encanta a todos que a visitam pela sua beleza, tendo construída em estilo neoclássico, vale ressaltar a beleza das cornijas e capitéis que ornam a Matriz, além de belas imagens que ornam o presbitério e as capelas larerais. Cabe a nós hoje sermos gratos aos nossos antepassados e erguemos aos céus uma prece de gratidão por termos um dos mais belos templos do interior pernambucano em nossa cidade, mantendo vivas nossas belas e seculares tradições. Dentro desse clima festivo, já sentimos o gostinho de celebrar daqui a mais alguns anos os 400 anos de devoção ao Nosso Padroeiro, Santo Antão.

Jean Michell – paroquiano da Matriz de Santo Antão. 

Por motivos opostos o dia 27 de junho marca – para sempre – a história das Igrejas do Rosário e da Matriz.

No constante diálogo histórico entre o passado e o presente, temos apenas uma certeza: o presente de hoje, amanhã, será passado e o futuro de hoje se materializará, em breve,  como presente fugaz,  na passagem para o tempo pretérito, mas não como “peça” morta e  sim como elemento vivo que sempre será revistado.

Assim sendo, nessa dialética constante, o dia de hoje, 27 de junho, pelo menos por dois recortes temporais distintos, mas ligados entre si, ficarão catalogados para sempre na história antonense, sobretudo no que se refere aos dois emblemáticos templos católicos – Matriz de Santo Antão e Nossa Senhora do Rosário.

Hoje, 27 de junho, ficará marcado na história da nossa cidade como o dia da reabertura da Igreja Matriz de Santo Antão aos fiéis,   após longo período fechado, em virtude dos severos efeitos da pandemia do novo coronavirus.  Evidentemente, algo para ser  celebrado  com alegria,  e principalmente com esperança e fé.

Já o dia 27 de junho de 1880, há exatos 140 anos, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos serviu de palco para um dos piores momentos já vividos na nossa cidade. O evento sangrento,  que ficou conhecido como a “Hecatombe do Rosário”, deixou um rastro de morte desilusão no seio da nossa sociedade cujo templo, em função do holocausto, foi obrigado a fechar as  suas portas por um longo período.

A história é assim: viva, vibrante e, às vezes, contraditória… No 27 de junho de 2020, celebramos a reabertura da Igreja da Matriz com a alegria. Já no 27 de junho de 1880,  fomos obrigados a fechar as portas da Igreja do Rosário,  num cenário tristeza e dor… Assim é a vida que segue.

Esse, portanto, é  mais um capitulo da história viva da nossa Vitória de Santo Antão.

…e o São João era assim… – Por Alfredo Sotero (em 1947)

Texto publicado no Jornal O Victoriense em 23 de Junho de 1947 – há exatos 73 anos.

Quando o Brasil era brasileiro e não havia comunistas, nem as moças solteiras sabiam as coisas que sabem hoje, o São João era tão lindo!

De manhã, os bacamartes estrondejavam defronte da igrejinha, nas perigosas viradas do cocho; e os meninos acordavam assustados, querendo saltar da cama de camisola arrastando, para verem como se acordava São João, que a lenda suave dizia que estava dormindo sem parar, no silêncio do céu.

De noite, depois de cear pamonha de côco, canjica, milho verde assado, milho verde cozido, bolos sem conta, a gente ia acender a fogueira votiva que ardia estrelejando o espaço com milhões de trêmulas centelhas. E ia ver no espelho ou na bacia com água, à luz fugaz, às próprias faces, para saber se para o ano ainda estava vivo. E a Maroquinhas, a moça nervosa, espiava e não via, por mais que fizesse, e saía chorando pela casa, a dizer a todos que no ano seguinte já não era deste mundo.

E os “mosquitos” passando pelos pés da gente, as meninas correndo e chorando, para as queixas sem fim às mamãezinhas, contra os meninos desesperados, que só queriam jogar nelas os “diabinhos”…

E o Sebastião, um moleque escanzelado e fedorento, que tinha fé em São João, mas muito em Nosso Senhor Jesus Cristo, e espalhava as brasas da fogueira, que parecia então uma enorme melancia de fogo e madura, aberta, sobre cujas as brasas o moleque danado passava, indo e vindo, como se pisasse flores, mostrando a força da fé…

E os rapazes da vila, depois que as devotas voltavam do terço, para se mostrarem às namoradas, acendiam os buscapés, que abriam na noite as faixas fulgurantes, como línguas de prata líquida, que, soltos no ar negro e calmo, cabriolavam, tombando depois sobre a terra, numa agonia luminosa, estertorante, envoltos num sudário de luz irisada e diáfana, como uma aurora sidérea, nas desoladas regiões polares.

Tudo passou. Calaram-se os bacamartes que os doutores desbrasileirados sepultaram nos báratros do oceano. Tudo se foi. Somente a saudade no coração da gente que ainda vive, vinda daqueles tempos felizes, ainda chorando na estrada do tempo. E quando todos morrerem tudo será silêncio, que é o tumulo branco das recordações extintas.

Alfredo Sotero de Farias, foi natural de Apoti, (Glória do Goitá), diplomado em Farmácia e Química, exerceu sua profissão em Laboratórios. Freqüentando, desde a adolescência, esta cidade e possuindo acentuado pendor para as letras, colaborou na imprensa local e na interiorana, passando a ser assíduo colaborador do Jornal do Commércio, do Recife. Foi um dos fundadores da “Academia de Letras dos Supersticiosos”, com Samuel Campelo, Célio Meira, José Miranda e outros. Em dezembro de 1915, adquiriu e instalou a Rua Barão de Rio Branco nº 22 uma tipografia (Tipografia Gutemberg), que depois vendeu a Célio Meira, na qual foi impresso o bi-semanário “A Coluna” (1916 – 1919), um dos mais bem elaborados jornais do interior. Faleceu em 1981.

COVID – 19: sintonia católica…..

(Vitória de Santo Antão, 28 de março de 2020 – 22:14h) A emblemática imagem do Papa Francisco na Praça de São Pedro, vazia, repercutiu no Mundo. Suas múltiplas interpretações não esconde a gravidade do momento. Em oração,  o Pontífice encorajou o engajamento de todos na luta contra essa pandemia global que atende pelo nome de coronavirus.

Distante territorialmente, mas dentro da mesma sintonia, nossas lentes registraram na tarde de hoje (28), às 17:15h, a Matriz de Santo Antão numa rotina diferente. Com a proibição das celebrações, em função da aglomeração de fiéis, a manifestação solitária no templo passou a ser o conforto necessário aos que tem fé.

O momento, assim como no entorno do planeta terra, já que o torrão do Glorioso Santo Antão  configura-se  como referência de centro – pelo menos para mim –  também é delicado e sugere orações, coragem, fé e reflexões.

COVID -19: mudança de postura no atendimento, já!!

(Vitória de Santo Antão, 27 de março de 2020 – 23:10) Aos poucos a “ficha” está começando a cair. Governos nos quatro cantos do mundo anunciam pacotes fiscais para atenuar os gigantescos efeitos da pandemia,  que atende pelo nome de CORONAVIRUS. No Brasil, após piadas e pronunciamento desfocado do presidente Jair Bolsonaro, surge alguma luz no final do túnel na direção dos mais impactados pelos efeitos colaterais das paralisações.

Na nossa “Aldeia” – Vitória de Santo Antão – os chamados serviços essências funcionam e os não essências do centro pararam, mas os pequenos negócios dos subúrbios “pulsam”, mesmo que timidamente. É possível se ver ações de enfrentamento ao contágio do vírus por parte de algumas empresas. Um supermercado, por exemplo, adaptou uma pia lavatório na entrada do estabelecimento, com sabão e toalha de papel para os clientes fazerem  a devida higienização das mãos. Já por parte das agências bancárias, até o presente momento, não vi nenhuma modificação significativa nesse sentido, ou seja: mudança de postura, acolhimento e sensibilidade ao delicado momento.

Na noite de hoje (27), por exemplo, por volta das 18:30h,  nossas lentes registraram a interferência da Polícia Militar junto aos clientes da agência da Caixa Econômica Federal, localizada na Avenida Mariana Amália, principal corredor bancário da cidade. Aliás, contrariando todas as orientações das autoridades sanitárias, desde logo cedo e ao longo do dia é possível enxergar um “amontoado” de pessoas na referida agência bancária sem que a mesma seja sensível ao momento,  no que se refere à mudança na forma do atendimento presencial em função da pandemia.

No nosso país – em tempo normais –  o seguimento bancários voa em céu de brigadeiro. Pouca concorrência, cobrança dos juros mais alto do mundo, péssimo atendimento, lucros estratosféricos e etc. As autoridades locais precisam cobrar das agencias bancárias vitorienses novas posturas no tratamento com as pessoas nesse momento tão delicado de incertezas oceânicas.

COVID – 19: outra cena para entrar no cardápio dantesco da nossa história.

(Vitória de Santo Antão, 26 de março de 2020 – 23:35h) No compasso global e nacional o cotidiano da nossa aldeia – Vitória de Santo Antão – segue estranho aos dias normais, por assim dizer. Registramos hoje, por volta 19h, o  Pátio do Livramento. Tudo lento e silencioso. Indiferente e alheio ao tal coronavirus só o Anjo, no alto do seu pedestal, de costas para o problema.

Esse silêncio ensurdecedor causa medo, pavor e dúvidas. A população continua assustada! Nada se compara, evidentemente, ao pior momento coletivo já vivido pelos antonenses. Na bucólica e nova cidade da Vitória (1843), logo nos primeiros anos da segunda metade do século XIX, a então “metrópole” conheceu o inferno, em função da cólera. Entre outras cenas dantescas, os registros descrevem fogueiras acesas,  dias e noite, na queima de alcatrão para vencer o mal,  que tinha como aliado as poucas informações das autoridades de então. Resumo da macabra ópera: inúmeras vidas ceifadas e o pior momento já vivido pela população,  na terra desbravada pelo português Diogo de Braga.

Na inquietante trilha global, na qual estamos vivenciando agora, no último ano da segunda década do século XXI, a vida também não está fácil, sobretudo aos pertencentes das camadas menos abastardas financeiramente. O isolamento social,  regulamentado através dos decretos estaduais e municipais,  implica deixa de trazer o pão nosso de cada dia para dentro de casa.

Nas primeiras horas do dia a cidade ainda “se move”, mesmo que homens protegidos sejam vistos aspergindo  produtos químicos sob vias urbanas, logradouros e bancos de praça, em pleno centro comércio, na tentativa de  combater o invasor invisível. Não bastasse todas incertezas, outra cena para entrar no cardápio dantesco da nossa história.

“Dona” Anita no meio da folia……..

O registro é raro. Minha mãe, “Dona” Anita, juntamente com uma das suas irmãs, Teresia, em plena folia,  numa terça-feira de carnaval. O ano não dizer exatamente qual foi. Tenho certeza que foi no inicio dos anos 90 (1990). Minha mãe brincava carnaval por força das circunstâncias, não obstante –  aos 14 anos –  haver conhecido,  num baile de carnaval no Clube Abanadores “O Leão”, o seu primeiro e único namorado – “Seu” Zito Mariano – com quem casou, em 1955, gerando uma prole de onze filhos.

Dizia ela em alto e bom som: “ carnaval para mim é só trabalho e problemas.  A casa se enche de gente. É marido bebendo e chamando todo mundo que passa na rua para comer e beber também. Os filhos pelo mundo,  sem ter hora para voltar e ainda tenho que ter cara bonita  e disposição para passar a noite dançando num baile de carnaval”.

Bom!! Voltemos ao registro fotográfico. Não sei exatamente por qual motivo, mas certamente por alto grau de estresse –  depois de três dias de carnaval –  “Dona” Anita zangou-se com “Seu” Zito em casa. Pegou a irmã pelo braço e, em tom “malcriado”, saiu dizendo: “Zito, cuida da cozinha e dos filhos que vou olhar o carnaval. Não sei que horas vou voltar” – algo inédito para uma dona de casa exemplar, aplicada  e responsável como minha mãe…..

Lá estou no ponto oficial do carnaval da Vitória de então – Pitú-Lanches – e vejo mamãe (com irmã que morava em Recife) andando pela rua – cena impensada. Sai atrás, apertei o passo,  e segurei-a pelo braço,  perguntando: a senhora tá fazendo o quê  aqui? Ainda com a cara abusada disse-me em tom ironia: “brincando carnaval!!! Eu num posso não? Só quem pode brincar são vocês………”

Sem celular e nem whatsapp para enviar uma foto,  avisando que mamãe estava comigo, acabei pedindo para uma pessoa passar lá em casa e avisar.  Curiosamente de cada dez pessoas que  a cumprimentava, nove perguntavam: “cadê Zito?”. Resumo da opera: acabei comprando uma cerveja para ela – que nem tomou – e com um  certo tempo depois começou a chegar outro familiares e tal. Passada a malcriação,  “Dona” Anita voltou para o seu carnaval rotineiro, ou seja: comandar a” muvuca”, promovida por  marido e filhos,  que virava a sua casa por ocasião do reinado de momo…..Velhos tempo……

 

Assim surgiu a Companhia dos Monges em Folia……

Há pouco tempo do Carnaval de 1998, reuniram-se na sede provisória do Museu do Carnaval Maestro Amadeu de Senna, então localizado à Rua Cel. Eurico Valois, nº 26, 1º andar, na nossa cidade, o comerciário Rivaldo Felipe e o historiador André Fontes , para discutir  sobre assuntos relacionados ao  carnaval  vitoriense – de maneira geral.  De posse de algumas fotos passaram a observar  à criatividade individual do povo que desfilavam vestidos de árabes, de pato guizado, de barbeiros e uma infinidade de fantasias.

No meio de tantas fotos estavam duas figuras que sintetizam  tudo o que, doravante,  falaremos: A BANHEIRA MÓVEL ( do nosso inesquecível amigo GERALDO LIMA) e o ANJO DO CARNAVAL (uma das figuras mais populares do carnaval vitoriense,  MANOEL JOSÉ DE SOUZA, O MIZURA).

A dupla – Rivaldo e André –  passou então a discutir com que fantasia iriam brincar o carnaval de 1999. Logo no início pensaram em reeditar uma das antigas fantasias –  certa confusão ocorreu -,   praticamente ambos queriam sair com a cobertura de MORCEGO (com certeza a figura mais popular dos antigos carnavais,  Júlio Mosquito, que desfilava no comando do préstito do Clube Abanadores O Leão). Sem chegar a nenhuma definição, passaram a comentar sobre o filme O NOME DA ROSA. Durante a análise da película surgiu a ideia de levar paz ao carnaval. A vestimenta de monge caiu como uma luva. Seria uma fantasia diferente, criativa, calma…ambos aceitaram. João Francisco desenhou um esboço do traje.

O tempo passou e de repente faltavam apenas três dias para o carnaval –  procurava-se, freneticamente,   uma costureira. As artesãs estavam bastante ocupadas com outras roupas e sempre recebíamos um “não posso”.  Foi quando no Sábado de Zé Pereira Rivaldo Felipe comentou com o amigo Ednaldo Torres sobre os monges.  O radialista ficou bastante interessado e o levou-o  à costureira Dona Zezinha, que a pedido do Ednaldo se prontificou a costurar a roupa de cinco monges.

Dr. Jorge Marinho, o prof. Luís Carlos, o artista plástico João Francisco, o comerciário Rivaldo Felipe e o historiador André Fontes, assim,  puderam então brincar o carnaval de 1999 na santa paz.  Salientemos, então,  à atitude do nosso amigo Dr. Jorge Marinho, que antecipou o dinheiro para a compra do tecido e a confecção das roupas. Estava então criado A Companhia dos Monges em Folia.

Assessoria de imprensa da referida agremiação.

Santo Antão – por Pedro Ferrer

A Igreja Católica no decorrer de sua história atravessou sérias crises tanto teológicas, como morais. Em algumas saiu chamuscada. Chamuscada mas vitoriosa. Vitoriosa, por não ser dirigida por homens, mas sim pelo Divino Espírito Santo. E esse mesmo Espírito intervia nas crises através de sua divina pedagogia. Sabiamente utilizava os próprios homens. Fazia deles, com traumas algumas vezes, é bem verdade, instrumentos de seu magnífico plano, sem agredir, o que o homem tem de mais sagrado, sua liberdade.

No início do cristianismo, por influências do judaísmo e dos sábios gregos, surgiram muitas dúvidas doutrinárias que geraram as primeiras grandes heresias. Para combatê-las, o Divino Paráclito, lançou mão de seus doutores, os grandes padres da Igreja. Era a época da Patrística. Entre muitos temos: João Crisóstomo, Basílio, Inácio de Antioquia, Atanásio, Clemente de Alexandria,  Gregório de Nissa,  Jerônimo, Ambrosio,  Agostinho.

Na obscura Idade Média, novamente a Igreja entra em crise, dessa feita, mais moral que teológica. Entretanto o Espírito de Deus vela por ela. E através dos próprios homens, como Francisco de Assis e Catarina de Sena, encontrou-se a solução.

O mundo evoluiu.  Eis que entramos na efervescência do Renascimento e da Reforma. Mais uma vez o Espírito Santo pedagogicamente vai buscar  Inácio de Loiola, Teresa de Jesus (Teresa de Ávila), Erasmo de Rotterdam, Tomás Moro etc. Personagens cultas, formadoras de opinião, expoentes da intelectualidade cristã. O Pai, com seu carinho, vai ajudando o homem a crescer e os obriga a encontrarem as soluções. Após o Renascimento vem o período Barroco e a Contra Reforma. Nele vamos encontrar  Vicente de Paulo, Bossuet e João Batista de La Salle.

Nos dois últimos séculos despontam, Frederico Ozanam, Charles Péguy, Leão XIII, João XXIII, Pedro Casadálgia e Helder Câmara. Poderíamos citar muitos outros, todavia os mencionados são aqueles que primaram em levar a Igreja a trilhar seu caminho mais original e mais autêntico, a caridade.

E o que tem Santo Antão a ver com essa maravilhosa epopeia da Igreja? Retornemos aos primeiros séculos. Santo Antão foi contemporâneo de alguns dos Santos Padres.

Os Santos Padres, é importante frisar, nasceram num marco teológico que foi se originando a partir do Novo Testamento e são os detentores do legado da Igreja apostólica. Legado que tinha como principal opção, os pobres e os oprimidos.

Alguns dos Santos Padres da Igreja, como é o caso de Agostinho, que tinha dois anos de nascido quando Santo Antão morreu, receberam forte influência da carismática figura que era Santo Antão. Sua contagiante personalidade irradiou-se por muitos séculos.  Seu exemplo de fé, de desprendimento, de amor aos pobres marcaram, não só Santo Agostinho, o principal doutor da patrística latina, mas uma multidão de monges. Santo Antão com sua vida contemplativa solidificou e expandiu a prática monástica. Vale registrar a considerável marca que nosso PADROEIRO imprimiu na vida de Atanásio, um dos Santos Padres. Atanásio, quando jovem, atraído pela vida ascética, foi viver ao lado de Santo Antão que levava uma vida austera e contemplativa no deserto. Um dia, Alexandre, o Bispo de Alexandria, cidade egípcia que fica às margens do Mediterrâneo, visitando Santo Antão, conheceu Atanásio. Convidou-o para ir assessorá-lo em Alexandria e o ordenou diácono. Nessa época surgiu o arianismo, heresia que negava a divindade de Jesus Cristo. Essa doutrina causou muitos estragos entre os cristãos da época. Silenciosamente, pedagogicamente, “sem querer, querendo”, o Divino Espírito chamou Atanásio, que se tornou o cruzado da divindade de Jesus Cristo. Assumiu a causa, defendeu bravamente a ortodoxa doutrina, atraindo para si muitos inimigos.

Mais tarde, Atanásio, que foi canonizado após sua morte, enlevado pelo exemplo de Santo Antão, resolveu escrever lhe a biografia. Biografia essa, que tornou Santo Antão mais conhecido, difundindo seu exemplo, colaborando para propagar e solidificar a vida monástica.

Pedro Ferrer

Histórias do Carnaval Antonense: o escritor Célio Meira, meu avô, se irritou com a chacota!!

Certa vez, uma irreverente toada fez o nosso querido e saudoso Célio Meira se retirar do tablado. Estávamos na fase aguda da primeira grande guerra e Célio era um francófilo capaz de brigar com quem tentasse, nesse particular, combater as suas ideias. Era nosso Ministro do Exterior o dr. Nilo Peçanha. Acontece que a Cambinda para, diante do tablado e ataca:

“O Doutor Nilo Peçanha
Pela Pátria brasileira,
– Mandou chamar Célio Meira
P’ra acabar com a Alemanha”.

Ceciliano não gostou da graça. Essa quadrinha foi atribuída a Samuel Campelo que, no entanto, sempre negou, Teria sido de meu pai, Joaquim de Holanda Cavalcanti. Muitas pessoas o davam como sendo o autor. Não sei…

O que sei é que a “Lagoa do Barro” lembra o Carnaval. Era lá o quartel general da folia, transformada em bosque e, à noite, com sua profusão de luzes, num vasto salão iluminado.

Até 1929, o nosso Carnaval, embora desfigurando-se  cada ano, guardou esse aspecto.

Extraído da REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO – Volume 6º – 1976 – Páginas 102 e 103.

Histórias do Carnaval Antonense: o horário “maluco” dos Monges!!

De maneira original, a Agremiação Carnavalesca Companhia dos Monges em Folia alardeia que, na noite do sábado de Zé Pereira, precisamente,  às 21:32h terá inicio o seu desfile. Não existe nenhum registro, até agora, que o horário oficial não tenha sido “mais ou menos ”  cumprido.

 Essa peculiaridade, por assim dizer, surgiu logo no primeiro desfile da agremiação por sugestão do amigo Zé Carlos da Gráfica. Na cabeça do dele, que mais perece um papa-figo de antigamente, o horário seria uma  “jogada de marketing” para “chamar” a atenção dos foliões.

Dizia ele: “doido, com esse horário maluco todo mundo vai perguntar se vai sair na hora mesmo e também quem inventou essa besteira”. Resumo da ópera: até um relógio “gigante”, marcando a hora 21:32h,  a diretoria mandou confeccionar.

Histórias do Carnaval Antonense: O dia em que O LEÃO foi enterrado pelo CAMELO.

Sempre que tenho oportunidade de falar, repito: não sou velho, mas carnavalescamente falando vivi o restinho de tudo aquilo que hoje só habita nas paredes da memória dos mais velhos. Vivi o mela-mela, o corso –  com suas “batidas” automobilísticas, as disputas das orquestras, os belíssimos carros alegóricos, os animados bailes de sede, os concorridos ensaios de rua na Pitú-lanches, as comissões com livro de ouro debaixo do braço e porque não dizer, entre outras coisas: o restinho da rivalidade entre LEÃO e o Camelo.

Deixei, a propósito, o tema RIVALIDADE por último, para justamente, narrar um acontecimento, ocorrido na terça-feira de carnaval 1991, onde nós, “camelistas” liderado pelo então Presidente Joel Neto, protagonizamos cenas de um carnaval, cujo o “oxigênio”, como já falei, se socorria na RIVALIDADE.

Muito bem, vamos à história:

Ano de 1991, noite de terça-feira de carnaval. Ao chegar, por volta das 19h na sede do Clube Vassouras “O CAMELO”, juntei-me aos companheiros da jovem diretoria e fui logo  recebendo o recado: “Joel Neto quer falar com a gente, ele tá aí com uma novidade”.

Naquela ocasião os “coroas” do Camelo, presentes ao desfile foram: Elias Ramalho, Dodó da Gamela, Berilo, Miro Caboclo e “jogando” no time intermediário (meia idade”) Joel Neto. Os mais jovens eram: Fernando, Puã, Alexandre da Gamela, Edalvo, Léo, Murilo, Mano do Cartório, Clodoaldo, Silvio de Velho da Pitú e Eu.

Pois bem, naquele ano, salve engano, estava completando uma sequência de três anos, consecutivos sem o desfile do Leão no carnaval da Vitória. Joel Neto, que ainda gosta da “cachorrada”, aproveitando essa “turma Jovem” e empolgada, disse que só iríamos saber da novidade quando chegássemos na casa de Miro Caboclo, localizada na Rua Imperial (Matriz).

Durante o percurso, o nível de ansiedade da turma jovem só fez aumentar, todos se perguntavam: “que “diabo” de novidade é essa que Joel Neto tem para nos contar?”

Em certo momento, fomos convidados a entrar na casa de seu Miro, lá,  tomamos cada qual umas três lapadas de uísque e,  só assim, a tal novidade foi revelada.

Joel Neto tinha mandado confeccionar uns roupões pretos com desenhos e máscaras de caveiras e uma pequena  alegoria, para ser carregada nas mãos, que revelava a figura de um LEÃO –  feio e fraco –  quase morto.

Assim sendo, quando saímos da casa de seu Miro, fantasiados de CAVEIRAS, carregando nos braços aquele LEÃO quase morto, a “galera” do Camelo foi ao delírio e  o desfile ganhou uma nova empolgação. Assista o vídeo:

Após contornamos a Praça da Matriz, propositadamente,  paramos em frente a sede do  Clube Abanadores o LEÃO, ao som de  uma marchas fúnebre,  e fizemos o enterro simbólico do Clube Abanadores O LEÃO. Em certo momento algumas pessoas, mais empolgadas, começaram a chutar a porta do clube. Nesse instante, Joel Neto, com sua autoridade de presidente, controlou a situação.

Saímos,  então, “cantando vitória” no retorno a nossa sede, localizada no bairro do Livramento e,  até chegar lá, o pau cantou em cima da “alegoria” do Leão quase morto.

Uma semana depois do enterro simbólico, quando passei pela calçada da casa do senhor Zé Lourenço,  na Matriz,  torcedor “fervoroso” do Clube Abanadores O Leão,  disse-me ele: “filho de Zito, vem cá. Eu vi você chutando a porta do Leão, vou dize a seu pai, ele não vai gostar de saber disso não viu!!”.

Bem, confesso que fiquei meio “cabreiro”. Mas, caso papai viesse a me reclamar, a resposta já estaria  na ponta da língua: “foi Joel Neto que inventou tudo isso”.

Pelo sim, pelo não, acho que seu Zé Lourenço falou com papai, mas como Seu Zito Mariano era  CAMELO de coração, no fundo, no fundo, acho até que ele tenha  gostado da nossa, digamos assim, transgressão carnavalesca. Histórias do carnaval……..

 

O Tempo Voa Documento Especial: Reminiscências natalinas – Por Prof. José Aragão (1999)

Dos natais de minha infância, recordo, enternecido, dispostos em ordem, através do velho Pátio da Matriz, nesse tempo coberto de capim e outros arbustos silvestres: o carrossel, cheio de cadeiras e cavalinhos, movido à mão, ao som de melodias tocadas por uma caixa de música; as barracas de prendas de José Menezes e do José Viana, com cadeiras em torno dos armarinhos onde ficavam os objetos a ser sorteados entre os compradores de bilhetinhos feitos à mão; os bares improvisados, com mesas e cadeiras espalhadas em torno da praça; os botecos onde se vendiam quinquilharias, miudezas e brinquedos infantis; os tabuleiros dispostos em fila com bolos, alfenins e confeitos, tendo ao lado um pote com água fria para os fregueses; os presépios e os pastoris.

A iluminação era feita por bicos de latas de carbureto, pendurados em postes de madeira. Nas barracas e na frente de Matriz, lâmpadas a álcool.

De caibros fincados no chão, sustentando folhas de coqueiro, partiam os cordões de bandeirinhas multicores, feitas de papel de seda, circundando e cruzando toda a área da festa.

Por todos os becos, ruas e travessas convergiam ao pátio levas de matutos que acorriam à cidade para ouvir a Missa do Galo.

Rapazes e moças, em grupos, contornavam a praça, discreteando amável e respeitosamente sobre trivialidades próprias de sua idade, usufruindo o prazer natura de mentes jovens e sonhadoras em melífluos encontros.

As crianças, levadas pelas mãos dos pais, visitavam as várias estâncias de pura e inocente alegria, dispostas no vasto pátio, mais interessadas em ver os presépios e montar num dos cavalinhos do carrossel.

No centro, em coreto improvisado, a Banda Musical executava peças do seu repertório: dobrados, valsas, chorinhos, marchas etc.

Dos presépios, lembro-me do armado pelo sacristão da freguesia, Benjamim Bezerra, numa casinhola situada na esquina da rua Silva Jardim com a chamada “Vila Maria”, residência do vigário.

Pastoril famoso foi o organizado pela professora Amélia Coelho com as suas alunas, meninas-moças das mais destacadas famílias vitorienses, o qual se exibia num palanque armado ao lado direito da Matriz, arrancando aplausos delirantes das torcidas dos cordões azul e encarnado.

E assim, entre os devaneios da juventude, a euforia natural da matutada que vinha à cidade ostentando as vestimentas da festa, e a cordialidade reinante entre as famílias, vivia-se o espírito do Natal em sua essência.

À meia-noite, o sino grande da Matriz tocava badaladas, a princípio, pausadas e, logo, apressadas, anunciando o início da Missa.

No altar em frente à porta central do templo, sobre a calçada, celebrava o sacerdote a Missa do Galo, ouvida com unção religiosa, tendo como ponto alto o canto do Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.

Repetia-se unissonamente a mensagem angélica, anunciando aos pastores o nascimento do Menino-Deus.

Quantas suaves reminiscências desses Natais que vivi, embevecido pela grandeza e sublimidade do sagrado mistério da Encarnação do Filho de Deus, nascendo numa pobre manjedoura para redimir a humanidade, e fascinado pela singela beleza das comemorações ternas e pias desse grande evento! 

Prof. José Aragão
Texto publicado na Gazeta do Agreste,
 Dezembro / 1999.

Nestor de Holanda Cavalcanti Neto – por Pedro Ferrer

Nasceu na Vitória de Santo Antão, no ano de 1921. Desde cedo mostrou pendores para as letras. Era neto do Nestor de Holanda Cavalcanti, farmacêutico, estabelecido na atual João Cleofas. Ficou órfão ainda criança. Sua genitora ficou residindo algum tempo na casa dos sogros. Logo partiu para o Recife, levando em sua companhia o casal de filhos. Foram residir na rua do Sossego, bairro da Boa Vista. Mais tarde ele escreveria um romance cognominado: “Sossego, rua da revolução”.

Na capital trabalhou na imprensa, escreveu peças, poesias e compôs inúmeras músicas em parceria com Nelson Ferreira, Levino Ferreira, Luís Gonzaga. Aos 19 anos partiu para o Rio de Janeiro. Sua veia de escritor abriu-lhe as portas de revistas, jornais, rádios, teatros e finalmente TV.

Trabalhou em inúmeros jornais. Foi redator de rádios e TV. Escreveu muitas peças para teatro de revistas e compôs centenas de músicas. Entre seus parceiros citaria: Ary Barroso, Dolores Duran, Lamartine Babo, Ismael Neto, Haroldo Lobo. Suas crônicas prendiam-se muito a fatos ocorridos no Rio de Janeiro e na sua terra natal. Merecidamente ganhou o título de Cidadão do Estado da Guanabara. Nessa época seu livro, “A ignorância ao alcance de todos”, vendeu 120 mil exemplares, valendo-lhe o título de  escritor de maior venda no Brasil, na década de 1960. Nestor morreu jovem, no dia 30 de novembro de 1970, com apenas 49 anos. Jorge Amado, o famoso escritor baiano, resumiu em três linhas a importância, o valor e a originalidade de Nestor de Holanda: “Com Nestor de Holanda estamos longe de todo formalismo sem sentido com que certos escritores buscam esconder a inutilidade de sua voz. Nestor é um homem do seu tempo e do seu povo”.

Recomendo ao leitor seu livro “O decúbito da mulher morta”. História ocorrida na nossa cidade.

Finalizo transcrevendo algumas palavras escritas por Rachel de Queiroz, escritora cearense, primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, por ocasião da sua morte: ““Contista e, acima de tudo, cronista, esse pernambucano de Vitória de Santo Antão assimilou melhor do que ninguém a alma e a graça do carioca, sua irreverência, seu humor desabusado, sua mordente sátira, entremeada de momentos de enternecimento e romantismo. Curioso é que conseguiu figurar assim entre os mais “cariocas” dos cronistas desta cidade do Rio, sem por um instante imolar sua condição de

homem vindo do Norte, parte daquela frente migratória anunciada por Manuel Bandeira em “São os do Norte que vêm”. O carioquíssimo “Sargento Iolando” jamais esqueceu ou sonegou o menino de Vitória, suas lembranças, saudades, e pontos de vista. A simbiose de ambos foi o milagre do talento – talento era coisa que não faltava a esse que nós choramos tão cedo, partido muito antes do seu tempo natural, quando ainda teria tanto para dar ao jornalismo, nas letras, na vida.”

Pedro Ferrer – presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória. 

 

O Veneno das Mulheres – por Pedro Ferrer

“O Veneno das mulheres”. Com este título, o Lidador, no início da década de trinta, exatamente, no dia 14 de janeiro de 1933, publicava, em sua primeira página, o resultado de  uma pesquisa, vindo da Áustria. Essa pesquisa estabelecia, melhor diria, tentava estabelecer uma base científica, sobre uma escabrosa mentira contra o sexo feminino. Velha mentira que remontava ao tempo de Moisés. O Levítico, um dos livros do Antigo Testamento, trata com detalhes sobre o tema e estabelece até normas de comportamento. A mulher, de acordo com o artigo, secretaria no período menstrual, um hormônio capaz de prejudicar o comportamento e a fisiologia dos que a cercavam. Essa afirmação foi proferida por um cientista austríaco, Schick, que deduziu através de suas pesquisas que as mulheres durante a menstruação secretavam um hormônio, o menotoxina. O dito cujo hormônio tinha efeitos espantosos sobre a fermentação e sobre os seres vivos, vegetais e animais.  Uma mulher, que menstruada estivesse, a bater a massa de um pão  ou de um bolo, não conseguia fazer a massa crescer. O menotoxina inibia a ação do fermento. As flores desvaneciam-se e até mesmo  os animais sofriam modificações em sua fisiologia. Essa teoria, da ação negativa do menotoxina impregnou-se no subconsciente popular e foi incorporado à nossa cultura. Hoje, sabemos  que tudo isto é falso, não passa de crendice e superstição.

Lendo este artigo rememorei o dia em que o destilador do  engenho Cacimbas não me permitiu ingressar na destilaria com algumas amigas. Na ocasião não entendi a razão da proibição. Queixei-me ao meu pai da decisão do destilador. Para mim era um absurdo ele impedir nosso ingresso na destilaria. Meu pai ponderou que uma, entre elas,  poderia estar no período menstrual e a fermentação estaria comprometida.  Infelizmente, esse conceito permanece ainda hoje no meio rural. Um vaqueiro da fazenda,   Teju,  não  fazia tratamento, nem nenhuma outra intervenção no gado, quando sua mulher menstruava. Dormindo ao seu lado, sentia-se contaminado.

Pedro Ferrer

DIA  NACIONAL  DO  BIÓLOGO – por Pedro Ferrer

Hoje, 3 de setembro, é um dia especial para esta categoria que tem como característica fundamental o estudo da vida através de pesquisas, ensino e proteção da mesma. A profissão foi regulamentada em 3 de setembro de 1979, durante o governo do presidente João Batista Figueiredo.

Seu Conselho Federal encontra-se em Brasília do qual tive a honra de ser presidente durante 3 anos.

É uma profissão dinâmica e atuante. Tem um grande potencial de crescimento sobretudo hoje com os graves problemas ambientais e de saúde já que sua formação acadêmica inclui o estudo dos micro organismos, dos vegetais, dos animais inclusive o homem.

Após a formação na graduação, o biólogo pode fazer cursos de especialização em diversas áreas, tais como, Zoologia, Zootecnia, Engenharia Genética, Genética Humana, Análises Clínicas, Biologia Marinha, Biologia Celular, Botânica (estudo das plantas), Ecologia e Meio Ambiente, etc.

O Conselho Federal conta com o apoio de oito Conselhos Regionais no trabalho de apoio e proteção aos biólogos. Nossa região está incluída no Conselho Regional 5 que inclui os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.

SÍMBOLO DA PROFISSÃO:

Analisemos o significado, a essência desta logo marca. Comecemos pelo círculo utilizado como base para os demais elementos. O círculo na simbologia representa a união e perfeição, daquilo que começa e acaba em si mesmo. Assim, ele condiz com a proposta do próprio Conselho, somando e interligando valores, laços e vínculos entre os profissionais representados por essa instituição. Também representa o movimento, a atividade, reproduzindo a busca por melhores dinâmicas entre as relações dos biólogos. O azul, usado de forma mais clara no círculo, é uma cor profunda e calma, que a princípio, representa a água, mas que também passa a ideia de maturidade. O azul também é a cor da biologia. A estrutura do DNA traz à tona um elemento sempre presente no cotidiano do profissional da área de biologia. A base de sua estrutura forma um espermatozóide, que fecundando o óvulo (círculo azul) dá origem a uma nova vida, com toda sua complexidade – a essência da profissão do biólogo. Fator de grande importância para qualquer ser vivo, sendo a base dos estudos biológicos, a natureza é representada pelas folhas da base do círculo. Sua cor,  não poderia ser outra, senão o verde, pois é a cor universal para a representação da natureza, passando a idéia de frescor, harmonia e equilíbrio.

A espiral, que se encontra dentro das folhas, é o símbolo da evolução e do progresso. O biólogo sempre deve buscar novos estudos e pesquisas que possam atualizar seus conhecimentos e acrescentar informações úteis a sua profissão. Esse elemento também possui uma interpretação mais subjetiva, podendo ser traduzido de diferentes formas, como por exemplo, a representação de um caracol ou da asa de uma borboleta, mostrando a interação do biólogo com a biodiversidade e o Planeta, na buca de sua conservação, manejo e sustentabilidade. O símbolo traduz conceitos que envolvem o cotidiano do biólogo e também a importância da vida para essas profissionais. Ao agregar valores de união e evolução à marca CFBio, busca-se demonstrar a forma dinâmica e pró-ativa de relacionamento do Sistema CFBio / CRBios com o biólogo e a sociedade.

Segue, abaixo, respectivamente, duas homenagens: Conselho Federal e Regional (CRBio 5) de Biologia.

Conselho Federal – Brasília – 2009

Conselho Regional.

 

Pedro Ferrer – presidente do Instituto Histórico.  

 

 

 

 

 

Antão Bibiano da Silva – por Pedro Ferrer

Aproveitando a sugestão do internauta Antônio Maciel, vai aí uma das personalidades vitorienses que integrará nosso próximo livro: “Construtores da Vitória de Santo Antão”.

Antão Bibiano da Silva, filho de José  Francisco da Silva e de Josefa Paraguassu, natural da Vitória de Santo Antão, veio ao mundo no dia 8 de março de 1889. Ainda pequeno, já confeccionava bonecos de barros e talhava na madeira. Eram os primeiros sinais dos dotes artísticos do grande escultor vitoriense reconhecido nacionalmente. Bem cedo, por interferência do seu padrinho, o tabelião local, Leobardo Carvalho, mudou-se para o Recife. Seguiu depois para o Rio de Janeiro onde cursou a Escola Nacional de Belas Artes. Mas Bibiano não esquecia Pernambuco. No ano de 1917 voltou ao Recife para se casar com Lygia Francisca da Silva, linda mulher que se tornou sua parceira  e inspiração. Na ocasião fixou residência na rua do Lima, bairro de Santo Amaro, onde nasceu Letícia, sua única filha. Em 1922 participou de um concurso em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, obtendo o quarto lugar, o que lhe valeu um prêmio de cinquenta contos de réis. Com esta importância viajou, acompanhado da mulher e filha, para o Rio de Janeiro onde permaneceu por um ano. Mas suas raízes estavam no Recife para onde regressou, vindo a se estabelecer na rua do Hospício, bairro da Boa Vista. Seu atelier, que era bem decorado com móveis finos e cortinas em veludo vermelho, era um ponto de atração na cidade. No dia 29 de março de 1932, reunido com um grupo de artistas locais, entre os quais Baltazar da Câmara, Murilo La Greca, Heitor Maia Filho e Henrique Elliot, resolveram fundar a escola de Belas Artes de Pernambuco. Bibiano foi escolhido para ser seu diretor. Logo após, por razões  profissionais, foi residir no Rio de Janeiro,  lá permanecendo até 1936. No ano seguinte, 1937, voltou ao Rio de Janeiro. Nessa ocasião a permanência foi bem mais longa. Apesar da boa situação financeira e do prestígio que desfrutava na Capital Federal resolveu, no ano de 1950, retornar ao Recife. Aqui chegando assumiu uma cadeira na Escola de Belas Artes da UFPE. Suas criações encontram-se espalhadas em diversas cidades brasileiras. Na Vitória de Santo Antão temos a oportunidade de ver algumas delas: o Leão Coroado, na praça da Estação; o busto de Antônio Dias Cardoso localizado na praça 3 de Agosto; o busto de Antão Borges na avenida Silva Jardim; o busto de Melo Verçosa, no Alto do Reservatório; o busto de Duque de Caxias, na praça do mesmo nome. Muitos outros trabalhos foram criados por Antão Bibiano Silva, com destaque para as esculturas que decoram o alto da fachada do Tribunal de Justiça, da capital pernambucana; o busto de José Mariano, no Poço da Panela, em Casa Forte-Recife; busto de Getúlio Vargas (Salão Nacional, RJ); busto de Eládio de Barros Carvalho (Náutico); estátua de D. Malan (Petrolina); busto de João Fernandes Vieira (Várzea-Recife); busto do escritor José Condé (Caruaru).

Pedro Ferrer

Recordar é Viver – por Pedro Ferrer.

No intuito de pesquisar sobre a história do nosso aeroclube lancei-me numa busca no jornal “Diário da Manhã”, matutino circulante na capital, durante boa parte do século XX. Deparei-me com esta pérola que merece, no meu entender, ser publicada, pelo tom jocoso e pela abordagem do método de fazer política de José Joaquim da Silva, que de acordo com Pilako permanece até hoje.

Para os menos avisados ou pouco versados em nossa história, especialmente os políticos que adoram trocar nomes de logradouros, RONCADOR é o riacho que passa por baixo da avenida Mariana Amália e Aquino foi um vereador que chegou a ser presidente da nossa Câmara de vereadores e fazia ferrenha oposição ao prefeito de então.

“Com maioria na Câmara, o sr. Agamenon (Governador) não terá necessidade de convidar os demais partidos para colaborarem com o seu governo, porque lá na Assembleia estará um deputado como JOSÉ JOAQUIM FILHO para, com ardor do seu verbo, com a pujança da sua inteligência, defender as críticas que forem feitas.

Convém não esquecer o sr. Agamenon que o seu deputado da Vitória de Santo Antão, quando vereador ali, proferiu tais e tantos discursos que dominou a Câmara local. Foram tantos os seus projetos que o prefeito, por sinal pai do grande tribuno, se atrapalhou de tal forma que só conseguiu fazer três coisas que o município jamais se esquecerá: a Bomba do Roncador, uma banca de jogo que se estendeu por todo o município e uma surra no vereador Aquino”. (Diário da Manhã, Recife, 8 de novembro de 1950).

Pedro Ferrer – presidente do Instituto Histórico da Vitória. 

Demóstenes de Olinda d’Almeida Cavalcanti – por Pedro Ferrer.

No dia 20 de setembro de 1873, a senhora Edeltrudes de Holanda Cavalcanti d´Almeida deu à luz uma criança do sexo masculino. O pai, major Claudino José de Almeida Lisboa, pôs-lhe o nome de Demóstenes de Olinda. Vitória de Santo Antão ganhava um poeta e escritor. Concluído seu curso primário, partiu, em 1886, para o Recife na tentativa de realizar um ideal acalentado desde a mais tenra idade, bacharelasse em Ciências Jurídicas. Matriculou-se no Ginásio Pernambucano. Disciplinado em tudo: no acordar, no vestir e no estudar, logrou grande êxito nos estudos, sendo um destaque em classe. Nos horários extraclasses criou com alguns colegas um pequeno jornal, “O Literário”. Terminado o “Curso de Humanidades” ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Ainda estudante das ciências jurídicas, colaborou com diversos jornais da capital escrevendo artigos, crônicas, contos e poesias. Em dezembro de 1895 recebeu seu diploma de bacharel em Direito indo trabalhar na diretoria da “Instrução Pública” e de “Melhoramento do Porto do Recife”. Seu único livro publicado, “Ortivos”¹, em 1894, ainda estudante, não teve a devida divulgação mas é carregado em sentimentos. “Pelos seus versos sente-se que o seu cantar era o amor, a felicidade, o sonho, a alegria de viver, e só raramente cantava a dor, o sofrimento” (Júlio Siqueira).

Em 1897 foi nomeado promotor público da comarca do Alto Rio Doce, Minas Gerais. Seu bom desempenho mereceu-lhe uma rápida promoção, juiz da cidade de Patrocínio, na mesma Alterosa. Não teve tempo de assumir o novo cargo. No dia 15 de agosto de 1900 faleceu, deixando viúva a senhora Augusta Olinda de Almeida Cavalcanti. Não tiveram filhos.

Além do seu livro “Ortivos”, único editado e publicado, deixou inúmeras poesias avulsas, dispersas tanto em Pernambuco, como no Rio de Janeiro e em Queluz, cidade mineira onde faleceu.

Em 26 de janeiro de 1901 um grupo de escritores pernambucanos, liderados por Carneiro Vilela, criaram a Academia Pernambucana de Letras, tendo o nome de Demóstenes sido indicado para Patrono da Cadeira, nº 20. Era o mais alto reconhecimento do mérito literário daquele que tão cedo partira para a eternidade. Esse reconhecimento se estendeu e se manifestou ainda com a publicação de sua biografia no Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco e no Almanaque de Pernambuco. Foi ainda homenageado na capital pernambucana com a aposição do seu nome em uma rua do bairro da Madalena. Semelhante reverência recebeu da prefeitura de Camaragibe que deu seu nome a uma rua em Aldeia. Vitória de Santo Antão também soube reverenciar a memória do seu ilustre filho, colocando seu nome em uma rua no bairro do Cajá.

.NOTURNO

Sonhei ( ai se eu assim sempre sonhasse:)

Que, reclinada, tinha-te ao meu lado,

e te beijava a loira fronte, a face

rubra e o rubro seio perfumado.

Que esse meu sonho azel sempre durasse:

que de leve não fosse perturbado

o sono meu: que nunca eu despertasse

senão na clara noite do noivado

Isto eu pedia aos céus ainda ouvindo

a doce prece dos teus lábios, quando

vou de repente as pálpebras abrindo…

Despertaste (dirás) verso cantando…

mas não: eu não te vendo ao lado, rindo,

só poderia despertar chorando!…

ESCURO TEMA

Cada vez que te falo me convenço

que melhor fora se te não falasse,

porque se em ti eu tanto não pensasse,

não te falava do que menos penso.

E digo mesmo que este amor intenso

que guardo n’alma, eu antes não guardasse,

pois dos loucos, se assim eu não te amasse,

não pertencia ao número e pertenço.

Longe de mim não és feliz, ausente

de ti não sou feliz: mas os desejos

que temos se resumem num somente.

Ah! Não termos do pássaro os adejos

para estares comigo eternamente

e eternamente eu te cobrir de beijos!

ORTIVOS¹ – VERSOS

Hugo & Cia – Editores

Papelaria Americana

Recife – 1894

1 – Ortivo = nascente, que está nascendo, oriental.

Pedro Ferrer – presidente do Instituto Histórico da Vitória.