HÁ EXATOS 110 anos, (1913), saia do Porto do Rio de Janeiro o navio que levaria o poeta pernambucano Manuel Bandeira à cidade montanhosa de Davos, na Suíça, para uma temporada de tratamento contra a tuberculose. O ar, o clima, a paisagem alpina desse lugar, onde poderia se curtir o visual de cair o queixo, eram tidos milagrosos para quem sofria dessa doença. Foi talvez o período mais difícil na vida do jovem poeta, celebrado como um dos mais representativos do movimento modernista de 1922. Seu poema “Os Sapos” foi o abre-alas da Semana de Arte Moderna, uma sátira ao movimento Parnasiano.
Na mesma época em que Bandeira fora internado no sanatório Schatzalp, numa das mais belas vistas dos Alpes suíços, o ambiente era frequentado pelo Nobel da Literatura Thomas Mann, em visita à sua esposa, Katharina Hedwig Mann, internada (desde 2012) para cura de uma tuberculose. (Apesar de seus evidentes desejos homossexuais, Mann se apaixonou por Katharina).
Foi nesse local que ele buscou inspiração para escrever o clássico “A Montanha Mágica”, traduzido em numerosos idiomas. Foi no Schatzalp “sem a menor esperança de sobreviver”, conforme confessou posteriormente no poema Pneumotórax, do livro Libertinagem, onde o poeta da Rua da União se tornaria amigo de Paul Éluard, também internado. (Eluard ficou conhecido como um dos expoentes do movimento de vanguarda Dadaísmo). Juntos, ele e Bandeira, liam poemas de Gerard de Nerval, Baudelaire e Apollinaire. Nesse ambiente, creio que Manuel Bandeira teria como se aproximar de Thomas Mann sabendo que a mãe dele era brasileira de Paraty, a senhora Júlia da Silva Mann. (No mais novo lançamento de Teolinda Gersão, a autora portuguesa, minha cara amiga, conta a saga da brasileira em solo alemão).
Se não houve um encontro entre os dois escritores, cabe a um especialista em História e Ficção inventar esse prodigioso acontecer. Tão em uso nas biografias romanceadas, como as que guardo como referencias: a biografia de Lou-Andreas Salomé, escrita pela pernambucana de Garanhuns, Luzilá Gonçalves Ferreira, a de Frida Kalo, feita pela mexicana Rauda Jamis, ambas baseadas nas melhores fontes de documentação.
Marcus Prado – jornalista.