No bairro recifense de São José, onde há, ainda, ruas estreitas e tortuosas, que trazem, ao espirito dos estudiosos, a recordação histórica do Recife, ao tempo da colônia, nasceu, no dia 4 de janeiro de 1862, Claudino Rogoberto Ferreira dos Santos, uma das figuras que mais elevaram, e enobreceram, no sul do país, o nome de Pernambuco. Discípulo querido de Tobias Barreto, companheiro inseparável, no dizer do ilustrado historiador Sebastião Galvão, de Arthur Orlando, de Clóvis Bevilaqua, de Afonso Olindense, de Nilo Peçanha, conquistou, aos 24 anos de idade, a carta de bacharel em direito, na companhia de Epitácio Pessoa, de Alfredo Pinto, o futuro ministro de Epitácio, do vitoriense José Rufino Bezerra Cavalcanti, de Graça Aranha, de Júlio de Melo, de Castro Pinto e de Metódio Maranhão.
Cursava o segundo ano de, na Faculdade de Direito do Recife, quando publicou o “Estatuarias”, livro dos primeiros versos, com um prefácio de Faelante da Câmara, entregando, mais tarde, às livrarias, o “Ebulições” e o “Sons e Brados”. Poeta de delicada sensibilidade, jornalista vigoroso, teve Claudino dos Santos, brilhante atuação, na imprensa pernambucana, fundando, em 89, no Recife, narra aquele historiador, o “Diário de Notícias”.
Diplomado, iniciou-se na advocacia, deixando-a, em breve, para seguir a magistratura, no Estado do Paraná, cenário grandioso de sua vida breve. E luminosa. Doutrinando a “A Federação” , aderiu, em 93, ao movimento revolucionário de Custódio, de Saldanha e de Gumercindo Saraiva, e, derrotado, conheceu o amargou do exílio, na Argentina. Anistiado, regressou à carinhosa terra adotiva, onde fundou o “Colégio Paranaense”, escrevendo, a esse tempo, os “Primeiro e Segundo Livros de Leitura”.
Restabelecida a ordem pública, e realizado o congraçamento dos partidos, surgiu Claudino, na arena política, e nos altos postos da administração. Foi secretário da Aviação, diretor da Instrução Pública e secretário da Justiça. Revelando, nesses cargos, elevação moral, e cultura rutilante, confiou-lhe o governo, com os aplausos do povo, a prefeitura da formosa Curitiba. E não perdeu, esse pernambucano ilustrado, nunca, a admiração dos seus governados. Administrou com justiça e honestidade.
Dirigia, Claudino, o barco do município curitibano quando se sentiu doente, submetendo-se a uma operação difícil. Os médicos entenderam, porém, que ele devia operar-se, de novo, no Rio de Janeiro. E ele partiu.
Não voltou a rever a terra de suas afeições. Morreu. E sete dias depois, em fevereiro de 1917, Curitiba recebeu o cadáver embalsamado do grande recifense, nascido no bairro de São José. E sepultou-o, chorando à sombra dos pinheiros. (1)
Célio Meira – escritor
(1) Transcrita no Jornal “O Dia”, de Curitiba, edição de 10 de janeiro.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reuno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.