Na velha cidade de Afogados da Ingazeira, abençoada pelo Senhor Bom Jesus dos Remédios, nasceu, no dia 11 de janeiro de 1876, o sertanejo Manuel Arão de Oliveira Campos. Fez o curso primário, na terra natal, não escondendo, desde menino, o amor às letras literárias. Lia e decorava sonetos celebres, e páginas de pensadores famosos, chegando, e é ele, mais tarde, quem nos conta, “ a saber quase toda, de memória, “A Noite na Taverna” de Álvares de Azevedo. Deliciava-se em “ouvir os rábulas no júri da terra”, e redigia “ A Pátria”, jornalzinho manuscrito, e primeira tribuna livre do futuro filósofo e romancista.
Trazendo na alma a lembrança do rio Pajeú, chegou, aos 17 anos de idade, à cidade do Recife, onde começou a trabalhar, estudando e ensinando. O magistério, a imprensa e essa Estrada de Ferro, que é, hoje, a Great Western, foram as três oficinas em que Manuel Arão viveu e trabalhou, febrilmente, durante trinta e sete anos, conquistando as inúmeras vitórias do espirito, que lhe deram projeção e renome, na sociedade recifense, na literatura, na história e nas ciências.
A Gazeta da Tarde, ao tempo de Abdizio de Vasconcelos, foi a primeira trincheira de Manuel Arão. E quando, nos últimos anos do século XIX, se processou, no Recife, um grande movimento literário, batalhando, no “Diário de Pernambuco”, entre outros, João Barreto de Menezes e Artur Baia, e na Revista Contemporânea”, Teotônio Freire, França Pereira, Paulo de Arruda e o vitoriense Demóstenes de Olinda, surgiu, numa das cadeiras de redator daquele “Diário”, o jovem dos Afogados da Ingazeira. E, durante oito anos, permaneceu na estacada, aumentando, dia a dia, o brilho de sua pena e a pureza de sua linguagem.
Reuniu no livro “Ínfimas” em 1893, os versos da mocidade e no ano seguinte, com a colaboração de Ernesto de Paula Santos, publicou o “Notas Pessimistas”. Escreveu, em 97, o romance “ A Adúltera”, publicado na Bahia em 98, o “Magda”, editado no Recife. E dez anos mais tarde, entregou as livrarias o “Transfiguração”, romance, impresso em Portugal.
Colaborador efetivo da revista “Heliopolis” , manteve a secção “Notas sem Claves”. Publicou, em 1917, o “ Visão Estética” e “ A Legenda e a História na Maçonaria”, e logo depois, “ O Claustro” , o maior livro desse escritor sertanejo.
Pertenceu à Academia Pernambucana de Letras, ocupando a poltrona nº 2, de frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, fundada por Gregório Junior, tendo a honra de sentar-se na cadeira da presidência da Casa de Carneiro Vilela.
Morreu Manuel Arão, aos 54 anos de idade, três dias depois de seu aniversário natalício. Afogados da Ingazeira deve homenagear a memória do seu ilustrado filho, o maior, talvez, no século XIX.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reuno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.