O norte-riograndense Manuel Segundo Vanderlei nasceu, em 1860, em Natal, cidade formosa que os homens do passado, no acaso do século XVI, plantaram nas areias, perto do mar e das águas, sussurrantes do rio Potengi. E na cidade do Assú, reclinada Oeste, o menino Manuel Segundo, sendo o primeiro da classe, aprendeu a ler, a escrever, e a contar. Estudou alguns preparatórios no Recife, em 1877, e dois anos mais tarde, informa Ezequiel Vanderlei, no “Poetas do Rio Grande do Norte”, concluiu, na terra onde nasceu, o curso de humanidades. Matriculou-se, em 1880, na Faculdade de Medicina, na Bahia, e em 83, publicou o “Estrelas Cadentes”, livro em que palpitaram, através das cordas de ouro de lira de 23 anos os sonhos, os amores e esperanças de sua mocidade.
Regressando ao torrão nativo, editou, Segundo Vanderlei, “Miragem e Prismas”, iniciando, na clinica hospitalar, inspetorias de saúde, e na cátedra do Ateneu Norte Riograndense, sua vida pública. Médico da pobreza, foi Segundo, bom discípulo de Jesus. E na cadeira de professor, doce apóstolo, conquistando, pelo espirito e pela bondade, o coração da mocidade.
Escreveu, também, esse iluminado poeta do nordeste, para o teatro. E alcançou a admiração das plateias. Representou-se, há trinta anos, mais ou menos, nos teatros da Bahia ao Ceará, com estrepitosos aplausos, o “Amor e Ciúme”, drama de impressionante beleza, aos olhos, aos ouvidos, à alma, e ao coração das gerações do passado. Na ribalta, com a representação, do “Amor e Ciúme”, teve o dramaturgo natalense, sua glória. Morreu na mesma cidade onde viu, quarenta e nove anos antes, a luz do dia. O calendário anunciava o 14 de janeiro de 1909. e à hora em que se fechou a sepultura do famoso escritor nortista, se ouviu, louvando a vida e a obra imperecível do gigante que tombou , a voz amada e límpida, ressoante, e cheira de saudade, de Henrique Castriciano, glorioso poeta de Macaíba, e irmão de Auta de Souza, flor do Céu, que andou, milagrosamente, pela terra.
O povo nordestino ainda não se esqueceu de Segundo Vanderlei. Radicou-se, Segundo, na alma e no coração das massas populares, com versos do “O Poeta e a Fidalga” e do “O Naufrágio do Vapor Baia”. E repetimos, hoje, no dia em faz 30 anos da sua morte, a primeira sextilha do “Naufrágio”:
“Corria a noite em meio; em plácida derrota,
Ia um barco a vogar, qual célere gaivota
Por sobre o dorso azul da vaga boreal…
Venus bela ostentava a sideral grinalda,
Sorria, em baixo, o mar – abismo da esmeralda!
Sorria, em cima, o céu – espelho de cristal!”
E os quatro versos da primeira oitava do ” O Poeta”:
“Bem sei que tu me despresas
Bem sei que tu me aborreces
Que zombas de minhas preces
Com ostensivo desdém….”
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reuno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.