Pilako, antes de vir à Barcelona a única vez que ouvi falar no arquiteto-artista Antoni Gaudí foi quando Caetano, referindo-se a si mesmo, cantava: “sou tímido e espalhafatoso, torre traçada por Gaudí”. Nunca tinha entendido o sentido dessa letra até vir aqui. Praticamente, Barcelona se dobra aos pés do arquiteto e você só entende a razão dessa valorização quando você está diante de um trabalho dele, espantosamente a céu aberto, nas ruas da cidade.
O trabalho dele é assimétrico, contraditório, e por isso Caetano disse que era ao mesmo tempo tímido e espalhafatoso, ou seja, uma torre traçada por Gaudí. Ora, você olha um prédio do homem, na expectativa de enxergar ali um padrão entre uma curva e outra, mas se decepciona (no bom sentido) tamanho o estranhamento. Os olhos fixam-se desejando assimilar tudo aquilo, mas somos constantemente traídos a cada detalhe do trabalho dele. Nem preciso dizer que os arquitetos (alguns que conheci aqui) ficam em polvorosa.
Outro dia estava andando por um parque da cidade, MontJuic, e vi uma vegetação praticamente idêntica às torres que ele fez. Foi quando uma amiga minha me contou que a natureza foi uma fonte de inspiração dele (assim como a funcionalidade).
Como sempre, tentarei aqui fazer reflexões sobre a nossa própria cidade, do que vejo e me encanto, do outro lado do Atlântico. E me recordei que perdemos boas oportunidades por não dar o valor histórico necessário à estética arquitetônica dos prédios antigos de nossa cidade. Lembro que o filme Lisbela e o prisioneiro deixou de ser gravado aí, pois as casas em torno da delegacia estavam modernizadas demais. Ah!, também me recordei da rua Nossa Senhora de Fátima (próximo à Do Carmo chocolataria), com aquelas casinhas coloridas em ordem, que dão um charme pitoresco ao lugar.
Também não falemos só do que há de antigo, falemos também do porvir. Conta Ortega y Gasset que quando Sêneca, ou algum provinciano sofisticado, chegava a Roma e via aquelas construções imperiais, símbolos do poder definitivo, sentia a angústia de que nada de novo poderia trazer para o mundo e que Roma era eterna (e o que poderia ser mais majestoso que aquilo?). Para ele há uma melancolia nas ruínas, que podemos chamar de “melancolia dos edifícios antigos”. Nossos prédios mais emblemáticos, (o sobradinho, as igrejas, a estação e o engenho bento velho, praticamente são cartões postais de Vitória), repousam igualmente melancólicos na nossa cidade. Temos muito arquitetos na cidade, é possível criar uma linguagem própria da arquitetura local?
André, para você Vitória é quase uma Pasargada. Ora, fazer o quê? Somos a metrópole cultural da Mata Sul! Kkkk
Abraços, Pilako!
André Carvalho
Correspondente do Blog do Pilako em Barcelona.
Que belo texto..quanta sensibilidade posta nas palavras por este rapaz.
Só lembro que tudo de antigo e belo que o mesmo ve e verá na Espanha é fruto de séculos e séculos de catolicismo, e nunca da doutrina nazifascista chamada comunismo.
A “beleza e a verdade andam juntas”, por isso que, em Gaudí o belo se perfaz!
Que dá contemplação do belo, de oriigem catolica romana, vc se converta, querido amigo.