Mestre Zé Guedes

Hoje, creio que pouquíssimas pessoas sabem que quem construiu os jazigos da primeira entrada do Cemitério São Sebastião foi meu bisavô, José Guedes da Costa. E não só, ele também esculpiu os frontispícios do Cemitério e do Mercado de Farinha.

José Guedes era pai de minha avó materna, Natércia Guedes Pereira. Ele morava em frente ao cemitério, onde hoje deve ser uma Casa Funerária que oferece espaço para velar os mortos. Conta, minha mãe, que levava bolacha com café para ele lanchar no canteiro da construção.

José Guedes não tinha formatura em nada e burilava suas obras com a ponta da colher de pedreiro. No braço, estava o caminho entre a intuição e a arte. Foi assim que cinzelou o brasão do Mercado de Farinha, ainda hoje do mesmo jeitinho, porque ninguém saberia refazer a arquitetura tal e qual o Mestre Zé Guedes, com a mesma desenvoltura, a mesma técnica.

Foi no tempo do fogo-fátuo. Minha mãe ficava pastorando o cemitério, escondidinha, para ver as línguas de fogo que saíam das covas. Eu ainda me lembro dessa história que contavam quando era menino lá na Feira das Panelas. A luz era da Pirapama, as ruas ensombradas, e o medo, de caveira, de assombração.

Monumental abraço!

Sosígenes Bittencourt

5 pensou em “Mestre Zé Guedes

  1. Agradeço essas informações a minha genitora, com quem convivo desde que nasci. Passo a vida conversando com meus pais e saio de casa para conversar. Por isso, já me classifiquei como CONVERSÓLOGO. Outrossim, considero que o importante não é conversar, mas registrar a conversa. De sorte que posso ser chamado de CONVERSÓLOGO ao invés de CONVERSADOR.
    Conversado abraço!

  2. Gosto de pessoas idosas, porque me falam sobre aquilo que tem sabor de eternidade. O passado é fonte de inspiração, literatura, arte. Sou do tempo da TEMPORALIDADE, embora viva no tempo da ESPACIALIDADE. Antes, o importante era o tempo; hoje, o importante é o espaço, o momento presente. Vivemos a angústia do ser contingente. Se já é noite, ninguém quer saber do que se passou à tarde. O tempo EM QUE vivemos anda sepultando o tempo QUE vivemos.
    Filosófico abraço.

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